Okean Yagi: do russo, "Oceano da Caçadora"
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— O Silêncio surgiu quando o Criador tomou para si todo o poder, todo fragmento de conhecimento que exalava do Verbo. Com sua autoridade, tornou os anjos seus servos aprisionados pela luz dele, a qual também os presenteava com minúsculos pedaços desse conhecimento, aliviando o desespero do Silêncio. — o deus explicou num tom quase sussurrante, distribuindo aquela informação privilegiada com extrema paciência. — Quando Lúcifer se rebelou, ele e seus aliados abandonaram essa luz. Como punição pela revolta, o Criador nos acorrentou aos pecados, fragmentos de conhecimento que ele renegava devido às suas concepções arbitrárias de bem e mal, serventia e rebelião. Assim nós, esses novos demônios, jamais alcançaríamos o Verbo.
Baal concluiu em sua voz baixa, aguardando a reação às suas palavras.
Há milhares de anos, quando tinha dito essas mesmas palavras para os acólitos de seu templo, quando ainda era reverenciado como um deus, a reação de seus servos foi da mais plena adoração. Era recebido com louvor e admiração.
Mas agora, embora ainda fosse um deus-demônio, não estava conversando com um sábio sacerdote. À sua frente, estava sentada uma jovem humana de cabelos vibrantes e tolo sorriso que jamais oscilava. E ainda que os olhos dela brilhassem, como sempre faziam quando ele estava perto, não houve reação.
— Uma vez que a luz e o pecado sejam ambos abandonados, o Silêncio retorna em sua plenitude. — continuou. — O escape da prisão da luz e do pecado garante uma falsa liberdade. Apesar de não ser dominado por mais nada, o demônio prossegue incapaz de ascender ao Verbo, pois não ouvirá nada que ecoa deste, o tornando eternamente inalcançável.
— Porém... — a garota adicionou.
— Porém? — ecoou, sabendo a pergunta que receberia em seguida, mas aproveitando a conversa.
— Sempre tem um porém, Baal. Qual é o dessa história?
Como um mestre contente com seu aluno, sorriu.
— As almas mortais são o grande porém.
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— Ela pensa em você, Baal. Constantemente.
A voz do imperador quebrou o silêncio do lugar.
Ele parou imediatamente o que fazia para analisar o monarca, que sequer tinha erguido o olhar de seu pergaminho. Ele continuou a escrita por alguns segundos, o silêncio novamente se apoderando do ambiente. Baal permaneceu calmo, apenas esperando o que haveria de ouvir.
Estaria Sua Majestade irritado?
Não, não podia ser. Seu tom tinha sido neutro, sem qualquer julgamento ou repreensão, era mais um comentário visando iniciar uma conversa do que uma crítica. Esperou, até que a pena parasse de deslizar pelo papel. Depois, mais um pouco para a tinta secar e o pergaminho ser enrolado.
O imperador estava calmo, tomando todo o tempo necessário para concluir a tarefa da escrita que era exigida para mantê-lo estável. Ele levantou-se sem dizer nada, andando até uma das portas com os rolos de papiro em mãos.
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Clavicula Satanae: A Chave de Satã
FantasíaDo latim, "A chave de Satã" O demônio invocado por um feiticeiro se prova um contador de histórias. Em meio sua narrativa, o demônio revela como deixou de ser um humano para se tornar o imperador do inferno. Incapaz de impedir aquela história, um de...