Santa Inquisição

3

"E essas cidades vos serão por refúgio contra o vingador do sangue; para que o homicida não morra, até que esteja perante a congregação para julgamento."

Números 35:12

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Mesmo depois de explicar tudo da melhor forma para Jungkook, ainda olhava-me incrédulo.
-Esta falando sério?
-Não é uma ideia absurda. - tento defender-me, dando de ombros ao seu sarcasmo.
-Está dizendo que viajar até Melas, atravessar as varias cidades, para chegar ao parlamento e convence-los a não nos matarem? Isto não é absurdo? - suas sobrancelhas arqueia à cada palavra que diz.
-Tem uma ideia melhor?
-Fugir até tudo se acalmar.
-Fugir não deve ser uma opção. - digo, cruzando os braços em tom negativo.
-Deve ser, se a vida estiver em jogo.
-Morrer ou morrer, está é a questão. As duas saídas nos apontam à morte, eu prefiro tentar a que parece-me mais plausível.
-Ir para Melas é a mais plausível, Catalina?
Ele não estava convencido da minha ideia, tudo bem, talvez nem eu estivesse, porém, as portas à minha volta estão se fechando rápido de mais, precisava de uma solução, e esta, não é de todo mau.
Fico alguns segundos à pensar. Permaneço com os braços cruzados, mostrando que não cedi à sua ideia covarde de fugir.
O olho por um instante, ele franze a testa me observando, provavelmente tentando imaginar o que eu iria fazer, eu, como ele, estava sozinha e sendo perseguida.
-Tudo bem - digo o mais alto possível, quase que para acordar-me do meu próprio transe - Não irei forçar-lhe a nada. É aqui que nossos caminhos vão se separam.
O silêncio que se segue é ironicamente tão alto, que quase estoura-me os tímpanos.
Procuro respostas em seu olhar que não dizem nada, percebo quase uma incerteza, mas logo se desfaz.
Talvez nunca saberei se Jungkook cogitou naquele instante ficar e me ajudar, ou se nunca nem lhe passou pela cabeça.
-Boa sorte, Catalina. - diz com o olhar firme à cima da minha cabeça, não me olha nos olhos.
Posso estar louca, mas sinto meu coração doer quando o vejo virar-se, tomando um caminho diferente, sem mim. Neste instante, percebo, queria ficar com ele.
Meu coração dói, dispara em velocidade máxima, vê-lo tomar esta decisão dói.
Escondo o rosto nas mãos, virando em posição contraria à ele, não vou ver, não quero me lembrar deste momento, não vou me lembrar.
Eu estou sozinha, esta doendo.
Em que situação me meti? Que situação é esta que estou? Preciso erguer a cabeça.
Espero minha frequência cardíaca voltar ao normal para destampar o rosto, nem acredito que consegui chorar de novo.
Nem parece que tem vinte anos, Catalina.
Enxugo as lagrimas, dando batidinhas no rosto para acordar-me do medo, não era hora disto, se for para ficar sozinha, ótimo, ficarei.
O caminho à minha frente levava ao mercado, não poderia segui-lo, havia muitas pessoas, tinha que seguir para trás de mim, onde ficavam as montanhas, Hany se localizava lá, a cidade das frutas. São mais três cidades até chegar à Melas, isso se Wasees não for uma opção.
Respiro fundo, isto é a minha missão.
Viro-me para o sul, na direção das cidades que seria obrigada à passar, estou decidida à isto, firme o bastante para não cair, mas ao virar-me e ver Jungkook em pé novamente à minha frente, minhas pernas enfraquecem.
Meus lábios tremem, mas não consigo dizer uma palavra, mesmo porque não era e nunca será minha obrigação dizer algo neste momento, ele virou-me as costas, enquanto permaneci, o direito é dele e o meu é de contemplar o silêncio de meus lábios.
-Não posso ir embora. - disse, nada oscilante.
-Por que? - pergunto.
-Começamos isto juntos, temos quer terminar igual.
-Juntos? - ousou-me a perguntar.
"Juntos" parecia uma palavra forte, um pouco íntima para nós dois, por isso, não me importo quando o vejo se sentir desconfortável com a minha pergunta.
-Você irá querer seguir meu plano inicial? Irá para Melas comigo? - pergunto à ele.
Minha frequência cardíaca volta a subir quando se aproxima de mim. Mesmo não imaginando o que fosse fazer, permaneço parada, até que ele chegue perto o bastante para ter que parar à minha frente.
-Vamos terminar isto juntos. - diz ao pegar firme em minha mão - Me diz seu plano, vamos pensar nele.
-Não vai fugir? - satirizo em um meio sorriso.
Ele sorri constrangido.
-Não vou. - afirma - De fato, nunca cogitei deixar-lhe, porém, cogitei quando imaginei que era sua vontade.
Engulo em seco.
-Eu nunca cogitarei realmente estar sozinha, então por favor, nunca me deixe só.
Seus olhos em mim eram firmes e doces, tudo se misturava, não sei se era o momento que estava confuso, ou as varias emoções que ainda estava sentindo. Mas sei, que meu coração não parava de acelerar.

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Como dois fugitivos, não podíamos ficar à mercê no meio da floresta, por isto andamos até um lugar afastado o bastante para conversarmos, o mais fundo possível na floresta.
Paramos perto de um riacho de água agitada, ninguém poderia no ver ou ouvir, não queria pensar muito nisto, mas qualquer erro, poderia levar a nossa própria morte.
-A minha idéia é um tanto bizarra, talvez muito bizarra, mas deve ouvir sem julgar, combinado? - digo, defendendo-me de todos os futuros julgamentos.
Ele assenti, quase que fazendo um juramento mental de não rir, nem que seja de forma irônica ou sarcástica.
-Airohpue esta no inicio das quatro cidades principais, que estão em torno de Melas. A primeira passagem e Hany.
-A cidade dos frutos?
-Exato, a cidade dos frutos. Ela é muito perto, então não demoraríamos muito para atravessa-la, o problema é Grinps, você sabe o porquê os forasteiro a evitam, certo? - sua feição é de duvida, então continuo - É uma cidade fria, quase mais fria que a neve, além de ser sombria, é onde os bandidos se escondem quando fogem depois de roubos.
-Uma cidade que realmente podíamos tentar evitar.
-Teríamos que passar por cima, o que levaria semanas, mas podemos tentar, tudo para não morrer. Depois temos Ytip que é nas montanhas, depois Wasees, a cidade da peste e chegamos à Melas.
-Para provar nossa inocência.
-Exato.
-Mas como provamos isto?
-Eu não sei, mas não vou morrer como herege, sendo que nem quiseram ter o trabalho de me perguntar. Não vou morrer pela santa inquisição.