XIV

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Catarina olhou mais uma vez para o céu, tentando se orientar pelo sol para saber quanto tempo ainda tinha e quase chorou. Em breve iria soar os sinos e deveria estar no castelo, não cheia de hematomas em um vilarejo procurando por alguém que fosse confiável.

Brice havia dado a ela um delicado cordão, com uma pedra preta na ponta, e disse que o material ficaria quente quando encontrasse a pessoa correta. A princesa tentou não pensar sobre o que isso significa ou quem era aquela mulher estranha, mas que ao mesmo tempo lhe transmitia uma calma e extrema confiança.

Ainda com o rosto coberto pelo capuz e em seu cavalo, diminuiu o ritmo e começou a observar as pessoas pelas ruas do vilarejo. Notou que estavam um pouco agitados e soltou um suspiro aliviado quando avistou alguns soldados, bateu na lateral de seu cavalo para que ele avançasse, alegria e esperança inundando seu peito ao se aproximar dos homens que patrulhavam o local, claramente em busca de algo.

Possivelmente por ela.

Estava para retirar o capuz quando a pedra que carregava entre os seios ficou gelada subitamente, sendo incapaz de ignorar o aviso claro que estava recebendo.

— Funciona — murmurou em choque.

Sutilmente mudou seu caminho e continuou a trotar pelas ruas áridas daquele local, notando pela primeira que existam soldados com fardas diferentes. As palavras de Constantino soando como um alerta em sua mente.

'Você realmente não tem noção nenhuma do que está acontecendo, não é? Existem tantas coisas por trás desse casamento e seu pai, minha querida.'

— Existem traidores na Corte — concluiu, se recriminando por não ter descoberto aquilo antes. — Constantino jamais seria capaz de se aproximar de mim sem ajuda.

Aquele pensamento causou náuseas na morena, o sentimento de impotência dominando cada célula de seu corpo. A ameaça ao seu pai não era vazia, até mesmo Afonso poderia estar em perigo, cercado por inimigos. Foi quando sentiu a pedra esquentar, isso sendo o suficiente para arrancá-la de seus pensamentos conturbados.

Correu seus olhos escuros ao redor, notando um pequeno grupo de soldados que carregavam o símbolo de Alcaluz em suas armaduras, um soluço escapando de seus lábios quando a pedra do colar voltou a esquentar, aquele sendo o sinal que precisava.

Obrigada, Brice. Obrigada.

Murmurou em agradecimento, seus olhos ardendo pelas lágrimas que queriam escorrer livremente, entretanto, não era o momento correto para deixar suas emoções a dominarem. Pela primeira vez que foi sequestrada sentia uma chama de esperança crescer em seu peito, aquecendo-a aos poucos.

Desceu do cavalo com certa dificuldade, devido às suas pernas ainda estarem machucadas, se aproximando deles. Uma mão segurava a rédea do seu cavalo enquanto a outra mantinha o colar preso firmemente contra seus dedos. Quando estava perto o suficiente para ouvir suas vozes percebeu que eles estavam decidindo qual o próximo passo a seguir, no entanto assim que notaram sua presença se calaram de súbito. O homem que parecia ser o líder entre eles foi em sua direção, a expressão séria em seu rosto, apesar de seus olhos castanhos serem gentis.

— Posso ajudá-la em algo, senhorita? — ele perguntou, urgência pingando em cada nota de sua voz.

— Acredito que sim, soldado. — Catarina retirou o capuz que escondia sua identidade, revelando o seu rosto. — Sou Catarina de Lurton e preciso ir para o castelo de Montemor. Agora.

Viu o choque passar pelo rosto dele e logo em seguida a compreensão.

— Alteza — ele falou, fazendo uma curta reverência. — Graças a Deus, estávamos à sua procura desde o raiar do sol — disse sério, observando com desagrado o rosto dela e notando as marcas que Brice não tinha conseguido tirar por completo, seus olhos foram para os pulsos enfaixados e apenas acenou com a cabeça. — Por favor, coloque o capuz de volta, Alteza. Vamos levá-la para casa em segurança.

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2022 ⏰

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