Capítulo 10

122 16 1
                                    


O mesmo carro de sempre - grande e escuro - nos esperava na frente do Four Seasons. Pela primeira vez em muito tempo, vi alguns paparazzi nos cercando. Shawn me puxou pelo braço calmamente, só para ter certeza que eu estava logo atrás dele e nós caminhamos com relativa lentidão até a porta de trás do carro.

- Isso foi uma surpresa - comentei, assim que já estávamos lá dentro.

- Eles estavam escondidos antes, mas estão ficando mais ousados agora - Shawn deu de ombros - Espero que não se importe.

- Sem problemas. Não é como se eu tivesse opção - comentei, com um sorriso de canto.

Shawn soltou uma risada fraca e assentiu com a cabeça. Quando olhei em seus olhos, foi como se ele tivesse dito as palavras "não é como se eu tivesse opção também" e eu me senti mal por sua vida ser recheada por aquelas coisas. As câmeras, os flashes, os fãs, toda aquela atenção. Parei para perceber que, em todo aquele tempo tentando descobrir Shawn, eu havia deixado de lado o fato que mais mudava sua vida: a fama. As olheiras debaixo dos seus olhos e o olhar cansado depois de passar por um grupo de paparazzi mostravam claramente o quanto aquilo tudo era estressante. E eu senti pena. Muita pena dele.

- Mas enfim, aonde vamos? - coloquei a mão em seu braço para chamar sua atenção.

- Já te disse que é surpresa! - Shawn respondeu, franzindo as sobrancelhas e abrindo o sorriso.

– Mas ah, eu quero saber! Uma dica, só uma. Por favor – pedi, fazendo beicinho.

Shawn deu risada e desviou o olhar. Quando voltou a olhar pra mim, estava revirando os olhos.

– Nós vamos ao Central Park.

– Ao Central Park? – repeti, surpresa.

Morando em Nova York, ir ao Central Park era uma coisa que eu fazia praticamente toda semana. Mas, do mesmo jeito que eu tive uma nova experiência quando fui ao observatório do Empire State com Shawn, dessa vez não seria diferente. Mesmo estando acostumada ao Central Park, algo faria com que essa nossa visita fosse especial, diferente das outras.

– Não faça essa cara – Shawn me repreendeu e colocou a mão no meu queixo.

– Não estou fazendo cara nenhuma – respondi, sorrindo e jogando a cabeça pra trás para que Shawn não me tocasse.

Ele deu risada e me encarou nos olhos.

- Está, sim. Está fazendo aquela cara de "ah, não".

- Essa não é minha cara de "ah, não"! - eu disse, em minha própria defesa - Essa é a minha cara de "ah, outra vez?".

Shawn começou a dar risada e me levou junto.

- Sim, outra vez pra você. Nós vamos almoçar na casa de barcos hoje.

Meus olhos quase saltaram das órbitas e eu fiquei boquiaberta. Eu não comia naquele lugar desde que eu era criança. Sabia que era muito caro, mas não tinha ideia do quanto. Eu me lembrei da conversa que tive com Shawn dias antes, sobre como seria legal se a minha festa de casamento fosse lá. E agora nós estávamos nos dirigindo até o mesmo estabelecimento para almoçar. Shawn me olhou, satisfeito.

- Gostou da ideia? - ele perguntou, uma das sobrancelhas arqueada.

- Adorei - consegui me fazer falar - Vai ser incrível.

O resto da nossa jornada foi curto e silencioso. Nós paramos bem perto da casa de barcos, mas tivemos que ir caminhando até chegar a ela. Para minha surpresa, não havia mais ninguém no restaurante. Enquanto um garçom prestativo nos levava até a nossa mesa, eu olhava em volta e tentava não pirar com o fato de que a casa de barcos começava a ficar rodeada de estranhos com suas máquinas, além dos paparazzi.

Nós nos sentamos bem no meio do restaurante. Só havia a nossa mesa.

- O que você vai querer? - Shawn me perguntou.

- Pode escolher - dei de ombros.

