30 de abril

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***Narrado por Detetive Green***

Observo atentamente o líquido preto sendo jorrado da máquina e enchendo meu copo. Perdida em pensamentos que outrora havia ignorado. Concluindo como meu trabalho é completamente desgastante, como ele vem me impedindo de dormir, e me tornando uma maldita paranoica. Bom, talvez paranoia seja uma palavra exagerada. Eu apenas percebi o que nunca havia parado para pensar: "Todas as pessoas são perigosas, e qualquer um pode querer te matar. Sua sombra não é confiável." Os jornais noticiam para o resto da população, grupo do qual fazia parte até pouco tempo atrás, apenas 2 casos a cada 100. No mundo todo, famílias se matando, amigos e companheiros se traindo, vinganças pelos motivos mais estúpidos. E agora, assim que vejo uma pessoa, tudo o que passa pela minha cabeça é: "Como ela poderia me matar?", e isso vem me deixando louca. Mas, assim que sinto o café puro descer pela minha garganta, novamente sou apenas a Detetive Julie Green, aquela que quer fazer a diferença, salvar vidas! Acabou que, seguindo fielmente esse pensamento, admito, tornei-me dependente do café para aguentar mais um dia. Para viver. Eu...

Minha linha de raciocínio é interrompida ao ouvir o barulho de algo batendo em minha mesa, e a presença de alguém em minha frente. Rapidamente encaro o ser, reconhecendo-a com facilidade: Detetive Garcia. Sinto falta de seu icônico rabo-de-cavalo, agora substituído por um coque. Ela parece ter dificuldade em começar a falar e eu espero. Sinceramente? Espero por um pedido de desculpas. Enquanto isso, raciocino como havia chegado em minha mesa. Ela começa a falar, e cada palavra dita me estressa.

- Julie, eu sei que brigamos, mas...
- Brigamos!? Sério? Acho que você não me falou isso. É bem provável, considerando que você não fala comigo há 5 semanas.

Ela fecha os olhos com força e leva a mão até a cabeça. Era evidente que ela estava esgotada, mas não aceitaria que Ally viesse aqui e fingisse que havíamos brigado, e que foi uma decisão das duas parar de falar uma com a outra.

- Você sabe bem porque eu tenho te ignorado. Sabe bem o que aconteceu aquele dia.

- Não, eu não sei. Apenas me lembro de você ter me beijado, e depois simplesmente sumir!

Ela olha rapidamente ao redor, procurando saber se alguém estava ouvindo. Eu bufo. Percebo que ela havia colocado papéis em minha mesa. Ignoro-os, logo lembrando da reclamação de nosso capitão quanto a brigas bobas no ambiente de trabalho. Resolvo conversar mais tarde e, neste momento, me concentrar em descobrir porque ela veio até mim:

- Ok, do que você precisa?- Ela me lança um olhar confuso e um pouco ofendido. Reviro os olhos antes de explicar:- Você não teria vindo aqui se não precisasse de alguma coisa. E não se faça de ofendida, você sabe bem que é verdade.

Ela parece querer refutar, mas desiste e se senta na cadeira em frente a minha mesa, chegando perto e abrindo a boca para tentar começar a me explicar o problema que a trouxe aqui, mas eu afasto minha cadeira, o que a faz lançar um outro olhar confuso em minha direção. "Muito perto" sussurro como resposta e ela parece entender. Volta a olhar para os papéis e dessa vez realmente começa a me explicar:

- Eu recebi um caso de provável assassinato. A vítima foi Sarah O'Donnel, nome de solteira, mulher de 47 anos, casada há 20 com Benjamin Brooklyn. Nenhum possui ficha criminal e parecem ser completamente normais, sem nada de realmente interessante em suas vida. O marido diz que ela saiu faz 3 dias para fazer compras e não voltou. Eles nunca foram ricos e, em caso de sequestro normal, já teríamos notícias. Gostaria da sua ajuda, de verdade.

Meu orgulho diz para não ajudá-la, fazê-la saber o que eu senti nas últimas 5 semanas. Mas esse caso é de sequestro e provável assassinato. É um caso realmente sério, e eu não ignoraria esse pedido de ajuda apenas por motivos triviais. Além de que, pelo jeito que ela me olha, ela está realmente necessitando de ajuda.

- Bom, é claro que eu te ajudo. Essas são as únicas informações que você têm?

Ela abre um grande sorriso, e eu me repreendo por sorrir também,voltando a assumir uma cara neutra, torcendo para que ela não tenha percebido. Ela nega e me conta todos os outros fatos deste caso, enquanto eu ligo-os em minha cabeça.

Finalmente consigo criar uma teoria que abranja todos os fatos, e então, olhando ao redor, percebo que estou em uma viatura, com Ally ao volante. Me questiono como cheguei aqui, e decido marcar uma consulta com uma terapeuta o mais rápido possível. Lembro-me vagamente de seguir Detetive Garcia até o estacionamento, e presumo que estejamos indo até a casa da moça desaparecida.

Olho para a mulher no volante: Seus cabelos ruivos me encantam, e sempre quis vê-los soltos. Seus olhos possuem um tom de verde discreto, que ficam um pouco mais chamativos por causa das lentes de contato que ela usa. Olhando bem para ela percebo sua maquiagem discreta, que ela usa para esconder suas sardas. Reviro os olhos imediatamente.

- O que foi?- Ally pergunta e eu a encaro confusa.- Você estava me olhando e então revirou os olhos, por quê?

Abro um pequeno sorriso ao pensar que ela se importa com o que estou pensando sobre ela, antes de responder:

- E você se importa por que...?

Vejo ela corar levemente, mas sua expressão continua a mesma.

- Porque você olhou para mim e simplesmente revirou os olhos. Você também estaria curiosa. Quer saber? Deixa para lá. É aqui.

Ela aponta para uma casa, e eu a observo enquanto saio do carro. É pequena, há um canteiro de flores em frente a mesma, que estava morrendo. Presumo que a Sra. Brooklyn que cuidava das mesmas. A casa parece vir de livros. A casa dos avós que te contam histórias e preparam um jantar de natal para a família. A vizinhança também é muito bonita. Percebo uma cabeleira grisalha por cima de um muro 2 casas abaixo, e logo dois olhinhos de uma senhorinha aparecendo. Ela tenta se esconder e sair discretamente, mas eu a chamo e ela para, se virando para nós com um sorriso inocente.

- Oficiais, tudo bem?


Até o último suspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora