Farol

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Estava escuro, havia a floresta seca e nublada. Estava frio e eu estava usando apenas uma fina camisola branca. O silêncio era pesado, meu medo também. Algo se movimentou entre as árvores e surgiu em meu campo de visão. Uma mulher alta, loira e esguia caminhou até onde eu estava, mas não se focou em mim, era como se eu não existisse, ela atravessou meu corpo e parou alguns passos atrás de mim. Seus olhos eram negros e frios, sua pele estava iluminada por um tênue brilho roxo. Ela murmurava palavras incompreensíveis olhando as árvores em sua frente. Eu me senti estranha, mas não me mexi, apenas virei meu corpo para voltar a vê-la agora de costas para mim. Ela ergueu os braços e um vendaval começou, ela abaixou as mãos e o vento se tornou um redemoinho que tomou corpo e sumiu tão rápido quanto apareceu. Outro movimento surgiu entre as árvores, me foquei em quem surgia, mas de tudo o que eu esperava jamais seria Lay, adentrando no local com o rosto transtornado pela raiva, seus caninos estavam brilhantes e fora de seus lábios amedrontadores, sua face era mortífera, ele encarava a mulher com olhos letais, seu corpo parecia maior e as mãos traziam unhas afiadas em posição de ataque, ele respirava lento, mas caminhava como um predador pronto para atacar na menor oportunidade.

  Eu ofeguei, aquele não era meu Lay e, no entanto, era ele! Ele como era realmente, um vampiro em todos os poros, eu sabia que era essa a face de predador que ele controlava tão perfeitamente de mim, até mesmo ao me tomar para si apenas uma fração de sua natureza se descortinou aos meus olhos e embora eu soubesse com o coração que ele jamais me olharia com aquele olhar, eu temi pela mulher, ela seria estraçalhada viva. A mulher, no entanto, riu debochada.

  Ele parou, mas não desviou o olhar.

— Acha que pode me enfrentar, vampiro? Acredita ter a força necessária? Sua fêmea está morta e em breve toda sua família também e todas as outras casas até que eu seja a única soberana. O tempo dos reis dos noturnos terminou, agora quem dominará o mundo serão as bruxas, como tinha que ser. Não aquela usurpadora do trono, mas eu, apenas eu.

— Vou matá-la como se mata um verme, sentirá a dor que infringiu a minha amada e depois vai querer estar morta antes que eu lhe dê esse presente.

— Não é suficiente para me enfrentar, vampiro! Nem você, nem ninguém!

— Veremos!

  Lay saltou como um gato faria e caiu sobre ela com as unhas esticadas, ela cambaleou para frente e os dois se chocaram, eu arregalei os olhos amedrontada por ele, ela não era o que parecia a princípio, era forte e retornou o ataque, meu amado vampiro atacava violento e ágil, seus movimentos era fluidos e me cativaram, ela, era grossa, mais forte e esperta, desvencilhou-se dele e ergueu as mãos mais uma vez, o vendaval recomeçou, as árvores em segundos se curvaram diante do poder, Lay permaneceu em pé, sem se afetar com aquilo, ela voltou a falar e agora gritava com uma voz que parecia não lhe pertencer:

— Por mais forte que seja não é nada e eu vou lhe cortar ao meio, você não pode me morder ou morrerá, não pode me infligir seu ato mais cruel sem se envenenar, mas eu posso fazer.

  Lay se movimentou tão rápido quanto o vento e a agarrou feroz, ele estendeu uma das mãos enquanto ela ria enlouquecida, ela aumentou o vendaval com um movimento de mão, ele cravou as unhas em seu peito e atravessou seu corpo com o braço, eu gritei, ela parou de rir e olhou para si mesma. Lay retirou a mão e junto dela veio o coração da mulher, ela olhou atentamente como se não acreditasse no que via, deu dois passos para trás e encarou incrédula o vampiro a sua frente:

O Vampiro, O Tigre e O DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora