Cap.4

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Ano de 520, capital do reino de Canaã, Nortúmbria

Relato de Gael

Com o passar do tempo..
Percebo que todos esses flashbacks na minha cabeça sobre minha infância e sobre as pequenas aventuras que vivi me dizem muito sobre o quão raso eu me encontro agora. A vontade de querer um nome me consome a um tempo. Receio dizer que a figura abstrata do jovem que meu consciente cria de mim mesmo é algo rabiscado e com tons profundamente tristes. A única faísca de cor que remete à vida seria a chama acesa em meu peito e em meus dedos.
Entenda, não que eu não saiba quem eu sou, mas aparentemente não sou nada do que achei que fosse e estou longe de ser quem eu quero.
Um mago.. um simples mago. É isso que sou. E aqui sete palmos abaixo do chão encubado nessa caverna de pedras, nesta sala de barro, onde a luz não dança em todos os cantos, onde os tons terrosos criam uma atmosfera precária.. eu percebi que não sou muita coisa.
Um plebeu.. um simples plebeu. Não seria uma hipérbole dizer que comparado aos nobres eu sou esterco. E não que eu queira de forma alguma me parecer com eles.. apenas sei que nesse mundo de cavaleiros quem não brande espada é impotente contra o corte.
A força que é explícita nas escritas humanas sobre os celestiais me deixam num vácuo gigante amontoado de dúvidas sobre a existência, criação e vida destes seres e por meu eu que em vigília se pergunta quem és, a ideia de minha mãe de ser sacerdote veio a calhar e para mim.. acatar tudo isso é algo rentável mesmo que isso signifique sacrificar muito da minha vida.. não poder ver sempre minha família ou amigos.. não poder me casar. Se bem que este último não é algo que parei para pensar ainda.
Para alguém como eu que ainda não conseguiu ao menos decidir como lutar para ser quem é, amar é como assinar a sentença de forca para meu emocional frágil. Saber que o amor de minha família basta é satisfatório e suficiente. Além de que a vida que levamos como meros pedintes.. não me deixa acender fogos de esperanças.
Desde cedo vi minha mãe se sacrificando e dando suor sangue para nos alimentar... Desde pequeno fui ensinado que devo obedecer as leis e agradecer pelas migalhas que recebo.
Sabe o problema do direito coletivo? Ele te tira a liberdade individual.
O indivíduo que sou embora saiba técnicas de combate, nunca sequer ganhou uma luta sobre oque realmente ele queria. Sempre viveram me falando oque eu queria ou precisava.
A consequência de não se ter nada é por muita das vezes a ambição de querer o impossível por meios corruptos, a consequência de ser ter tudo é querer se encher com mais absurdos materiais e a consequência de ter status é a perda da privacidade e o julgamento de vigília... Como aquele príncipe que por melhor seu coração, seus atos não condiziam com sua posição.. dando a ele a pior sensação.. a impotência.
Sobre isso tudo e sobre quem sou? Sobre fazer de Gael de Nortúmbria um nome.. tenho apenas sonhos..sonhos que ultimamente me fizeram pensar e reformular minha chamas.. acende-las quantas e quantas vezes forem necessárias. Queimar tudo ao meu redor e até à mim mesmo.
Ouvi sobre o conto do crepúsculo e sobre o mago que a muitos e muitos anos atrás o escreveu, fazendo seu nome se tornar história e de alguma forma mudar todo o universo mágico. E olhando agora para essas runas e os princípios magos na qual eu deveria seguir sinto que a liberdade está na solitude.


- Ei.. psiu.. Gael - grita Liz - oque está fazendo olhando para esse quadro? Está aí a minutos
- Oh, me desculpe.. me perdi nós desvaneios novamente..
- Vem, vamos sair daqui.

Aí saírem do quarto apertado dentro da caverna e por um segundo Gael virar para olhar para trás, seu coração se sentiu ainda mais incomodado. A sala se escureceu ainda mais e as runas daquele quadro brilharam. O conto do crepúsculo estava se cumprindo e o destino de Gael cada vez mais próximo de ser selado.

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