Ele sorriu e deu uma olhada no menu, escolhendo um prato caro. O garçom sorriu e saiu para mandar fazer o pedido. Voltei a olhar ao redor de nós. Mesmo estando protegidos pela casa de barcos, as paredes eram envidraçadas. Todos lá fora nos encaravam e tiravam fotos. Nos primeiros cinco minutos, foi estranho. Nem eu nem Shawn conseguíamos formular uma conversa decente, então ficamos em silêncio a maior parte do tempo. Depois que eu comecei a me acostumar com aquele tanto de atenção, meus ombros foram relaxando e eu fui me soltando. Não havia razão para ficar tão preocupada daquele jeito. Aquelas pessoas não conseguiam escutar o que nós estávamos falando.

- Isso é estranho, eu sinto muito - Shawn se desculpou.

- Não tem problema. Essa é Nova York, eu devia estar acostumada. Tem sempre alguém vigiando seus passos por aqui - abri um sorriso tranquilizador.

Shawn sorriu de volta pra mim e olhou ao redor. Eu me inclinei um pouco para frente e coloquei minha mão em cima da sua, trazendo sua atenção de volta para mim. Não queria que ele pensasse no quanto era desconfortável o fato de que havia uma pequena multidão lá fora nos vigiando. Queria que ele se focasse no nosso almoço, porque era aquilo que valia a pena.

- Então, Nova York. Você gosta de Nova York? - perguntei a ele.

Shawn abriu um leve sorriso e olhou para minha mão em cima da sua. Eu entendi o recado e recolhi minha mão, coçando a cabeça. Esperava que ninguém tivesse visto aquilo, porque tinha sido ligeiramente embaraçoso, sem contar idiota.

- Adoro. É uma das minhas cidades favoritas - ele respondeu, sorrindo.

- Eu também amo Nova York. É o meu lugar favorito em todo o mundo - dei de ombros e respondi, mesmo ele não tendo me perguntando - Se bem que não viajei o mundo inteiro. Que outras cidades mais você gosta?

- Tóquio é bem legal - ele respondeu, assentindo.

- Ah, jura? Nunca fui.

Shawn assentiu com a cabeça.

– É bem legal. É bem diferente do Ocidente, sabe? E eu gosto de coisas orientais, são legais.

– Parece ser uma cidade muito diversificada – comentei.

– E é. É um dos poucos lugares onde eu posso sair na rua sem ser reconhecido, sabe?

– Isso deve ser legal pra você.

– É muito bom.

Nós ficamos em silêncio por poucos segundos.

– Sabe um lugar que eu nunca fui, mas sempre tive vontade de ir? Paris – eu disse.

Shawn franziu as sobrancelhas e me encarou confuso.

– Você nunca foi pra Paris?

– Não. Já fui pra Londres e Amsterdã, mas nunca fui pra Paris.

Ele deu risada e assentiu com a cabeça.

- Um dia eu te levo. Te levo pra Tóquio também, se você quiser.

- Vou adorar, tenho certeza - respondi, dando risada.

- Estou falando sério! - Shawn completou.

- Eu também! Quero ir para todos os lugares possíveis e, se você puder me levar, melhor ainda porque não vou ter que gastar com a passagem.

Shawn deu risada de novo. O garçom apareceu naquele momento, trazendo nossas entradas. Nós paramos de conversar por aquele pequeno período de tempo enquanto éramos servidos e comemos um pouco antes de voltar a conversar, mesmo o garçom já tendo indo embora. Depois de já terem se passado alguns minutos, eu retomei a conversa.

- Aaron e eu planejamos ir para Paris várias vezes, mas nunca deu certo. Acho que é um desses lugares que você tem que ir com a pessoa certa, sabe? Às vezes foi por isso que nós nunca chegamos a ir, porque nós só estávamos dando errado - dei de ombros.

Shawn me encarou enquanto mastigava e deu de ombros.

– Se nós fôssemos agora, antes do meu casamento, eu te levaria a ótimos lugares. Você iria adorar a Champs Élysées e o Arco do Triunfo. Nós iríamos à Torre Eiffel, ao Jardim de Luxemburgo e ao Palácio de Versalhes. Seria ótimo. E eu poderia te foder em todos esses lugares – Shawn voltou a colocar a comida na boca e me olhou de um jeito provocativo.

Dei risada e desviei o olhar. Ele sabia exatamente como me animar e como me fazer querer algo a mais. Se as paredes da casa de barcos não fossem envidraçadas, depois do almoço eu gostaria muito que Shawn me fodesse ali mesmo.

