O Vampiro, O Tigre e O Dragão

Minha casa foi invadida por um príncipe?

Dias atuais

  Nós andávamos rápido, tensas, e então... Então o frio circundou à minha volta e a deusa saiu com um solavanco de mim e sussurrou trêmula:

 — Corre! Corre e me siga!

  Ela saiu em disparada e eu corri atrás sem pensar. Mal via as portas que passavam por nós, não era habituada a correr, então senti meu corpo reclamar, porém quando ouvi um ruído horripilante e um rosnar ansioso me lembrei dos cachorros meio loucos que havia na minha vizinhança quando criança, eles faziam ruídos como aquele quando iam atacar. Um segundo depois eu avancei como louca ao lado de Tuthi, que olhava para os lados como se procurasse algo que só ela podia ver, para mim eram todos corredores. Um uivo ecoou pelas paredes e eu ofeguei, ouvi um galope vindo para nós e pensei que iria gritar, minha imaginação queria se certificar do que era, mas eu me recusei a olhar para trás. Contudo, o que eu menos esperava se abateu sobre nós.

  Tuthi parou e eu fui quase adiante dela, para bater com a cara na parede.

— Um corredor sem saída? — Eu olhei para ela quase histérica, não era emotiva, mas até então não tinha tido um animal em minha perseguição.

— Eles me enganaram, embotaram minha visão, foi planejado. — Ela arquejava e o medo em seus olhos passou para os meus também. O silêncio voltou e nós viramos juntas para o corredor.

   Dois lobos imensos, negros e de olhos amarelos nos encaravam. Eu gemi, eram piores do que os cães da minha infância e, bem, eu sabia, ainda que quisesse desacreditar que não eram simples cachorros.

— Finalmente. — A voz era selvagem, mais para um ruído gutural do que voz, porém eu pude compreendê-la bem. O lobo maior deu um passo à frente e encarou meus olhos: — Você é a humana do bar, eu sabia que estava envolvida, seu cheiro era puro demais para estar como uma simples frequentadora. Terei prazer em ensinar boas maneiras a você, humanas sem marca não entram nas restrições.

— Realmente estamos com sorte, temos a pestinha e uma humana para nos alimentar. Muito prazeroso. — O outro lobo escancarou a boca em um sorriso animal e violento e eu tremi apavorada.

  Não precisava pensar muito no que eles queriam de mim e sabia bem que eu não iria aceitar... Embora com medo, uma revolta surgiu dentro de mim, eu não tinha saído de casa para virar comida de lobos maus, não de boa vontade!

  Segurei a mão de Tuthi, que tremia mais do que eu. Pelo jeito ela não podia nos ajudar, ela era uma deusa, mas era jovem e inexperiente. A ideia de proteção tomou conta de mim, eles não iam feri-la, não comigo viva, e que os céus me ajudassem porque eu estava com um rompante de suicídio e dessa vez não seria minha depressão a culpada!

— Vocês não vão machucá-la!

— E quem vai nos impedir? Você? — A voz do lobo maior soou cínica e eu dei um passo para frente. Morrer por uma causa justa era melhor do que entupida de chocolate, não era?

— Não estou vendo ninguém mais por aqui, seu cachorro idiota!

  Os olhos deles imediatamente dilataram e um uivo selvagem saiu de sua bocarra assustadora. Ele saltou para mim com a rapidez de um gato e eu por reflexo virei de costas e joguei a deusa no chão, a cobrindo com meu corpo. Eu não era grande, mas ela era menor do que eu, ainda bem, e quando nos estatelamos no chão outro ruído penetrou em meus ouvidos antes que meu corpo sentisse.