capítulo 7 ~ porcelanas

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Chegar em casa depois de um dia tão tenebroso fez tanto sentido, que não tinha sentido algum.

Sim... isso mesmo, a vida alguma vez fez verdadeiramente sentido?
Mas eu estava bem, como quando você não sabe ao certo o que você está sentindo, mas preguiçosamente seu psicológico não quer que passe.

Eu raramente me sentia em casa e eu não queria que aquilo passasse. começei a andar pelos cômodos desejando decorar detalhes bobos, Ainda vazios e aconchegantes, passando cautelosamente pelos meus olhos, cada imperfeição na parede ou no piso. uma coisa tão única.
queria futuramente ser parte daquilo. Sempre fui acostumada com um vazio e as caixas espalhadas pelos corredores em um certo tempo e depois novamente embaladas.
casas perfeitas, bem anunciadas promentendo a "felicidade"aos moradores.

Dessa vez sentir que deveria dá oportunidade para o local, era uma casa antiga , muito bonita e bem cuidada. Algo em mim suplicava por algo além, não apenas sobreviver a cada dia esperando o viver. Hoje percebi que essa mudança não aconteceria do nada, eu não acordaria e tudo estaria onde eu quero e tudo passaria,eu tinha que lutar.
Deitei no chão frio e espaçoso e comecei a sentir o coração bater, meu cabelo estava preso em duas tranças desengonçadas que tinha como objetivo apenas controlar os fios rebeldes. encarei o teto e deixei os pensamentos tomarem conta.
Sempre ouvir a frase "do chão não passa!" Então o chão é um bom lugar para pessoas desastrosas.

Depois certo tempo sentei e encarei os meus dois joelhos, aquilo era tão comum. Eu tinha tantas cicatrizes espalhadas e acho que um dia vou anotar quantas vezes eu derrubei pessoas, cair em lugares estranhos e passei vergonha pelo desastre. "Esquisita e desengonçada " aquelas palavras passam e repassam em quase todo momento, tinha que ser agora? hora perfeita para estragar o meu momento de paz que passa de um sentimento caloroso para um sentimento de dor. Eu não poderia ser apenas mais uma? Sem nada que escandalizasse as pessoas, sem ser bizarra? Sem tantas cicatrizes inaceitáveis?
Sei que é bobo mas eu acho que nunca deixaria alguém tocar e sentir a imperfeição sobre minha pele. Mesmo sendo bobo, aquilo sempre doeria em meu peito, cada marca profunda, como as paredes rachadas e velhas, eu odiaria ser encarada por alguém como uma casa rachada.
Tudo precisava ser assim? Eu precisava ser assim? Paradoxos e paradoxos... Isso é tão bobo, as dores, os medos. Mas o que uma garota de dezessete anos entende da vida? Será que sempre serei notada pelo o que luto para ser invisível , sempre serei invisível pelo que luto para ser notado? Eu sou tão além do que acho que sou?

É, não importa qualidades. É como uma boneca de porcelana que foi rachada com o tempo, Não importa a beleza. A rachadura será a primeira coisa visível.
"bonequinha frágil e sem nome, te racharam e você continua com o olhar pleno esperando contemplação. Mas as pessoas sempre observarão a sua imperfeição"

Uma lágrima solitária desceu em meu rosto. Levantei e decidir esperar minha mãe no andar de cima. Tentar me concentrar em outra coisa, um livro será bem vindo.
Mas não conseguir esquecer a bonequinha que criei, me apeguei a um pensamento constante. "bonequinha me perdoe, tocar insensivelmente em suas feridas" acho que um pedido de perdão a deixará mais leve. como algo ingênuo que com toda certeza chegaria a pensar, preciso de um motivo para a bonequinha sorrir. Finalizo meu devaneio com uma promessa.
Bonequinha eu poderia tentar achar algo e fazer valer a pena e tirar ou esconder as dores tornar todo caos sua força. eu tinha uma missão, a bonequinha precisava aprender a viver com sua imperfeição. A bonequinha será um reflexo , eu preciso provar que ela ainda é porcelana delicada e que algo na sua existência precisa ser vivenciado. eu não serei a primeira a dizer que não posso lutar. A bonequinha sou eu.

" É uma dentre a pequena legião que carrego, cada qual extraordinária por si só. Cada qual uma tentativa - uma tentativa que é um salto gigantesco - de me provar que você e sua existência humana valem a pena"
~ A menina que roubava livros.


••• >< •••

Não vi a hora que minha mãe chegou. Passava da meia noite quando cair no sono a espera , enquanto folheava as páginas do meu livro. as poucas palavras que eu li , me fizeram pensar sobre objetivos, o mundo e aspectos diferentes.

Antes de cair no sono e ler as últimas frases do capítulo,desci e observei a rua vazia pela janela a procura de um algum sinal de vida. Que não encontrei.
Queria contar a ela sobre meu dia ou sobre o incidente e que não se preocupasse. Mas pelo horário, o dia foi bem estressante.
Desci e contemplei o silêncio por um tempo.
Fui a cozinha e me arrisquei em criar algo que não fosse um sanduíche de queijo com salame e um copo de suco. fiz uma macarronada com o que eu encontrei na geladeira. E por volta de 23 da noite, deixei um prato com o jantar no micro-ondas para quando minha mãe chegasse não se preocupasse.

23:15 ~ kira : Mãe, o dia foi bom, não se preocupe com nada. E nem sinta remorso por não ter perguntado.

23:15 ~ kira: seu jantar estar no micro-ondas espero que goste. Juro que estou me esforçando para melhorar na cozinha :)

23:16 ~ kira: também não se preucupe com o café da manhã, vou mais cedo para me acostumar com o refeitório.

Eu sabia que ela estaria cansada de mais para se preocupar pela manhã , eu não queria de fato conhecer o refeitório, eu não queria ir a escola, queria um tempo para pensar e descobrir como seria mais um dia de aula. Era algo novo novamente por causa da reação na aula de história. procrastinei meus pensamentos do que fazer amanhã e agora eu não sei como vou lidar.

4:00 mãe ~ cheguei quase agora, obrigada pelo jantar, não sei se foi a fome, mas foi a melhor macarronada que eu comi, o que faz o psicológico? Rsrs : )
Me perdoe e eu amo você.














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