Amor Improvável - Andamento

I

— Apenas mais alguns ajustes e o vestido ficará pronto, está lindíssima, alteza. — A costureira falou orgulhosa de seu trabalho, afinal, teve pouco tempo para confeccionar tal vestido.

— Dê pelo menos um sorriso, Catarina. É o seu vestido de casamento e veja quanto seu pai gastou nele. Quantas pedras preciosas tem nele — Charlotte falou encantada com o vestido, no entanto princesa de Artena continuava com o rosto apático.

— Acredito que esse será o último ajuste, não suporto mais me ver com ele no corpo — Catarina murmurou virando de costas para o espelho, erguendo seus braços para que tirassem o longo vestido de casamento de seu corpo.

Quando estava devidamente vestida com seu vestido habitual, se sentou na cama e inspirou profundamente, fechando os seus olhos.

— O rei Afonso parece ser um bom homem, não entendo por que você está tão triste. Lordes e até mesmo alguns nobres de outros reinos confirmaram a presença para esse casamento, o que é extremamente raro. Vai ser a maior união de toda a Cália. Deveria estar radiante. Vamos, Catarina — Phoebe tentou animar a princesa em vão.

— Eu não estou pronta para me casar — Catarina murmurou, encarando suas amigas e damas de companhia. Isso era o mais próximo da verdade que poderia dizer para elas, sabia que precisava levar seu segredo para o túmulo. Para o bem de todos.

Batidas na porta interrompeu a conversa delas e Charlotte rapidamente verificar de quem se tratava, fazendo uma reverência quando notou o rei Artena, Augusto de Lurton, ali.

— Majestade.

— Minha querida, preciso conversar com Catarina a sós. — Ele disse para ela, fazendo Phoebe se levantar e sair do cômodo com Charlotte. Deixando pai e filha para conversarem.

— Fico feliz que esteja colaborando, minha filha. Soube que seu vestido já está quase pronto.

— Eu tinha poucas opções, afinal, envergonhei o senhor e como punição está me enviando para outro reino e me casando com um homem que vi somente duas vezes — Catarina devolveu com a voz afiada, o encarando com os olhos tristes.

— Você deveria me agradecer por conseguir livrá-la do escândalo e a vergonha caso fosse exposta. Temos sorte de o rei Afonso ter aceitado você mesmo sabendo que perdeu a sua pureza com um soldado. Um plebeu, Catarina! — Augusto grunhiu, tentando controlar sua voz — O que passou pela sua cabeça?

— Que eu não preciso de um marido para reinar. Que sou a primeira na linha de sucessão de Artena e não preciso de um homem para ser rainha, que nosso reino é rico o suficiente para não precisar se unir a outro para se fortalecer. Que temos um dos maiores poderes bélicos da Cália, somos o reino das águas e não dependemos de ninguém! Foi isso que passou pela minha cabeça. — Catarina gritou, lágrimas descendo por seu rosto.

— Catarina...

— Eu sei quem é Constantino, papai. Ele é um homem muito melhor que a maioria dos homens da nobreza, o senhor não o conhece para o julgar.

— Eu o conheço o suficiente para saber que ele seduziu a minha filha para tentar tirar algum proveito dela e quase conseguiu isso, no entanto levou sua virgindade. Sua virgindade, Catarina. Sabe muito bem que precisa ser pura para se casar. E você ao menos pensou na nossa linhagem? O que acontece se você não se casar e não tiver filhos?

— Tio Felipe acabou de ter um varão saudável, a linhagem Lurton não acabaria em mim. Nossa família continuaria no poder, apenas não seria da maneira que o senhor deseja.

Augusto estava farto dessas discussões com sua filha. Nas últimas três semanas eles estavam em pé de guerra e não aguentava mais aquilo.

— Chega, Catarina. Eu sou o rei aqui e você deve me obedecer. Como seu pai e seu rei.

Catarina baixou a cabeça resignada e se calou, sabendo que a discussão tinha acabado ali.

— O emprego dele será mantido? — Catarina perguntou com a voz baixa. Sabia que a mãe de Constantino era doente e por isso não trabalhava. O pai os tinha abandonado anos atrás e ele tinha duas irmãs que trabalhavam na feira, mas elas dependiam do dinheiro que ele ganhava como guarda do castelo.

— Eu dei a minha palavra, nada acontecerá com ele. Pelo contrário, será promovido, tudo que precisa acontecer é você ser enviada para Montemor e se casar com o rei Afonso de Monferrato.

A princesa sabia que Constantino estava sendo promovido apenas para garantir que ele fosse permanecer em Artena, e com duas irmãs e sua mãe, ele não podia se dar ao luxo de seguir Catarina para Montemor. Ele jamais abandonaria sua família, sem contar que Afonso sabia quem ele era. Constantino seria enviado para a pedreira imediatamente caso colocasse seus pés nas terras áridas de Montemor.

— Eu confio no senhor e agradeço por manter o emprego dele — ela disse por fim, baixando os olhos em rendição.

— Ele é um bom homem, minha filha. Jamais a casaria com um homem que não estivesse à sua altura — Augusto falou com a voz macia, dando um beijo na testa de Catarina. — Eu sei que um dia você irá me agradecer por isso.

Catarina nada disse, apenas desviou o olhar. Seu coração pertencia totalmente a Constantino e iria se casar com Afonso de Monferrato.