17. meu primeiro eu

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Totalmente tímida, não dava um piu
e aguentava todo mundo perguntando
cadê sua língua, sumiu?
Fazia trabalhos sempre sozinha,
bons o bastante para me livrar de apresentações
Estudar, ler, dormir, comer, ser isolada
e estudar mais eram minhas únicas ações
Em casa estava tudo bem,
a vida parecia perfeita,
já nos corredores atrás das salas de aula
a dor era certeira
Todo santo dia, naquela parede dura
era encurralada e ouvia como eu era terrível,
inútil, horrenda, desprezível
e muito mais nas palavras de crianças

Uma manhã eu cansei
acordei e me levantei
Decidi lutar

Na hora do intervalo fiquei no pátio
e quando pensei que não
alguém me agarrou pelo braço
e me levou até um lugar escondido,
começou a gritar coisas terríveis no meu ouvido
e o meu limite foi atingido
quando ousou tocar a mão no meu rosto
Segurei seu pulso, chutei sua perna
e disse que aquela era a última vez em que eu permitiria que tirassem sarro de mim
Quebrei seu braço e nunca mais
pessoa alguma foi capaz de me atingir

Foi assim que agredi alguém pela primeira e última vez,
indo direto ao meu segundo eu

Dizeres da MadrugadaOnde histórias criam vida. Descubra agora