– Você está tentando me atingir? – perguntei.

– Atingir você? – ele me encarou de uma maneira inocente – Claro que não!

– Você não está conseguindo, Mendes – arqueei uma sobrancelha.

Debaixo da mesa, comecei a tentar tirar meu sapato. Tive que me inclinar um pouco para ajudar com a mão, mas logo meu pé direito estava descalço. A mesa em que nós estávamos era coberta por uma longa toalha, então tudo que o que acontecia debaixo dela, ninguém podia ver. Tateei procurando os pés de Shawn e os achei. Fui subindo pela sua perna até chegar à parte interna de sua coxa. Ele parou de comer quando percebeu o que eu estava tentando fazer e me encarou de um jeito malicioso.

– Você está tentando me atingir? – ele perguntou.

– Não estou tentando, estou conseguindo – murmurei.

Com o pé, comecei a acariciar o membro de Shawn por cima da calça. Do jeito que ele me encarou, eu estava fazendo a coisa certa. Senti quando seu volume cresceu e Shawn se ajeitou na cadeira para se ficar mais próximo da mesa. Seus olhos não descolavam dos meus e aquele tanto de contato visual já era o suficiente para me deixar com tesão, porque eu conseguia ver o quanto ele mesmo estava excitado.

– Então, Paris? – Shawn perguntou, tentando aliviar o assunto – É pra lá que você quer ir primeiro?

– Ah, sim. Definitivamente – respondi, abrindo um sorriso malicioso sem deixar de acariciar o membro de Shawn com o pé.

Quando o garçom apareceu, Shawn se apavorou tanto que quase derrubou o copo e o prato no chão. O garçom tirou nossas entradas e trouxe o prato principal, não sem antes Shawn lhe perguntar onde era o banheiro. Quando ele saiu, pude ver que tentava esconder muito bem uma completa ereção. Comecei a dar risada sozinha e recoloquei meu sapato.

Alguns minutos depois, quando Shawn voltou do banheiro, ele já estava aparentemente normal. Ele se sentou e nós comemos em silêncio. Foi só depois de terminar de almoçar e depois de decidir qual sobremesa nós queríamos que voltamos a conversar normalmente.

- Tive que ir me aliviar no banheiro - ele explicou.

- Bem, isso é meio óbvio - revirei os olhos e dei risada.

- Não, não estou falando sobre isso. Estou falando sobre você, seu pé e suas tentativas de me atingir - ele respondeu.

Fiquei boquiaberta. Shawn foi se masturbar no banheiro? Comecei a dar risada. O garçom trouxe nossa sobremesa e eu comi entre risos. Quando finalmente consegui parar de rir, nós já havíamos terminado de comer tudo. Shawn olhava pra mim, com um sorriso no rosto.

- Vou me casar em pouco tempo - Shawn comentou - Você consegue acreditar nisso?

- Consigo - abaixei o olhar - E odeio quando você fala nisso.

- O que? - Shawn riu - Por que?

- Porque, quando estamos transando, quero que pense em mim. Mas quando não estamos, quero que pense que vai se casar. Mas não quero que diga isso em voz alta, sabe? Essa situação já é tão confusa e aí você fica me lembrando toda vez que sou eu quem está preparando seu casamento. E eu gosto tanto de foder você. Então, é estranho - desabafei.

Shawn deu uma risada e me olhou com interesse.

– Sei que você não gosta quando falo do meu casamento, dá pra ver nos seus olhos – ele afirmou.

– Então por que você fala? – perguntei.

– Porque eu não quero que você se esqueça e nem que se envolva – ele respondeu.

Desviei o olhar. Ele era um cara tão confuso. Às vezes me deixava possessa falando do próprio casamento e às vezes me dizia coisas bonitinhas, coisas que não deveria dizer. Era só sexo, nós não deveríamos encher o resto do nosso tempo com palavras.

– Você disse hoje que não ia se esquecer de mim. Esse é o tipo de coisa que eu também não quero ouvir – acrescentei.

– Eu estou acostumado a dizer coisas assim para uma garota, é automático.

- E o seu acesso de ciúmes de Nash no outro dia?

- O que isso tem a ver? Camila, o que você está tentando provar? Está tentando fazer com que eu admita que eu goste de você?

- Claro que não, porque eu sei que não gosta - bufei.

- Mas eu gosto.

