Capítulo XIV - Ela não queria que você lutasse, ela queria que você vivesse

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— Você está aí! — o garoto de óculos redondos caminhou em direção ao amigo que estava vestido com sua armadura e elmo, sentado embaixo de uma sombra fresca. Os passarinhos cantavam e isso fez com que o cavaleiro admirasse a beleza das árvores. — Por favor, espere só um instante. — o garoto retirou algumas sementes da bolsa de couro e colocou na mão do cavaleiro, não demorou muito para que os passarinhos voassem até a mão dele para comerem. — Os pássaros se aproximam da vegetação para obter comida ou para achar um lugar de descanso. Para podermos chamar os pássaros, vamos utilizar as leis da natureza. — um dos passarinhos voou, ficando no topo da cabeça do garoto. — Espere amiguinho, eu não sou poleiro, tampouco alpiste. — o cavaleiro deu risada. — Acha engraçado, não é? Então eu também vou rir. — colocou as mãos na cintura e riu de forma exagerada.

Ele secou as lágrimas dos olhos e ficou em silêncio observando o amigo. O garoto de olhos verdes havia o conhecido há muito tempo e estava ajudando o cavaleiro a se lembrar de onde ele vinha. Havia emprestado a própria armadura para ele, pois a aparência do cavaleiro sofrera bastante, assim como seu corpo, mas a forma como ele lidava com a vida na terra, fazia o rapaz sorrir e manter a esperança. Ele escutou um barulho nos arbustos e uma lebre saiu pulando, porém seu amigo se assustou e esmagou a lebre com os punhos, o que fez ele se entristecer e os pássaros saírem voando.

— É apenas uma lebre, não vai te fazer mal...

— Harry, eu estou com medo. — Harry se aproximou, tocando as mãos do amigo para que ele erguesse.

— Eu vou devolvê-la a floresta. — cobriu o corpo do animal com um pano retirado da bolsa e caminhou para dentro do bosque. O céu nublado denunciando que a chuva estava prestes a cair. Devagar, ele limpou as mãos no pano e logo sentiu os pingos da garoa fraca molhar o seu rosto. Tirou seus óculos com as lentes molhadas e notou uma caverna um pouco mais para frente, ali ele podia se abrigar de forma segura com o amigo. — Eu vou comprar comida quando parar de chover. — falou após acender a fogueira para se aquecerem.

O cavaleiro olhou para a entrada da caverna e admirou a chuva em silêncio, totalmente compenetrado. Percebendo o interesse dele, Harry sorriu e disse:

— A chuva faz parte do processo do ciclo da água. Quando a água se evapora da superfície da terra, ela forma nuvens ao redor da poeira no ar e a água da chuva penetra no solo, formando rios e então, fluindo para o mar. Depois disso, ela sobe novamente em direção ao céu. Tudo no mundo faz parte de um ciclo. Plantas, insetos, assim como os animais. Eles comem outros para sobreviverem e voltam à terra quando morrem. Isso é repetido várias vezes em um ciclo sem fim. Para onde foram os que se desviaram desse caminho? — ficou pensativo enquanto mexia nas lenhas da fogueira.

— Livro... — o cavaleiro chamou a atenção de Harry.

— Ah... Isso mesmo. — sorriu e as covinhas de suas bochechas apareceram. Ele se curvou para pegar sua bolsa, retirando vários livros que comprou em Mahina. — Qual livro você gostaria de ler? — empilhou vários em suas mãos, numa pose bem animada. — Pulsação Sombria, Lembranças das Trevas ou A Justiça Dela.

— Os poemas antigos de Britannia. — Harry de forma risonha, respondeu:

— Você realmente adora esse livro, não é? — o cavaleiro assentiu. Harry folheou algumas páginas, mas algo em sua mente o fez parar. — Essa situação... Eu leio um livro e você ouve... Você fica feliz e eu aprendo alguma coisa! Você e eu também fazemos parte de um ciclo! — se levantou eufórico. — Eu nunca vi isso escrito em lugar nenhum, é uma nova descoberta! — o cavaleiro não falou nada, apenas ficou observando Harry que se sentou cruzando as pernas em forma de índio, olhando para a fogueira. — Pois é, você tem razão. Mas essa é uma hipótese bem atraente. Pelo menos, ela me atrai bastante. — o silêncio perpetuou por alguns segundos, apenas o barulho do fogo estalando a madeira preenchia o local. Harry voltou a olhar para seu amigo e sorriu. — Obrigado, eu aprendi mais uma coisa. É muito esclarecedor estar com você.

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