O Casamento • Shawmila

Capítulo 4

Na manhã do dia seguinte, liguei para Hailey.

- Como assim ele disse que não quer mais ir para o Havaí? - ela gritou comigo pelo telefone.

- Foi o que ele disse, Hailey - respondi, calmamente.

Por mais que estivesse me pagando pra trabalhar com ela, eu não ia abaixar a cabeça e correr em direção a um cantinho pra chorar quando Hailey gritasse comigo. Eu era uma mulher autossuficiente e uma ótima profissional. Pouco me importava se ela era famosa e ia casar com Shawn Mendes. Ela tinha que me respeitar da mesma maneira que eu a respeitava.

- Mas eu já tinha avisado todo mundo que ia ser no Havaí! Meu vestido já está sendo feito e é para o calor. Shawn quer se casar nesse frio do caralho de Nova York? Por que? - ela perguntou.

Suspirei e dei de ombros. Se ela não conseguia entender Shawn, quem conseguiria?

- Não sei, Hailey. Liga pra ele e definam isso logo, porque tenho que sair atrás do salão, do buffet, dos convites, das flores, da confeitaria, da igreja e da lista de presentes. Vocês já sabem onde vão passar a lua de mel? - suspirei de novo.

Por que eu não podia ter escolhido um trabalho que desse menos trabalho? "O trabalho enobrece o homem". Pelo amor de Deus, quem foi que disse essa idiotice?

- Sim, já sabemos. 5 dias em Paris, 4 em Londres, 4 em Madrid, 5 em Veneza, 5 em Tóquio, 4 em Dubai - corri para pegar meu bloquinho e comecei a anotar - Exatamente nessa ordem. Por favor, prepare todas passagens com as companhias aéreas. Acho que não tenho que te lembrar que todas devem ser compradas na primeira classe. Quero sair na manhã do dia 23, já que o casamento vai ser dia 22.

- Tudo bem, está tudo anotado - suspirei alto - 22 de dezembro? Essa é a data definitiva?

- Sim.

- Tudo bem, então. Vou providenciar tudo até lá. Tem preferência de empresa aérea? - perguntei, finalizando.

- Não.

- Tudo bem.

- Vou ligar para Shawn e te retorno em cinco minutos com a resposta do local do casamento.

Hailey desligou na minha cara. Nem tive chance de dizer nada. Bufei e olhei meu caderninho de anotações. Eles iam ficar quase um mês fora. Eu ia ter que ligar para a assessoria de Mendes de novo e manda-los clarear a agenda dele do fim de dezembro até a metade de janeiro.

Meu celular tocou e eu atendi.

- O casamento vai ser em Nova York mesmo - Hailey confirmou.

-Tudo bem. É bem mais fácil arrumar tudo por aqui, até porque Nova York é uma cidade especializada em tudo. Seu casamento vai ser divino, Hailey. Não se preocupe - eu a acalmei.

- É bom mesmo que seja mesmo. Você sabe que estamos te pagando exatamente por isso.

Ai, essa doeu.

- Não se preocupe - repeti.

- O que você vai fazer hoje com Shawn?

- Levá-lo à Hugo Boss para escolher o terno. Também vou ajudá-lo a fazer a lista de convidados e, depois, vamos dar uma olhada nos convites.

- Não se esqueça de tirar foto de tudo isso e me enviar. Se eu deixasse Shawn escolher, ele se casaria com um terno azul -ela bufou.

- Não bou deixar isso acontecer - respondi.

- Tudo bem. Me mande as fotos de cada terno e eu vou escolher um. Mande também os estilos dos convites. Não suporto tons pastel. Escolha algo mais puxado para o salmão.

- Tudo bem. Até mais.

Desliguei na cara dela, só pra ela ver como é frustrante. Suspirei alto antes de me levantar do sofá e ir para o chuveiro. Terminei de tomar banho e me troquei. Saí de casa sem muita pressa. Passei numa Starbucks e comprei dois cafés. Peguei o celular e liguei pra Shawn.

- Alô? - ele disse, sonolento.

- Acorde e brilhe, luz do sol! - dei risada.

Fiz sinal para um táxi parar e entrei no carro. Dei as direções do Four Seasons e o motorista seguiu direto para lá. Torci para que o trânsito não tivesse tão ruim.

- Está muito cedo pra você me ligar, não acha? - ele perguntou.

- Na verdade, não. Estou acordada há umas duas horas.

- Que horror - ele soltou um muxoxo - Tenho pena da sua vida.

Dei risada. Shawn parecia estar de ressaca. Também, quem mandou beber. Ele teria que aprender a ser mais regrado daqui pra frente, especialmente algumas semanas antes do casamento. Ele teria que se comportar como um príncipe ou como um rei: justo, direto, de boa índole e simplório. Nada de espalhafatoso.

- Estou chegando no hotel e estou levando café.

Ele deu risada.

- Obrigado. É exatamente disso que eu preciso agora.

- Foi o que eu imaginei. Que tal parar de beber?

- Que tal não se meter na minha vida? - ele rebateu.

Comecei a rir descontroladamente. Shawn Mendes havia mostrado suas garras pela primeira vez. Ele nunca foi desrespeitoso nem rude comigo. Mas acho que lhe dizer o que fazer não era algo que ele gostava. Era uma ironia, já que Hailey só mandava nele.

- Boa resposta, senhor Mendes.

Ele percebeu que eu levei na brincadeira, então não pareceu muito tenso.

- É, eu sei. Não sou a melhor pessoa de manhã.

- Estou percebendo. Não me importo com isso.

- Que bom - ele suspirou - O que vamos fazer hoje?

- Comprar seu smoking.

Shawn suspirou alto.

- Vou descer até o térreo e te encontro lá.

- Tudo bem. Tchauzinho.

- Tchau - ele riu antes de desligar.

O táxi parou na frente do hotel poucos minutos depois. Paguei a corrida e saí do carro. Entrei na recepção. Shawn encarava um dos quadros que enfeitavam as luxuosas paredes. Parei do lado dele e lhe estendi o café. Ele nem mesmo olhou pra mim enquanto pegava o copo e dava um pequeno gole. Fez uma careta, mas continuou bebendo.

- Vamos? - perguntei, olhando o quadro também.

- Vamos.

Segui na sua frente. Ele apoiou a mão na minha cintura - o que eu achei muito estranho, mas não disse nada - e nós seguimos até o elevador. Descemos até a garagem do hotel e entramos no banco de trás num grande carro escuro. Um dos trogloditas já estava no volante e nós seguimos para fora do estacionamento. Chegamos na Quinta Avenida pouco depois. O troglodita motorista parou em frente a loja da Hugo Boss e nós descemos.

Fomos atendidos da melhor maneira possível. Eles nos ofereceram champanhe e caviar. Eu aceitei o champanhe, mas proibi Shawn de beber. Ele espumou por alguns segundos, mas não argumentou comigo. Ele sabia que eu estava certa.