• 5

252 4 0
                                    

Nunca me senti tão plena e tão realizada desde o dia em que Sofia nasceu. Já lá vai um ano e dois meses.
Hoje olho-me ao espelho e vejo outra pessoa, sinto-me mais forte e firme nas minhas decisões. Esta viagem da maternidade obrigou-me a crescer mais do que se espera de uma menina de vinte e três anos. Ser mãe tornou-me uma mulher, deixei de olhar apenas para o meu mundo para começar a olhar primeiro para o mundo da minha bebé.
Mentiria se dissesse que este ano foi fácil, porque não foi de todo. No entanto, aceitava passar por tudo de novo, as dores do parto, as noites mal dormidas, ter a mente sempre ligada, ter restinhos de comida, banana, iogurte, leite, baba e ranho na minha roupa onde quer que eu vá.
Estar sempre acompanhada, não importa onde esteja. Carregar o carrinho de bebé no colo nas escadas. A minha mala transformou-se numa loja infantil, cheia de fraldas, naninhas e brinquedos, e o meu tema de conversa principal gira em torno de cólicas, diarreia e dentes a nascer.
Continuo a sorrir mesmo cansada, porque ao fim ao cabo, sou abençoada por este presente que a vida me deu.

Acabo de deixar Sofia na creche, hoje foi um martírio para faze-la ficar.
Esteve a semana toda doente em casa e, por isso, custou-lhe mais deixar-me ir embora.

Hoje tenho uma entrevista de emprego no Ocean Palace, um dos maiores e melhores hotéis da zona.
Amy conseguiu-me uma entrevista através de uma amiga da sogra, que tem conhecimentos dentro do hotel. Ao que parece pagam muito bem mas são bastante exigentes no que toca ao pessoal que empregam.

São 10:35h. A entrevista é as 11:00h, tenho exatamente 25 minutos para lá chegar, tarefa nada fácil devido ao trânsito e ao tempo que demorei a deixar a Sofia na creche.

Boa, que impressão vou causar a chegar atrasada logo no dia da entrevista?

Vi-me tramada para arranjar estacionamento, mas finalmente uma alma caridosa nas traseiras do hotel decidiu vagar o lugar.
São 10:55h. Vou a correr até à entrada do hotel, depois de alguns tropeços, empurrões e pedidos de desculpa entro finalmente no Ocean Palace.
Bem a tempo, batem agora 11:00h.
Dirigi-me à receção e informam-me que tenho de aguardar no último piso, agradeço apressadamente e sigo igualmente até ao elevador, que parece levar uma eternidade a chegar ao topo do edifício.
Quando a porta se abre, deparo-me com uma loira alta e bem vestida que me encara com um sorriso afável.

-Bom dia, sou a Serena Waldorf, secretaria do dono e gerente do Ocean Palace Hotel, e a senhora é...?

-Carol Pierce, vim para uma entrevista. Peço desculpa pelo meu pequeno atraso.

Estou nervosa, os meus joelhos tremem como se estivesse a andar numa corda bamba. Eu preciso deste emprego.

-Senhora Pierce, acompanhe-me.

Segui a secretaria até uma sala, ela dá três batidas na porta.

-Com licença, senhor. A próxima candidata à vaga está aqui.

-Mande-a entrar. -Uma voz grossa do outro lado da sala anunciou.

-Com certeza. Senhora Pierce, pode entrar.

-C-com licença. -Esbofeteei-me mentalmente por ter gaguejado.

-Sente-se, senhora...

-Pierce. - Cortei-o. - Carol Pierce.

-Que idade tem?

-Tenho vinte e três.

-Já tem experiência na área, certo? Estou a ver no seu currículo que cursou línguas e hotelaria com estágios profissionais.

-Sim. Trabalhava aos fins de semana num restaurante enquanto estudava, estagiei em vários hotéis e resorts e quando terminei os estudos comecei a trabalhar num restaurante a tempo inteiro, até hoje.

-Estou a ver. E fala espanhol fluente?

-Sim.

-Está contratada.

-C-como assim? - Outra vez a gaguejar, controla-te Carol.

