Primordiais

- A festa de aniversário -

00h00.

Tiego abre um olho e o coloca na tela de seu celular, sobreposto sobre sua pequena cômoda ao lado de sua cama. O celular agora vibrava e em sua tela via-se a foto de uma mulher branca de cabelos ruivos, sorrindo para Tiego. Sobre a imagem, as palavras "Feliz Aniversário para nós". Um pequeno sorriso se formou nos lábios do menino, que acabara de completar os seus 15 anos.

Exatamente à 00h noite do dia 28 de Agosto de 1999, no Hospital Municipal, Tiego Bianqi vinha ao mundo, com uma boca escancarada emitindo suas primeiras notas. Um bebê branquelo de cabelos muito castanhos. Assim que os lábios de sua mãe, Manoela, tocaram sua testa, o garotinho rapidamente silenciou seus gritos, e direcionou os seus ouvidinhos à voz de sua mãe.

- Meu menino - sussurrou a moça

- É, um bom dia pra nós dois Florence. - murmurou Tiego, depois de apagar a tela de seu celular, já de olhos fechados e enfiando a cabeça para debaixo da coberta.

                                              ***

Era sábado, Tiego acordou por volta das 9 da manhã, já esticando os braços e dizendo para si mesmo que seria um ótimo dia, afinal só se faz 15 anos uma vez na vida. Sentou-se e pôs as pernas para fora da cama no exato instante em que um arrepio percorreu por toda a sua espinha, indo até a base do pescoço, como um sopro em sua orelha.

- O que ...

Tiego não conseguiu terminar a frase, seu celular tocou e quando o garoto olhou para o mesmo, a foto de uma garota com óculos de sol de gatinho e um cachecol da sonserina (estranha combinação) saltou da tela olhando para ele. Era Alina, sua amiga da escola.

- Como estamos na data de hoje? - perguntou Alina, assim que Tiego deslizou o dedo pela tela do celular, podia jurar que sentia um sorriso no rosto da amiga

- Estamos ótimos, eu acho - respondeu Tiego

- Como assim "eu acho"? Hoje com toda a certeza estamos mais do que ótimos porque é um dos poucos dias do ano em que uma coisa realmente boa acontece, o seu aniversário seu panaca! - esbravejou a garota do outro lado do telefone

Alina Oliveira era a típica garota gata e descolada da escola, que não ligava pra muita coisa, embora fosse uma das mais inteligentes da turma, e que não negava sua necessidade patológica de dizer que a vida é uma merda todos os dias. "As pessoas costumam dizer que a vida é uma roda gigante, cheia de altos e baixos, mas é mentira. A vida é uma roda gigante quebrada e com defeito, onde a gente só fica embaixo, os dias que consideramos bons são só um dia onde não acontece tanta merda", costumava dizer a garota, enquanto comia seu costumeiro sanduíche com mostarda na hora do almoço.

- Eu tive uma sensação estranha agora a pouco, mas não foi nada, deve ter sido o vento que passou pela janela - disse Tiego

- Sim, foi só o vento. Hoje é teu dia e não vamos deixar nada estragar, nem que eu precise matar alguém - respondeu a garota

Esse é o bom de ter amigos sonserinos, matariam por você ou por sua felicidade.

- Muitíssimo obrigado pela dedicação, mas acho que matar alguém vai tornar meu dia meio complicado - informou Tiego

- Era só brincadeira cabeça de bagre, embora eu considere como uma opção, enfim, parabéns pelo o seu dia, te considero bastante - Tiego sabia que não ouviria as palavras "Eu te amo" sair da boca de sua amiga, seria mais fácil uma vaca cacarejar - Estarei aí a noite pra festa!

- Já disse que não vai ser grande coisa, só uma reunião de família - esclareceu o garoto pela 18ª vez - Não precisa se empolgar..

- Já sei, já sei, mas vou continuar dizendo festa de qualquer jeito, até mais tarde mané - respondeu Alina, já desligando a chamada