Santa Inquisição

4

"Estejam vigilantes, mantenham-se firmes na fé, sejam homens de coragem, sejam fortes."

1 Coríntios 16:13

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Levanto-me assustada antes do Jungkook acordar.
Meu coração batia de forma pesada, fazendo meu peito doer, ainda estava difícil digerir o que havia acontecido.
Mesmo que tudo isto parecesse um pesadelo, as dores nas costas por ter dormido em uma gruta abandonada, não negava, realmente fui indiretamente expulsa de casa.
-Sente-se bem? - pergunta Jungkook atrás de mim.
A pergunta era simples, mas responder com um "Sim" seria uma mentira obvia, quem poderia estar bem em um uma situação como esta?
O olho por cima do ombro, ainda permanecia deitado, provavelmente cogitando levantar.
-Não. - respondo - E você, está bem?
Seus olhar vagueia para o teto da gruta, o qual observa por alguns segundos.
-Não.
Deixo escapar um sorriso.
Estar com ele não significava apenas deixar a solidão, também era ter alguém que sentia o mesmo que eu, e podia me segurar se eu simplesmente caísse.

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Havia passado duas horas que Jungkook pediu-me para o esperar. Disse-me que voltava rápido, porém, depois de mais de uma hora de atraso, cogitei se fui enganada.
Será que a tia aceitaria-me de volta? Ainda esta em tempo de implorar para voltar e pedir perdão? Sou sua única sobrinha, acho que me aceitaria.
-Ei, o que esta à pensar? - aparece Jungkook sorrateiro ao meu lado.
Não deixo de assustar-me com sua repentina aparição, afasto dele sem pensar duas vezes.
Por este andar, terei problemas cardíacos.
-Jungkook! Faça algum barulho quando estiver por perto! Sou nova para morrer de coração.
Ao invés de se desculpar, ele sorri, mostrando os dentes para mim, como quem riu de algo que não devia. É estranho sentir que todo o mundo parou por causa deste sorriso?
-Ei, não ria. - digo ofendida.
Estico-me para o empurrar, rejeitando com todas as forças teu riso para mim. Catalina concentre-se.
-Tudo bem, desculpa. - ele rende-se.
-Agora me diz, por que demorou tanto? Estava quase achando que tinha sido abandonada por você.
-Eu prometi que não iria embora.
-Vou começar a acreditar nas suas promessas quando eu própria perceber que não serão quebradas.
-Tudo bem, tudo bem, peço desculpas pelo atraso, mas juro que foi por uma boa razão. Vem, me segue.
Ele sai da gruta, esperando que eu o seguisse. Quase o amaldiçoo mentalmente por ser tão lindo e me deixar sem palavras. Catalina concentre-se!
Apago o pouco do fogo ainda aceso da fogueira que montamos ontem, quase que apagando o nosso rastro de hoje, ser pego não era uma opção.
Meus olhos ardem quando saio da gruta, a escuridão da caverna quase fez esquecer-me que já havia amanhecido.
Procuro por Jungkook, mas não o acho facilmente ao sair, preciso andar para trás das rochas para o encontrar.
Quando o vejo, estou prestes a reclamar novamente para sempre avisar-me exatamente aonde é para ir, mas paro, quando percebo que não esta sozinho.
-Jungkook. - o chamo a atenção, mas minha voz falha.
Ele me olha, tem o olhar radiante, como se tivesse conseguido um balde de ouro, mas não era mentira, isto era praticamente um balde de ouro.
-Catalina, este é o Kafé. - apresenta-me Jungkook, estendendo os braços para o cavalo à sua frente.
Era realmente surpreendente, como ele poderia conseguir um cavalo?Principalmente na situação que nos encontramos.
-Jungkook, diga de forma clara e sincera, como conseguiu este animal?
-Devo me sentir ofendido com esta pergunta?
-Deve simplesmente responde-la.
Antes de dizer algo, ele o prende à um galho para que não fuja, mesmo que parecesse calmo, poderia fugir à qualquer momento.
-Eu conheço um comerciante em Drop, ele costumava vir em minha loja para comprar medicamentos para a esposa doente, mas na maioria das vezes não tinha dinheiro, então sempre dava-lhe muitas ervas sem cobrar nada. Quando a esposa curou, a família resolveu mudar para cá, pois o clima é limpo.