-Está contratada, começa quarta feira.

-Não sei como agradecer, obrigado senhor... - Sou tão idiota, qual é o nome dele mesmo?

-Scofield. Michael Scofield.

-Certo. Muito obrigada, senhor Scofield. - Agradeço já levantando-me.

-Eu tenho cara de velho? - Levantou-se vindo até mim.

-Ahm, não, claro que não. - Respondo dando passos para trás, a cada passo que dou, ele dá outro, até que fico entre ele e a porta.

-Não quero que me trate por senhor, pode ser? É Michael, ou Scofield tanto faz.

-Sim. - Respondo quase num murmúrio.

-Não consegui ouvir. Entendeu?

-Sim, Scofield. - Falo mais alto olhando-o nos olhos.

-Muito bem, vejo-a na quarta.

-Sim senh... Quer dizer, Michael. - Corrijo constrangida.

-Foi um prazer, menina Pierce. - Ele vira as costas e dirige-se novamente ao seu assento.

-É Carol, por favor. Apenas Carol.

Michael solta um sorriso e apenas assente com a cabeça.
Apresso-me a virar-me e sair porta forta.

Ora bolas, o que foi isto? Este é que é o dono?
Confesso que na minha cabeça tinha criado uma imagem um quanto diferente: Um homem quase cinquentão, com bigode e de cachimbo na mão com as pernas cruzadas sobre a mesa. Talvez um pouco barrigudo. Mas ao invés disso, saiu-me dali um rapaz pouco mais velho do que eu, com um físico extremamente elegante e vistoso. Não pude deixar de reparar no olhar azul e profundo, eu diria que uma postura charmosa com uma dose de intimidante.
Agora percebo o porquê deste hotel atrair tantas turistas espanholas, elas ficam loucas com um moreno musculado de olhos claros.
Não nego que o rapaz seja atraente, mas ao que pareceu, tem tanto de atraente como de autoritário.

Só espero que corra bem, ainda não caí em mim que fiquei com o emprego.
Tenho de ligar para a Amy a contar a boa notícia.

-Estou, Amy? Não vais acreditar, estou oficialmente contratada.

-Não posso, estás a brincar? Ai, que bom priminha! Tens noção do quão difícil é conseguir uma vaga nesse hotel? Parabéns!

-Pois, mas foi estranho.

-Estranho porquê?

-O dono. Não sei, a postura dele... Deixou-me um pouco desconfortável.

-Como desconfortável?

-Sei lá... Era um ambiente nitidamente rico e formal, mas ele quis que o trata-se pelo primeiro nome. Fez-me duas ou três perguntas e ofereceu-me o trabalho.

-Ah, estou a ver. Cedeste ao charme do Michael Scofield. Ele é um pão, não é?

-Tu conheces?

-Claro que sei quem é, hello! Ele aparece numa data de revistas a dar entrevistas sobre os negócios da família. - Amy falou num tom que só faltou chamar-me de ingorante.

-Lamento se não tenho por hábito ler revistas querida prima, não é bem o meu género.

-Mas um Scofield é o género universal. -A minha prima ri.

-Amy! - Reclamo. - Começo a trabalhar depois de amanhã.

-Já? És a maior! Boa sorte prima linda.

-Obrigada, tenho de ir. Ainda tenho de passar no restaurante para entregar a carta de despedimento e fiquei de ir almoçar a casa da avó hoje.

Desligo a chamada e faço-me à estrada a caminho do restaurante. Sei que me vai custar abandonar o trabalho que durante tanto tempo foi a minha segunda casa. Levo colegas de trabalho e experiências incríveis que guardo com um enorme carinho.
Mas não podia recusar esta oportunidade, apesar de gostar muito de trabalhar no restaurante, vou ganhar o dobro no hotel, para além de que a vaga à qual me candidatei é para fazer apenas os turnos do dia, o que é ótimo pois não tenho de deixar a Sofia com a minha mãe ou os padrinhos à noite.

• Sweet changes • || Michael Scofield Onde histórias criam vida. Descubra agora