Capítulo 1

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As sirenes tocavam alto despertando todos os instintos adormecidos de Aurora, o barulho ecoando insistentemente em seus ouvidos lhe traziam a sensação de oportunidade. Correntes prendiam seus tornozelos, mas isso não seria nem de longe um empecilho. Em uma rápida avaliação de seu estado e o ambiente em que estava deu um pequeno sorriso sarcástico. A hora chegou!

Sua mente trabalhando a todo o vapor, não havia tempo para hesitar era agora ou nunca mais. Com esse pensamento em mente ela se encostou à parede para pegar impulso e se atirou para frente, conseguindo livrar um de seus tornozelos. Ao olhar o outro ainda preso sua raiva cresceu e a fez chutar o ar. Sentiu a pele de seu tornozelo sendo arrancada e apreciou o resultado da queimação seguida de gotículas de sangue se formando no lugar.

Apenas mais um machucado e nem era tão grave aos seus olhos, ignorando totalmente o local ardente Aurora a passos lentos se aproximou das grades, seus dedos tocaram com certo receio esperando por armadilhas, não seria tão fácil assim, e se fosse porque ela ainda estava ali? Aquela pergunta a pegou em cheio.

Empurrou a grade da cela abrindo totalmente, a cautela ainda era necessária, havia algo tampando a entrada, seus dedos sentiram a textura como se fosse um pano, mas diferente de todos os outros que já havia sentido, o afastou e encarou o espaço a sua frente.

Cretinos!

Havia diversos daqueles panos ali, isso significava que havia mais pessoas como ela.

"Como pude acreditar por um misero segundo neles?" Ela se perguntava irritada consigo mesma.

Em sua cabeça rodava todas as mentiras proferidas por eles, um pequeno fragmento de memoria onde outra criança aparecia junto com ela naquele lugar a deixou inquieta. Afinal era algo que ela viveu ou era alguma alucinação de sua cabeça?

"Não! Sem chance. Agora não!"

Se reprendeu olhando as rochas úmidas do local, passou a mão pelo primeiro pano ao lado de sua cela. Passou por ele com cuidado, ela não sabia quem o ou o quê poderia encontrar ali dentro.

Seu corpo travou no mesmo instante que um rugido soou, um arrepio percorreu por toda sua coluna parando na sua nuca. Seus olhos arregalados conseguiram notar um pequeno amontoado que começou a se aproximar. Assim que tomou uma forma Aurora sentiu seu corpo relaxar, era apenas uma criança.

Uma criança, ainda mais nova do que ela era quando foi deixada ali, estremeceu com essa conclusão e se aproximou, a pressa tomando cada molécula de seu ser. Ela não sabia quanto tempo se passou ou até quanto tempo tinham.

Abriu à cela passando logo em seguida, a criança estava em uma situação semelhante a que ela se encontrava em instantes atrás.

- Ig... - pigarreou ao notar que sua voz estava estranha. - Igu... - o arranhar se fez presente, ela ainda poderia fala?

Desistiu imediatamente de uma interação verbal e olhando nos olhos da criança balançou suas mãos indicando não ter nada ali, então apontou para seu corpo e em seguida o da criança.

Essa olhou bem para ela e apontou seus pés como quem diz "não consigo sair". Aurora olhou para os lados da cela, mas diferente da sua naquela tinha uma pedra, ela olhou para cima vendo algumas estalactites naquele ponto, rapidamente apanhou a pedra saíndo do caminho das demais.

Apanhou a tabua da falsa cama, que era apenas isso mesmo, uma tabua, quebrou um pedaço e voltou para a criança. Colocou entre a corrente e o tornozelo dela. O estado da corrente facilitaria a ação, mas mesmo assim foram necessárias três batidas para que ela se soltasse. Assim que a criança ficou livre Aurora estendeu a pedra para ela, aquilo serviria de arma caso fosse necessário.

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