Eu o encarei, de olhos arregalados.

- Não do jeito que você está pensando agora, mas eu gosto de você. Gosto de passar tempo com você, porque eu te acho uma pessoa muito fácil de lidar. Você não é cheia de enigmas como a maioria das garotas. Por exemplo, essa conversa que estamos tendo agora. Isso é porque você está se abrindo comigo, está me dizendo a verdade. Eu gosto do quanto você é verdadeira, eu preciso de gente assim na minha vida. E eu gosto de foder você - Shawn acrescentou, falando baixinho.

– Eu também gosto de foder você – murmurei.

Ele abriu um sorriso de canto que me fez rir involuntariamente.

– Que bom. Eu só quero que nós dois estejamos satisfeitos com o nosso acordo, tudo bem?

– Tudo bem – assenti.

– Tem algo que você queira adicionar ao acordo? Ou mudar?

– Não, não, está tudo bem – pausei – Você se sente culpado? Por causa disso?

Shawn desviou o olhar e pareceu pensar no assunto. Quando voltou a me olhar, eu não sabia dizer se ele ia me contar a verdade ou a mentira, porque tinha uma barreira em seus olhos que me impedia de ver quem ele realmente era. Sua resposta, independente de qual fosse, era muito bem pensada e calculada.

- Não, porque não estou traindo Hailey emocionalmente. Se nós estivéssemos nos envolvendo, aí sim. Mas é só sexo - ele deu de ombros.

Eu assenti com a cabeça e abaixei a cabeça. Para os homens devia ser muito mais fácil mesmo, separar o sexo do sentimento. Não que eu tivesse dificuldade em fazer aquilo com Shawn. Nunca senti nenhuma espécie de sentimento por ele, a não ser carinho. Eu gostava de ficar com ele também, gostava das nossas conversas. Mas não era nada de mais.

- Às vezes eu me sinto culpada, mas aí eu me lembro do quanto eu sofri pelo Aaron por todos aqueles meses e eu só me sinto... poderosa.

Shawn abriu um sorriso.

- Eu faço você se sentir assim? - ele perguntou.

- De uma maneira, sim. Quebrar as regras sempre dá esse sentimento de rebeldia, não dá? - rebati - Mas sim, você é uma grande parte disso.

– Gosto de saber disso – Shawn respondeu, mordendo o lábio inferior.

O garçom apareceu mais uma vez, agora para tirar todos os nossos pratos. Shawn pagou o almoço e nós nos levantamos para sair. A pequena multidão lá fora tinha diminuído consideravelmente e agora só restavam alguns fãs. Shawn me olhou por alguns segundos, como se pedisse por algo. Eu franzi as sobrancelhas.

– O que é? – perguntei.

– Posso ir lá dar um oi? – ele pediu.

Dei risada e assenti.

– Mas é claro que pode!

– Jura? Hailey não gosta que eu faça isso, mas eu prometo que não vou demorar!

– Não se preocupe com isso – eu lhe disse, dando de ombros.

Enquanto Shawn cumprimentava os fãs, tirava fotos e autografava coisas, eu chequei meu celular à procura de coisas novas. Havia uma nova mensagem de Nash confirmando nosso jantar na sexta. Meu Deus, ele estava desesperado. Confirmei o jantar e guardei o celular de novo. Shawn voltou para falar comigo poucos minutos depois, sorrindo de orelha a orelha.

- Obrigado por esperar - ele agradeceu.

- Imagina, não tem problema nenhum. São seus fãs, não são? Isso é o mínimo que você pode fazer por eles enquanto esperavam que nosso almoço terminasse - abri um sorriso.

Shawn sorriu para mim e passou o braço pelos meus ombros. Nós caminhamos assim até o carro. Ele me deixou subir primeiro e me ajudou, empurrando minha bunda para cima. Assim que eu me sentei no banco de trás, Shawn pulou e se sentou ao meu lado. Ele pousou a mão na minha coxa e a apertou. Quando olhou em meus olhos, eu podia ver de novo a malícia predominar aqueles lindos olhos castanhos.

-Espero que você esteja preparada - ele murmurou.

- Para que?

- Quando chegarmos ao Four Seasons, eu vou foder você até você me pedir pra parar.

O Casamento • ShawmilaOnde histórias criam vida. Descubra agora