Capítulo 3 - Priscila. Um ano antes.

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"Respira fundo! Quando você começar vai ter que ser direta e se eles não ouvirem os faça ouvir. Vai lá!"

- Desde que descobrimos o sumiço de algumas crianças nas redondezas, decidimos começar a averiguar por conta própria. Não era algo alarmante que levantasse suspeitas, era sutil. Porem para nós, é algo preocupante sim! Todas as crianças têm uma coisa em comum.

"Use palavras precisas."

- Quando se é diferente você nota a diferença nos outros, seja um ato nervoso de torcer as mãos. Uma expressão de confusão que você insiste em tentar esconder. Aqueles sustos sem motivo. Tudo isso é um indício de que têm algo diferente acontecendo. Crianças não agem assim todo o tempo, adultos não agem assim! Somente aqueles que descobriram algo diferente em si e tem medo. - minhas mãos gesticulavam dando ênfase em minhas palavra.

- Medo do rumo que sua vida vai seguir. Medo de os outros o ignorarem. O maltratarem por ser diferente. E o pior de todo, o medo do que podem fazer! De acabar ferindo aqueles que amam sem a intenção. Medo! Porque de repente tudo muda e você não tem mais controle de nada do que um dia julgou ter. - depositei minhas mãos abertas na mesa e olhei para cada um que estava ali.

- Nós nascemos desse jeito. Conforme crescemos e nossa estrutura é formada ainda no útero de nossas mães, algumas células se agrupam de forma diferente do padrão. Levando em conta que a espiral de nosso DNA tem digamos assim "paredes" - fiz aspas no ar para dar certa ênfase na palavra - de proteção, esse agrupamento resoluta em ligações da estrutura principal a essas "paredes" formando uma estrutura de 4 linhas interligadas. Como devem saber essa ligação não é total, no entanto quanto mais ligações entre as extremidades mais poderosos nos tornamos, e assim somos considerados diferentes. Na verdade eu veria como a evolução da espécie, pois o ser humano e a sua habilidade de se adaptar se torna mais viável a mutações. Levando a uma mudança continua, inconsciente e até imperceptível em alguns aspectos. Não sermos extintos e termos conseguido reerguer parte das estruturas de um mundo inóspito é uma grande prova disso.

Respiro fundo.

- Essa mudança normalmente começa a ser aparente por volta dos 5 anos. As ligações estão se tornando mais firmes e isso começa a trazes nossos poderes a tona, em alguns isto acontece mais tarde. Somos assim de duas formas. A genética! Onde herdamos o poder de um de nossos pais, esse poder pode ser mais forte, mais fraco, ou ate mesmo ter resquício dos dois, o que leva a origem de um novo poder ou uma nova habilidade. Mas também pode acontecer de duas pessoas "normais" terem um filho ou filha com poder.

- Mas...

- Eu não terminei! - retomo a palavra arrumando meus papeis que estavam sobre a mesa. - Como eu ia dizendo, as "paredes" de proteção foi uma evolução ou mutação. Uma adaptação para nos tornar resistentes aos poluentes que existiam e ainda existem no ar e as fortes temperaturas. Foram muitos anos de mutações e de evoluções para chegarmos a ser como somos hoje. Há uma possível data do surgimento do primeiro dos nossos. Seu nome era Ethan! Podia manipular a terra e falar com os animais, os registros são por volta de 2135, entretanto a base dessa reunião não é explicar nossa existência apesar de ser importante cita-la e sim... - virei às costas a todos.

Puxei o manto que cobria o quadro a minha frente, deixando amostra vários rostos com legendas logo abaixo, datas, nomes, familiares e onde moravam, todos com um fio ligando a foto do centro. Um colégio bem estruturado, um lindo bosque ao redor, mas não é o refugio que parece.

- Escola Lúdica para Instáveis. Conhecida como instituto Eli, todas as crianças que foram para lá nunca mais voltaram.

Coloquei novamente minhas mãos na mesa e me curvei, eu tinha de convencê-los, e olhando para cada um prossegui.

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