-Então você foi na casa dele pedir um cavalo?! - deixo transparecer o quanto estava surpresa.
-É um empréstimo, Catalina. Ele queria dar-me, mas prometi devolver.
Jungkook parecia ofendido com minhas palavras, quase repreendendo-me com seu tom de voz, mas parece logo esquecer da nossa pequena discussão.
-Vem, - ele estica a mão para mim - vamos viajar por muitas cidades com ele, talvez seria bom já criar algum afeto.
Por que em seus lábios simples palavras parecem tão doces? Isto ainda me dá uma sensação estranha.
Pego em sua mão, deixando-me ser conduzida até a lateral do Kafé, que repudia a minha aproximação, mas logo volta a ficar calmo, percebendo que não vou fazer-lhe mal.
-Kafé, esta é a Catalina - Jungkook apresenta-me à ele - Nós três vamos fazer uma viagem bastante longa juntos, então vamos nos dar bem, ok? Por favor, cuide de nós com carinho.
Jungkook acaricia seu dorso, o deixando calmo, tomo esta oportunidade para criar amizade com ele, afinal, realmente iriamos fazer uma longa viagem juntos.
-É um prazer conhece-lo. Por favor, cuide de nós.
As árvores à cima se movem com o vento, quase dizendo que era hora de partir, tínhamos que chegar à Hany o mais rápido possível, passar uma noite em Airohpue já tinha sido bastante arriscado.
-Parece que é hora de irmos. - alerta Jungkook, quase lendo meus pensamentos.
Ele monta o cavalo, como se tivesse feito isto a vida toda, acomodando-se rapidamente na sela.
Vê-lo à cima de mim, montado no cavalo, fez-me perceber que teríamos que monta-lo juntos, este pensamento fez-me ruborizar.
-O senhor comerciante não tinha outro cavalo? - digo oscilante.
Um sorriso surge em seus lábios, ele sabia o que estava à falar.
-Ele só tinha este. Prometo não cometer nenhum ato que deixe-lhe desconfortável.
Sinto-me desconfortável com a situação, estávamos vivendo de forma difícil e teimo a ter estes pensamentos, estava quase que sendo cruel com Jungkook que com certeza gostaria de fugir o mais rápido possível.
Ele volta a estender a mão para mim para ajudar-me a subir, minhas mãos suavam.
Provavelmente terei que sofrer coisas muito piores do que subir em um acavalo com um rapaz que conheci ontem. Faço uma oração mental para acalmar-me, quase que um mantra, tentando expulsar os pensamentos de uma puritana que sou.
Estico-me para pegar em sua mão, que me puxa sem esforço para sentar à sua frente, onde não deixo de sentir-me mais desconfortável, já que seus braços ficam ao entorno do meu corpo.
Meu rosto queima, então tento focar em agradecer pelo Kafé não ter me rejeitado, também não era como se estivesse sozinha com o Jungkook, eu tinha o Kafé para fazer-me companhia, não poderia ser mais constrangedor.
-Você sabe qual é a direção, certo? - pergunto, desviando meus pensamentos.
-Sei. Se tudo der certo, chegamos lá antes de escurecer.
Seguro na sela, me apoiando para não cair. Meus pensamentos estavam perturbados, estar à fazer isto, fugir de casa, da minha cidade sem a concepção de meus tios, isto me incomoda.
-Jungkook... - o chamo quase em um sussurro - Você acha que estamos à fazer o certo? Isso de provar nossa inocência.
-Achei que estava segura sobre seu plano.
-Eu estou, estou mesmo. É só que...
Não consigo dizer, nem eu sabia exatamente o que estava sentindo, simplesmente sentia.
Jungkook não diz nada, o que deixa-me mais insegura, mas então sinto sua mão sobre a minha na sela.
-Eu sei - diz - Essa insegurança que você esta sentindo, está ansiedade estranha sobre estar pisando no escuro, o pânico por estar sendo acusado por algo que não fez, eu sei, eu entendo, mas quero que você saiba que estou aqui e vamos passar por isto junto, não sinta medo de apoiar-se em mim, pois estou aqui para isto.
As palavras surgem tão reconfortantes. Eu precisava disto. Mais uma vez agradeço por ele estar comigo.