O Vampiro, O Tigre e O Dragão

Mudanças

— Sério, Ell, estou morrendo de curiosidade aqui. - A voz de Nina ansiosa chegou até mim vindo de longe, mesmo eu sabendo que ela estava ao meu lado no sofá em C da sala principal na minha casa.

Fazia duas semanas exatas do meu casamento.

Eu já estava na minha casa em Istambul, onde seria minha residência fixa, e por enquanto todos os meus maridos ainda estavam comigo, mas eu sabia que os três iam se alternar ali já que deveres em seus próprios reinos e mundos ocupavam parte de suas vidas e por mim estava tudo bem, mesmo. Aquele era meu mundo agora, e eu o aceitava como era.

Eu era a mulher de três homens bem ocupados, no fim.

Mas não era exatamente por isso que eu estava um pouco elétrica naquele momento.

Duas semanas apenas, e eu não podia acreditar no que meu corpo sentia. Precisava falar com alguém e Nina foi o primeiro nome em minha mente. O razoável seria conversar sobre aquilo com uma das rainhas, mas eu não era tão íntima delas ainda, como era das princesas, e a irmã de Lay, abençoada fosse, não fez uma só pergunta quando liguei para ela e pedi que viesse para minha casa, mesmo isso sendo contra as tradições, os recém-casados tinham vinte dias de isolamento e ninguém nesse período os visitava, a não ser em casos extremos. Ainda mais durante o dia e principalmente escondido.

Eu tinha me mudado há dois dias e foi nesses dias que comecei a notar as estranhezas em mim. Ali, na casa de Istambul, apenas o caseiro, a mulher do caseiro e suas duas filhas estavam na casa, além de mim e meus três maridos. Sabia que na semana que vem nosso isolamento terminava, os meninos iriam para suas responsabilidades e todo mundo viria para conhecer minha casa nova.

Eu precisava estar bem, estar centrada, mas não estaria até que entendesse direito o que estava acontecendo. Minhas suspeitas precisavam obter respostas.

— Ell? - ela perguntou, começando a se preocupar. Respirei fundo.

— Me desculpa, Nina, minha cabeça está cheia de coisas agora.

— E foi por essas coisas que me chamou secretamente aqui?

— Na verdade eu precisava falar com alguém, alguma mulher que entendesse disso, não quero preocupar os meninos se for só impressão minha... Pode ser loucura, sei lá. Eu sei que você não vai me julgar. Mesmo eu tendo te tirado do sono logo de manhã...

— Eu vou sobreviver - ela brincou e então estreitou os olhos. — Nunca vou te julgar, Ell, nunca mesmo. Você pode me dizer qualquer coisa.

— Bem... Eu acho que estou grávida, mas deve ser loucura da minha mente, estou tendo enjoos nos dois últimos dias, mal-estar e ando chorando sem motivo, mas só faz duas semanas que me casei, isso não faz sentido! É humanamente impossível. Aliás, eu engordei, minhas calças não me servem mais, minha cintura está maior, isso é loucura, ninguém ganha cintura do dia para noite assim.

Eu estremeci e Nina ficou em silêncio. De repente ela me abraçou e riu baixinho:

— Devíamos ter te dito, não é? Você mal entrou no nosso mundo e deixamos um detalhe importante de lado. Ell, noturnos não são humanos, a gestação é bem mais curta, eu nasci com quatro meses de gravidez. Nós crescemos rápido também até chegar à puberdade. Daí o relógio vira e passamos a envelhecer bem lentamente. Não pensei em dizer a você porque bebês entre os noturnos não são comuns, os machos de todas as raças demoram um bom tempo para engravidar suas consortes, e as mulheres em geral não são muito férteis. É estranho você ter engravidado tão rápido, mas não impossível. Se engravidou nas suas núpcias, então, ao invés de uma semana, uma semana e meia, que seria o normal da gravidez humana, você está mais ou menos com o equivalente a quase um mês.