- Agatha -

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Tiego tinha relances de memória de estar sendo carregado, e de ouvir uma voz feminina.

- Você vai ficar bem - dizia a voz.

"Meus pais?", resmungava o menino.

Silêncio.

Tiego sentia uma forte dor de cabeça, como se ela fosse partir ao meio. Em seus sonhos havia um homem e uma mulher parados a porta de sua casa, ambos com os olhos totalmente negros, sem íris ou pupila. Olhavam para ele, um sorriso frio e sem alegria se formando no canto da boca. Os seus pais se lançavam sobre eles, mas o homem simplesmente erguia sua mão direita, um anel vermelho escarlate brilhava com uma luz intensa, ocorria um estrondo, e Tiego via seus pais caídos no chão, com os olhos revirados nas órbitas, uma expressão de terror no rosto, pálidos.

A mulher chamava por uma fera que surgia das sombras, um besta enorme em corpo de lobo e cabeça de hiena, atacava Tiego ao comando de sua ama.

"Mãe, pai"

Lembrava-se de ouvir vozes, tinha vislumbres de uma garota conversando com um homem, depois com outro.

- Preciso que vá depressa, pode ser? - dizia ela

Ela tinha cabelos completamente cor de rosa, mas não um rosa forte e chamativo, era mais pra um rosa bebê, um tom pastel. Eram incrivelmente lisos e longos. Era linda.

- Tiego? Você precisa acordar, a gente tem que ir. - ouviu novamente a voz da menina - TIEGO!

O menino abriu os olhos. Estava deitado no banco de trás de um carro. Olhou pelas janelas e viu que era dia, um sol fustigante brilhava no céu. Se sentou e sua cabeça rodou uns 180° graus, sentiu o estômago se revirar e achou que ia vomitar.

- Tiego! Tá me ouvindo?

- Caraca, esse moleque tomou uma parada sinistra. - Fez-se ouvir a voz de um homem

- Ele vai ficar bem. - afirmou a menina - Tiego, olha pra mim!

O garoto abriu os olhos mais uma vez, sua visão entrou em foco com dificuldade, mas finalmente seus olhos pareceram funcionar novamente. Olhou para a frente e viu a menina sentada no banco do carona, não parecia ter mais do que 17 anos, um rosto fino, de feições angulosas. No banco do motorista estava um homem de pele morena, bronzeada do sol. Os dois olhavam para ele.

Seus olhos se arregalaram numa onda de pânico aparente. Estava sentado no banco de trás de um carro, com dois estranhos olhando para ele, em Deus sabia onde. Pensou em abrir a porta do carro e correr, mas subitamente uma forte sensação de tranquilidade preencheu seu peito.

"Fique calmo, tá tudo bem." Ouviu a voz da garota em sua cabeça.

Imediatamente se lembrou que era dela a voz que ouvira no dia de seu aniversário.

- Era você. - falou - Você falou na minha cabeça ontem!

- Ela fez o quê? - perguntou o homem, olhando de Tiego para a garota, e dela para ele

- Nada, obrigado pela corrida. Aqui está seu dinheiro. - interpôs a garota e estendeu a mão para o homem

Porém, não havia nada na mão dela. Estava vazia. Mas mesmo assim o homem pareceu achar que estava um bolo de dinheiro, pegou, conferiu e depois guardou no bolso de trás.

- Valeu moça. - disse ele

- O que .. - começou o garoto

- Sai do carro agora! - ordenou a menina

Tiego quis protestar, mas mais uma vez seu corpo pareceu agir sozinho. Abriu a porta do carro e saiu. Já do lado de fora, a garota o segurou pelo braço e o levou a um canto escondido por algumas árvores da rua. Estava bastante movimentado o lugar onde estavam, várias pessoas andavam de um lado pro outro, carros, motos, ciclistas, passavam seguindo seu caminho. As pessoas falavam umas com as outras em um sotaque diferente, que ele imediatamente reconheceu. Cariocas.

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