Grimorium Verum: do latim, "Grimório Verdadeiro"
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O cômodo onde estavam brilhava com uma luz que não sabia de onde vinha. As luzes púrpura pareciam deslocadas depois de passarem por mobílias antigas retorcidas em cobre.
Na verdade, todo aquele cômodo era deslocado em relação ao resto do lugar que o demônio tinha descrito como seu território.
Quando, num piscar de olhos, a paisagem mudou do longo deserto de Paimon para a quietude plácida de uma estepe, Asmodeus começara a falar e até agora não tinha parado. Mas, de alguma forma, mesmo falando até chegarem naquela mansão, ele não tinha dito nada relevante. Ou, talvez, Mathias simplesmente não tivesse dado importância até ouvir seu nome no meio de uma sentença.
O demônio tinha finalmente parado, banhado na luz roxa, realmente não parecia humano, apesar de sua aparência.
— Qual era seu intuito ao realizar o ritual, Mathias? — ainda de costas, a postura silenciosa de Asmodeus, a espera da resposta, fez o feiticeiro hesitar.
Não havia nenhum motivo que não provar que ele era capaz daquilo e, quando conseguiu, tinha decidido que selaria um pacto. Mas no fundo, sua motivação tinha sido simples.
— Apenas um pacto? — o demônio insistiu, querendo a resposta que Mathias se recusava a dar, embora em sua mente, já tivesse respondido.
— Conhecimento. — mentiu, envergonhado pela verdade.
— Ah, entendo. — ele se virou e em seu rosto, puro contentamento — Nada além de poder.
Como...?
— Entenda que desde o momento que pisou em meu território, tenho total domínio sobre você. Seus pensamentos estão a minha disposição, e evitá-los foi mera cortesia da minha parte.
Num piscar de olhos, a distância entre os dois se encurtou e Mathias se viu cara a cara com Asmodeus. O reflexo de seu rosto assustado o encarando através dos olhos do demônio.
A sensação que teve quando encontrou o "monarca" se repetiu, sua mente ficando nublada e todos os pensamentos sendo ofuscados."Se o que quer é poder, também posso lhe dar. Assim como fiz com o imperador".
A voz agora estava em sua mente apenas, ressoando como ondas quebrando ante um penhasco. Suas pupilas dilataram, seu desejo mais simples sendo ofertado numa bandeja.
"Seria bem fácil, especialmente com sua colaboração. Afinal... "
A coroa do demônio refletia as luzes de forma estranha, e como se fosse contar um segredo, ele se aproximou ainda mais.
"Ao vir para cá com seu corpo, você quebrou um selo, assim como ele."
Desviou os olhos para poder observar com cuidado a expressão do demônio. Os olhos eram sugestivos, como se aquilo bastasse para deixar claro suas intenções. Ele sorriu, os dentes afiados nada amigáveis.
E tão rápido quanto tinha se aproximado, ele se afastou.
— Como prometido, feiticeiro, lhe darei suas respostas. — seu olhar cúmplice e tom leve deixavam claro que comentários acerca da comunicação mental não seriam feitos em voz alta. — Se decidir pagar o preço.
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Clavicula Satanae: A Chave de Satã
FantasyDo latim, "A chave de Satã" O demônio invocado por um feiticeiro se prova um contador de histórias. Em meio sua narrativa, o demônio revela como deixou de ser um humano para se tornar o imperador do inferno. Incapaz de impedir aquela história, um de...