Capítulo 8

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"Em todas as vezes que eu tentei não ser eu mesmo as pessoas me amaram.

Menos excêntrico, menos criativo, menos imaginativo, menos falante, menos eu.

E todas a vezes que eu fui eu, me olharam como estranho, como se eu não tivesse que estar alí.
Quando eu não ria das piadas adolescentes que não tinham graça, quando eu não odiava o que todo mundo odiava ou quando eu não gostava do que todo mundo gostava. Quando por alguns minutos meus olhos se desligavam do mundo e minha mente seguia para um universo distante. Quando eu falava empolgadamente das histórias incríveis que tinha lido. Quando eu era culpado de coisas que eu nunca fiz. Quando eu fui diagnosticado... porque é assim que acontece. Se você não é igual ao que está a sua direita ou esquerda, então você tem um transtorno.

E eu quase acreditei nisso.

Estranho pensar que as pessoas se submetem a ser coisas que elas não são, se suprimem e tentam apagar a si próprio. Eu tentei fazer isso, mas não deu certo, não tem como fugir de você mesmo, nem depois da morte. Então eu recolhi todos os pedaços que eu mesmo quebrei quando tentei me dissipar, me juntei e comecei a ser eu mesmo, mas sozinho, em um lugar onde não incomodasse ninguém. E sabe, eu não tenho esperança nenhuma de que um dia eu vou encontrar alguém que me suporte, que não me ache esquisito e que não pense que sou louco e insuportável por falar tanto. Mas tudo bem, eu posso sobreviver."

...

Hoseok estava deitado, com seu gravador na mão, escutando aquele áudio que havia gravado à um ano atrás.
Ele sorria agora, porquê naquela época ele pensava que nunca acharia alguém com quem ele pudesse ser ele mesmo, do jeitinho que ele é.

Então ele achou um farol brilhando incandescente, quando estava perdido no meio do mar. Sabe o quão desesperador é estar sozinho no meio do oceano e só ver água por toda a parte? E então finalmente você vê aquela grande torre com aquela luz ofuscante dizendo; "Olha eu to aqui, é só vir." Você descobre que vai viver.

Talvez seja uma pouco clichê dizer isso, mas isso aqui é clichê, então... mas o que eu quero dizer é que, ele sorria agora porque quando desatava a falar e dizia coisas, - inúteis para a maioria das pessoas - quando era imprevisível e ele próprio não entendia suas razões, quando era espontâneo, quando era encantado, quando era ele mesmo perto de Jungkook, não via a repulsa e o tédio que sempre percebia nos olhos dos outros. Nos olhos de Jungkook, ele via encanto, e isso o deixava tão feliz. Era como finalmente ser aceito.

O sol estava quase se pondo, e Hoseok continuava deitado na cama, pensando nas questões do porque de ainda estar alí. Não havia ido visitar Jungkook como fazia nos últimos dias. Ele estava com um pouco de vergonha, tinha que admitir. Mas era um pouco vergonhoso, não? Quer dizer, ele nunca tinha feito algo como aquilo. Era controverso, pois estava ansioso em encontra-lo novamente, mas também sentia vergonha porque olharia nos olhos dele e as coisas que fizeram a beira de uma cachoeira, invadiriam sua mente.
Mas seria inevitável falar com ele. Por exemplo agora, estaria indo para aula, e encontraria Jungkook. Também não é como se ele não quisesse nunca mais ver ele, só queria esperar sua vergonha iminente passar.

Lá no fundo, ele sentia que estava sendo um pouco dramático. Mas era bem lá no fundo mesmo.

Hoseok finalmente levantou da cama, foi até a janela aberta de seu quarto e sentiu o vento gelado bagunçar seus cabelos.

- Outono e seus extremos...

Respirou fundo sentindo aquela brisa gelada do começo do cair da noite, o céu escurecia aos poucos e não faltava nada para o dia sumir de uma vez e as estrelas se tornarem visíveis diante da noite. Seu celular despertou, anunciando que era hora de se arrumar. Mas ele não saiu do lugar. Começou a bater o dedos contra a soleira de madeira da janela no ritmo lento da música acústica que ainda tocava no celular, e sua voz acompanhou a música.

Entre Tintas e Flores | HopekookOnde histórias criam vida. Descubra agora