XII

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Rodolfo suspirou ao olhar a destruição do quarto, sua cabeça latejando.

Afonso estava dormindo em um outro quarto, a palavra dormindo sendo apenas um eufemismo já que ele havia desmaiado devido a quantidade de vinho que havia ingerido e, agora restava a ele resolver o caos que ia se instaurar no castelo nas próximas horas com o súbito sumiço da princesa de Artena.

— Mas porque um dia antes do casamento? Isso não faz sentido — o príncipe resmungou, se sentando em uma cadeira que não havia sido destruída por seu irmão. Ele observou como Catarina estava no jantar em que compareceu, a maneira como seus olhos sempre procuravam o rosto de Afonso em busca de qualquer conforto que pudesse encontrar. E como seus lábios tremiam sempre que ele a ignorava completamente, preso dentro da própria mágoa.

Ela não parecia alguém que estava prestes a fugir, a princesa nem estava em condições físicas para isso. Pelo contrário, ela parecia exausta, como se não estivesse comendo ou dormindo desde o dia que seu irmão parou de falar com ela.

Então o que ele não estava vendo?

Olhou ao redor do quarto e notou um papel amassado, distinguindo uma bela caligrafia ali. Com cuidado o pegou do chão e abriu. Era da princesa de Artena, uma carta para o rei avisando que iria fugir.

Viu a textura do papel, estranhando o material e olhou do outro lado.

— É uma página de um livro?

Segurando a carta em suas mãos saiu dos aposentos de seu irmão, pretendia ir até o quarto da princesa quando ouviu gritos femininos em um corredor próximo do seu. Sua cabeça latejou novamente e com um suspiro foi em direção à confusão. Sabia que na ausência do seu irmão ele se tornava o responsável pela corte.

Lucíola estava cansada de tentar pelos bons modos, então se o rei não fosse recebê-la de boa vontade, ela acordaria toda a corte, se assim fosse necessário.

Estava pronta para gritar novamente quando uma mão forte segurou seu ombro, puxando com força virou-se pronta para xingar a pessoa, quando se deparou com Rodolfo de Monferrato.

— Majestade — falou, tentando controlar a respiração e manter a voz calma. — Estou tentando tratar um assunto urgente com o rei de Artena, e como esses soldados não me permitem passar porque ele não quer receber ninguém, espero que não se importe se eu ficar gritando daqui. — ela explicou e virou-se de costas para o rei.

Sabia que tamanha afronta poderia levá-la à forca, mas Catarina havia sumido e tinha certeza de que ela não havia fugido com Constantino. Depois de tudo o que a princesa falou, se ela não estava no castelo e nem aquele homem desprezível, ele havia forçado a princesa a partir. Mas como uma simples serva poderia provar tal coisa?

— Se não se importa, o que pode ser tão importante a ponto de arriscar a sua própria vida com tamanha petulância? — Rodolfo questionou.

— Eu sou a ama de companhia da princesa Catarina, e sei que ela não fugiu. Entretanto, não consigo falar com o meu rei. — ela disse, seus olhos se enchendo de lágrimas. — O senhor certamente já sabe o que aconteceu, mas eu sei, sei a verdade. Se ela não está no castelo é porque ela está em perigo. Mas esses soldados estúpidos não dão um passo para longe daí! — falou, apontando para os dois soldados de Artena que estavam no corredor impedindo qualquer pessoa de atravessar.

— Venha comigo — Rodolfo ordenou.

Mesmo relutante de sair dali, Lucíola seguiu o rei de Alcaluz perguntando-se se ele acreditava nela.

— Sabe de que livro esse papel pertence? — Ele mostrou um papel amassado. A mulher pegou o papel, olhando a caligrafia da princesa de um lado e as letras do outro. — Ela tem diversas folhas para cartas, por que arrancar de um livro? — Rodolfo questionou, e viu quando o rosto da serva ficou pálido.

Amor Improvável - AndamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora