Fico aqui. Cássia Eller tocando no aleatório, um cigarro atrás do outro, esse chão tão frio e tão duro. Não sou poeta, e, quer bem ou quer mal, aprendi a amar.
Penso num capítulo de livro violento, vivo uma história, e estou no mesmo lugar. Lembro-me da minha infância e adolescência. Os dias passam de dois em dois, de três em três, e porra, já é dia 12 – eu nem sei quando começou o ano. Eu nem sei mais quando me tornei o que sou, se foi naquele dia ou naquele outro, se foi com aquela palavra ou aquela ligação. Se foi naquela festa, naquele bar de velho, naquele tragar de beck ruim. Eu nem sei quando comecei a fumar tanto, quando comecei e parei de beber, quantas vezes fodi no último mês. Eu nem sei mais se penso, se sei, se sou inteligente – já nem sei mais se sou bom no que mais gosto. Já não sei mais, já não penso mais, e sinto essa imaturidade onde sou julgado. Onde me julgo nas horas nas quais não faço nada. Onde me vejo no espelho com esses olhos que já foram doces, já foram duros, já foram desesperados. Lembro-me de soco na cara na aula de boxe, de frases em espanhol anotadas num caderno, de francês na chamada de vídeo. Me lembro da ideia da morte e ela me mata por alguns minutos. E o tempo não passa. E passa, e passa e passa. E quando acabar esse semestre, quando acontecer aquela viagem, aquele encontro, quem serei? E quando chegar o fim de semana, o que serei? Quando magoar alguém, quem, finalmente, serei eu? Se não sei me traçar em papel fino agora, como poderei em poucos meses me definir?
Se sou romântico, se sou Bukowski ou Fernando Pessoa, se sou Drummond ou RR. Martin, se sou Ipatinguense, se gosto das noites ou as detesto, se como mal e me sinto culpado, se em alguns dias me sinto belo, em outros me sinto desmanchado como massa queimando no sol.
Se alguns dias peito e enfrento o mundo, se em outros só quero aquele jardim, aquela casa, aquele cachorro...
O tempo passa, e passa e não passa.
Qu'est- ce donc que je suis?
