Epílogo

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Durante esses dois anos, minha vida tem sido um tanto estressante. Tanto os estudos na faculdade do Chile, que eu terminei há alguns meses, como minha mudança repentina de país no mês passado.
É, eu meio que voltei a fazer parte da sociedade americana, na Califórnia onde eu nasci.

Minha faculdade durou dois anos por ser apenas para conceitos básicos da dança, porque eu faria aulas mais avançadas daqui pra frente. Eu poderia ter feito a faculdade aqui nos EUA, sem problema algum. Mas no Chile eu pude aprender muitas coisas, ao mesmo tempo que pude conhecer um lugar novo, pessoas novas, uma linguagem nova e poder carregar comigo todas essas memórias maravilhosas.

Enfim, hoje é dia nove de agosto de dois mil e vinte e dois, meu aniversário. Eu finalmente estou completando meus dezenove anos, e eu aguardei ansiosamente por esse dia.

- Tem certeza de que não podemos ir outro dia? - Minha mãe se senta na ponta da minha cama. - Podemos ir todos juntos amanhã! - Ela abre um sorriso.

Há um motivo pelo qual eu aguardei ansiosamente pelo dia de hoje: Seria a inauguração do novo teatro da Califórnia, um bem parecido com o que eu fui no Chile uma vez. O problema é que ele era localizado em outra cidade, que não era tão longe.

Para minha mãe eu ainda sou uma criança, mesmo completando dezenove hoje.
Ela tinha medo de que algo acontecesse, afinal é a primeira vez que eu saio para outra cidade sem estar acompanhada de alguém.

- Mãe! - Me sento ao seu lado. - Eu esperei uma semana para que hoje finalmente chegasse. Aliás, eu já estou bem grandinha para saber me cuidar sozinha. - ela sorri, e eu retribuo, voltando ao espelho para arrumar meus cabelos. - Como está o papai?

- A mesma coisa de sempre. - Ela da de ombros, vindo até mim. - Tem certeza de que vai ficar bem?

- Tenho sim. - Abro um sorriso amigável, recebendo um beijo na bochecha.

- Tudo bem, então. Quero que se divirta bastante. - Ela segura minhas mãos.

Assenti, enquanto preparava minha bolsa com algumas coisas necessárias. Visto meu casaco jeans, juntamente dos meus tênis. Eu ainda não havia me acostumado com o clima quente daqui, depois de tanto tempo vivendo sob a neve e os menos dois graus.

Minha mãe me acompanha até o elevador do prédio, onde se tornou minha mais nova casa. Eu não poderia ter quase vinte anos e ainda estar morando com meus pais. Mas ainda assim, eles moravam há alguns quarteirões de mim. E minha mãe me visitava sempre que podia, já que meu pai estava sempre ocupado com o trabalho.

- Eu vou ficar bem, e mande um beijo pro papai. - Aviso assim que começo a seguir um caminho diferente da minha mãe.

Começo a caminhar pelas ruas ensolaradas da Califórnia, mais especificamente de Los Angeles, seguindo até a estação onde passam os metrôs. Eu sentia falta de caminhar pelas ruas cobertas de neve,  mesmo que façam apenas algumas semanadas desde que resolvemos vir pra cá. Eu sempre gostei mais do frio, e estava acostumada a ver neve por todo lado.

Ainda é estranho estar de volta, mesmo que eu tenha passado a metade da minha vida aqui. Eu sentia que parte de mim ainda queria estar no Chile, mas a outra alegava que voltar seria a melhor opção.

Atravesso os grandes portões do teatro, vendo um tanto de pessoas considerável formando uma fila, logo na entrada. Mas assim que paro atrás de uma moça loira, todos começam a entrar.
Agradeço mentalmente por não ter de ficar mais de meia hora esperando em pé, já que eu estava todo esse tempo adiantada.

Entrego meu ingresso para um garoto na cabine, logo passando por ele e indo em direção a parte de comida, onde consegui pipocas com o ticket que vinha junto com o ingresso. Logo entro na sala principal, pegando o melhor lugar, no meio. O meio sempre foi meu lugar favorito para me sentar no teatro, tinha uma visão ampla de tudo, já que eu gostava de observar e poder enteder tudo que se passava no palco.

Afasto meus pensamentos quando as luzes se apagam, dando destaque apenas no grande palco. Faço uma nota mental sobre quando chegar em meu apartamento, riscar da minha nova lista: ir ao teatro true colors. E sim, era um espetáculo clichê, porque eu sempre fui viciada em clichês.

***

Me levanto, pegando minha jaqueta jeans que estava pendurada na cadeira, com um enorme sorriso no rosto. Esse com certeza foi um dos meus teatros preferidos.

Tento passar por uma grande quantidade de pessoas que tentavam entrar, para assistir o segundo espetáculo. Acredito que muitas delas estavam no lugar errado, pois eu tinha certeza que ali era o espaço em que as pessoas de dentro saíam, e não que as pessoas de fora entravam.
Mas tudo bem, depois de alguns minutos lutando para não empurrar todo mundo, eu consegui sair.

O sol já estava se pondo quando comecei a andar de volta para casa, e eu agradeci por ter pegado a sessão do fim da tarde, ou eu teria ficado super irritada com o fato de ter que andar debaixo do sol quente.

- Que droga! - Digo quase num sussurro, assim que vasculho minha bolsa a procura da minha passagem assim que chego na estação.

Sem sucesso.

Eu sabia que a única maneira de voltar para meu apartamento, além dos metrôs, seriam os táxis. Eu gostaria de poder evitá-los o máximo que pudesse, pois eles demoram mais de quinze minutos para chegar e ainda cobram muito caro. Mas era minha única chance, se não quisesse passar a noite na rua.

Respiro fundo antes de começar a voltar para o ponto de táxi, que ficava á alguns metros da estação. Nesse momento eu já me encontrava irritada, simplesmente por essa ser a terceira coisa que dá errado no meu aniversário.

Já faziam exatos dez minutos que estou ao lado de um grupo de amigos chatos que não param de cochichar, esperando por um táxi. Olho em volta, na quinta tentativa de achar um táxi se aproximando.

Mas assim que bato os olhos em uma lanchonete, eu vejo algo que nunca imaginaria presenciar. Ou melhor, alguém.
No segundo em que seus olhos encontraram os meus, senti como se meu coração tivesse parado, ao mesmo tempo que minhas pernas e mãos estavam tremendo.
Meus olhos permaneceram nos seus, enquanto ele fazia o mesmo com um saco de batatinhas nas mãos.
Minha respiração acelerou, no instante que meus olhos lacrimejaram.
Ele sorriu.
Eu sorri também.
Em momento algum, meus olhos desviaram dos seus.
O táxi chegou, mas eu não me importei. Nada mais importava no momento.
Eu não podia acreditar, mas tinha certeza de que já faziam mais de dois minutos que acontecia uma troca de olhares com ele.
Com Noah Jacob Urrea.













ᴀʟʟ ᴡᴇ ʜᴀᴠᴇ ʟᴇғᴛ ❃ ɴᴏᴀʜ ᴜʀʀᴇᴀOnde histórias criam vida. Descubra agora