Coração em Budapeste

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Desde pequena meu sonho era ir viajar o mundo e conhecer as singularidades de cada local e cultura. Durante alguns anos eu trabalhei sem descanso pra poder realizar isso. E bem, em meados de 2017 eu fiz minha primeira viagem internacional. Poder entrar no avião, ver ele decolando e me sentir nas alturas, foram sensações que se eu fosse descrever com uma palavra seria: Liberdade.

Passeando pelo hotel em Budapeste, capital da Hungria, eu avistei um café antigo. A decoração era impecável, me fez viajar para 1800 e querer permanecer ali. Os detalhes dourados nas paredes, as formas que o gesso foi trabalhado naquele época e a luz dos candelabros antigos eram de beleza rara. Pensei em quantas histórias se passaram ali, quando vi alguns casais antigos, compartilhando lembranças de suas juventudes e amores.

Todos os dias de minha viagem eu entrava, me sentava e pedia um Strudel House-Reteshaz e um café preto. Certa noite estava frio demais para uma noite de verão. As ruas molhadas devido a chuva. As pessoas voltando de seus trabalhos. E os jovens saindo para mais uma madrugada de libertinagem.

A melodia do piano começou a tocar e uma doce voz me atraiu. E lá estava você, com aquele sorriso inescapável. Você cantava junto da banda a música Creep, com tanto sentimento e devoção. Meus olhos se cegaram para o mundo que nos cercava e tudo o que eu via era você. Com um vestido verde-musgo que iam até os joelhos, os colares de pérolas e os saltos pretos, te davam um ar de cantora de 1920. Naquele pequeno palco, você se transformou e algo me dizia pra fechar os olhos. Por que como um eclipse, você me cegou. Eu só despertei quando ouvi os aplausos e assobios do público ali presente.

Após a música acabar, você se sentou em uma das mesas próximas e seus amigos estavam rindo de algo que falava, mas isso não me interessava, por que eu me perdi na imensidão dos seus olhos, negros como jabuticabas e grandes como se coubessem todos os segredos do universo. Sua pele pálida fazia contraste com os cabelos pretos e o batom vermelho. Sua risada sumiu quando percebeu que eu a fitava.

O seu maldito sorriso, tão branco quanto a neve, seus dentes separados que te davam um ar inocente e a fumaça que escapava de seus lábios me prenderam. Mas quando caminhou até o bar onde eu estava, me virei com...Medo talvez?! Eu não sei. Mas ao ouvir aquele sotaque falando inglês, meu coração errou as batidas e eu sorri junto de ti.

No dia seguinte fomos ao Parque Városliget e eu posso dizer que foi um dos melhores dias da minha vida. O sol aquecendo nossa pele, a grama verde e fofa servindo de repouso e a sombra das arvores. Cravar nossas inicias em uma árvore, como um casal apaixonado. Você me contando seus segredos e eu compartilhando meus medos. Correr pelos corredores do Castelo Vajdahunyad, andar de barco e assistir o por do sol no lago, parecia coisa de livro e em vez de temer o final, eu aproveitei cada momento ali. Eu tirei uma foto sua enquanto observava as cores do céu brincarem com as cores do lago. Ali eu pude eternizar minha melhor viagem.

Na noite, você me levou um clube escondido onde para entrar tinha uma senha, a qual eu nunca soube. O blues tocando ao fundo, nossos corpos balançando ao som do saxofone, nossas risadas se misturavam a voz da vocalista. Nossos lábios explorando e criando como se fosse uma língua, um idioma só nosso. O gosto do Whisky e cigarro de cravo me fizeram perder o controle. E seu cheiro, me deixou completamente chapada. Seus toques me fizeram sentir como uma escultura sendo tratada pelo seu artista.

É estranho, sabe? Eu me perguntava como alguém pode te fazer se sentir a coisa mais preciosa e leve do mundo. Mas depois de três anos, eu parei de tentar entender e passei a somente sentir. Uma das fotos que tirei sua, com os cabelos bagunçados, o batom carmim borrado, um cigarro preto entre os dedos e a fumaça ao redor, faz decoração na parede de meu quarto.

Eu me sentia como uma aberração, achava que minha forma de amar era errada. Mas você apareceu como um anjo, leve como uma pluma e me mostrou o contrario. Eu não era uma aberração, me mostrou que eu era especial, que eu era capaz de fazer qualquer coisa. E você estava certa. Eu sou grata por cada momento que passamos juntas. Cada segredo. Cada confissão. Cada toque.

Eu passei quinze dias em Budapeste. Em quinze dias, eu conheci pessoas novas. Em quinze dias, eu provei comidas estranhas a mim. Eu passei três dias com você. Em três dias, você roubou meu coração. Em três dias, eu fui amada. Eu deixei meu coração em Budapeste. E você deixou uma marca em mim, a qual eu não luto para tirar.

Então, obrigada por me amar e a me ensinar como me amar.

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