O Coração de Gelo

O Ciclo

    Ele vinha, o chamado tinha sido feito e chegado á consciência da criatura logo após ser proferido, era a sentença narrada aos quatro cantos, sorrateiro como uma cobra e certeiro como a flecha de um centauro, foi assim que Bohrum os enganou para benefício próprio, ele os moldou com o resto do que tinha dentro de si, e como uma casca vazia agora olhava as criaturas diante dele sem nenhuma expressão de arrependimento ou sentimento algum. Sentimento, seu carcereiro fez questão de sugar toda gota que ainda tinha dentro de si só para vomitar em sua cara o quão podre ele era.

    Sua presença poderia ser sentida a quilômetros de distancia, ele voava tão leve, o bater de suas asas tinha o badalar suave de guizos e a brisa que vinha de suas penas era reconfortante, a criatura majestosa pousou diante de Bohrum e suas criações, e os três logo se encantaram pelo externo de Destino, tão bom fosse se seu interior também fosse belo como seu externo. Seus olhos criteriosos passaram pelos três se demorando mais em Heiwa e Kuroi, ele parecia ter gostado do resultado desses dois, o que deixou Tamashi se corroendo de raiva por dentro, mas ela era uma artista como Destino então vestiu sua melhor mascara de fascínio e contemplação e se curvou diante a criatura, ato esse que Destino achou curioso porem para seu ego infantil contribuiu para um leve brilho de reconhecimento em seus olhos.

    Ele se voltou para Bohrum e viu o quanto isso tinha sugado de si tudo que ainda restava, Bohrum desfalecia rachando como uma porcelana de chá chinesa que não recebia o devido tratamento a tempo, mas ele ainda tinha que receber sua recompensa, os olhos amarelos se pousaram no carcereiro e ele andou até Bohrum, o carcereiro se desfez em uma nuvem negra que entrou no peito de Bohrum fazendo com que as rachaduras sumissem e sua expressão de desespero voltasse como se tivesse acabado de acordar de um sonho ruim. E era o que ele queria acreditar, que tudo era somente um sonho ruim.

-Bohrum, vejo que criou belos brinquedos para mim, agora terá sua recompensa... Com uma
pequena condição.

    Ele se manteve ereto em sua postura altiva e as penas de sua coroa crisparam, sua joia voou diante deles e as cores explodiram de dentro dela, um infinito de imagens passou diante de seus olhos, mais do que as pobres criações poderiam processar em tão pouco tempo, assim os poucos segundos diante das imagens foram o suficiente para perderem o folego e caírem todos de joelhos com o rosto colado ao chão, todos menos Bohrum e Destino.

-Mas você prometeu...

-Eu disse que o motivo de sua existência era cuidar dos Zhi, mas veja só todos eles morreram
menos você.

-Por favor, perdoe-me.- Bohrum clamou mais uma vez já sem folego, o ódio da criatura era esmagador e ele ainda iria prolongar seu sofrimento por muito mais tempo. Como ele queria que isso fosse somente um sonho ruim.

-É profana sua existência, mas prazeroso é assistir seu sofrimento, sua recompensa será viver
eternamente, mas suas punições serão nunca mais esquecer o que fez, as marcas em sua pele jamais serão apagadas, seu físico será deformado e sua linhagem comigo totalmente apagada, suas criações comandaram você e tu nunca mais poderá se separar delas, teus dedos podres nunca mais tocaram a pele de outro ser vivo e você nunca mais será acolhido ou amado por qualquer ser em todo universo criado por mim ou por outros depois de mim, esse é o inicio da minha raiva por você Bohrum e estou apenas começando.

    Ele então caiu diante da criatura, como suas criações, ficou lá beijando o pó, ele chorava enormes gotas negras que queimavam a terra como ácido, nesse exato momento sua percepção de si mesmo o fez crer que era uma abominação, ele foi fadado a um destino sórdido a qual não se era desejado nem mesmo ao pior inimigo. Destino olhou para as criações de Bohrum decidindo qual seria o seu próximo passo, ele estava novamente curioso com os três diante dele, pode ver que eles estavam assustados com o que viram.