Um grupo de leões, durante a caça, sempre procura a zebra mais fraca: doente, manca, ou assustada demais para correr. Mordem-na, mastigam-na, engolem-na. Não precisam pensar para fazê-lo, a decisão é inata. Inconscientemente o predador mata sua presa, alimenta-se e procria; quem sabe beneficie-se da seleção natural.
Já nós, humanos, gostamos de pensar que somos melhores que as outras criaturas: construímos nossos prédios e computadores, sempre tentando reafirmar a racionalidade e o controle que, supostamente, nos dá status de ser transcendental sobre todos os outros animais. Mas nos momentos de sangue quente, quando desejamos ser maus e obter prazer na nossa própria crueldade, escolhemos a zebra mais fraca. Nossos grupos de três a quatro indivíduos sempre atacam a que está assustada demais para correr ou escoicear. Qualquer outra escapa, observando a menor ser alvo da fome de maldade humana. O leão alimenta-se, desloca-se, procria. Por fim, julga-se rei de si: sequer imagina o quão animalesca a sua tão amada humanidade é.
Comentário do autor: texto antigo, escrito lá pelos meus dezesseis anos. Não menos visceral que qualquer um dos presentes aqui. No fundo, fala sobre bullying. Na superfície, sobre violência em geral; Mais no fundo ainda, fala sobre o medo que eu tinha da minha própria história.