Fator RH

Tudo fica estranho

Eu peguei um dos retratos caídos. Conhecia aquele rosto, O velho ascensorista! Lázaros, 01 de julho de 1613, dizia a placa. 

— Este cara é o ascensorista! — ouvi alguém dizer, por sobre meu ombro.

Me virei. Era a moça do terninho vermelho.

— Pois é. Dá pra acreditar! Olha essa data, deve se o tataravô dele. - rerespondi.

— Telma. — ela disse, me estendendo a mão.

— Gabriel. Vê se não aperta muito forte desta vez!

Ela riu. 

— Processo seletivo estranho esse, né!

— O mais estranho é que fui convencido a participar por esse cara aqui. — eu falei apontando para o retrato — só vim entregar uns documentos em outra empresa.

— Eu vim pelo anúncio no jornal que dizia “Esta é a oportunidade de mudar a sua vida! Venha fazer parte da Fator RH recursos humanos.” e como estava desempregada a alguns meses pensei, quem sabe não é essa a minha oportunidade de mudar de vida! 

— E acha que isso faz parte da dinâmica de grupo?

— Já ouvi falar que tem empresas que armam situações para testar a reação dos candidatos… 

Enquanto conversávamos, um rapaz desvirou a mesa com a ajuda do gordinho e subiu nela em seguida. Estava de camisa, gravata, colete de lã e calça social. Era muito alto e usava óculos.

— Olha ali… acho que ele deve saber ou acha que sabe o que tá acontecendo. — eu disse, apontando para ele.

— Escutem, meu nome é Robson. Essa bagunça toda faz parte da dinâmica e preciso da ajuda de vocês para pôr tudo em ordem!

— Quem te elegeu como líder? - gritou o rapaz loiro.

Ele estava sentado numa das cadeiras e com os pés apoiados em outra.

— Olha, eu já participei de muitas entrevista. Sei do que estou falando. Isso tudo é armado para ver como lidamos com a situação.

O rapaz loiro se levantou e disse, enquanto andava até o centro.

— Você falou, falou, falou, mas não disse nada! Na minha opinião, você está só querendo se mostrar, bancando o chefe. Quer ganhar pontos no processo seletivo?

— Todos aqui querem isso. - disse a Telma. — concordo com o Robson, era o que eu estava conversando com o Gabriel aqui, isso tudo faz parte do processo seletivo. Acho que é essa a situação aqui. Mas não sei o que eles querem.

— Obrigado colega! — disse Robson enquanto descia da mesa.

— Pode ser. — Replicou o loiro enquanto se sentava na mesa. — Mas será que nenhum de vocês tem outras idéias? 

— A gente podia tentar as portas… — Disse o gordinho.

— Ou esperar pra ver o que acontece! — falou um rapaz baixinho.

— Podíamos começar nos apresentando. — disse uma moça ruiva.

— E formar grupos… — disse uma loira.

— É disso que eu estou falando! — voltou a falar o rapaz loiro. — Gostei da idéia da apresentação! Vou começar, sou Walter e trabalho com seleção de pessoal a alguns anos. E este falastrão aqui é o Robson!

— É, meu nome é Robson. Estou no último semestre de Ciências contábeis. E quem pretende ajudar a pôr os móveis no lugar pode fazer um grupo comigo! — Robson disse isso olhando para o Walter e sorrindo.

— Eu sou André, e estou cursando RH e vou ajudar o Robson. - disse o baixinho.

— Eu sou a Telma. Estudante de RH também e quero começar a limpar a sala.

— Gabriel, entrei na seleção por indicação desse cara aqui. — mostrei o quadro do Lázarus. — tô no time da Telma.

— Joshua, técnico contábil. Fico com a Telma também.

— Rúbia, trabalho na área a 5 anos. Time Robson.

— Lara, estou procurando meu primeiro emprego. Fico no time Telma.

— Amanda. Graduada em ciências contábeis com pós em RH. Time Robson.

— Mauro. Tô achando isso uma palhaçada… mas fico no time do falastrão.

— E eu vou ficar no time da Telma… só pra equilibrar os grupos. — disse por fim o Walter.