Introdução
Hound Baskerville
Ele já havia perdido a noção de espaço, havia pouca iluminação naquelas ruas, poucos sons, o único som que era capaz de ouvir era seu próprio coração, batia tão forte que entorpecia seus sentidos e dava ritmo ao seu medo. Hound não ousou olhar para trás enquanto corria com o máximo de suas forças, para muito além do que seu corpo suportava. Sem qualquer noção do quanto já havia percorrido, sem entender do que estava correndo. Cada célula de si, o impedia de olhar para trás, seria como encarar o abismo, o próprio vazio em si, e se ele olhasse o abismo, o abismo poderia olhar para ele de volta. Em uma das ruas que ele dobrou, era um beco sem saída, mal iluminado, estreito, suas pernas estremeceram ao notar que se pôs em uma armadilha.
Hound possuía completa noção de que ele tinha a habilidade necessária para escalar as paredes daquele lugar e fugir. Ao pular, acreditava ser capaz de ir metros e metros para cima, sair daquele pesadelo. Mas sua vontade estava estremecida, a sua vontade de sair dali era maior do que a vontade de chegar a algum lugar. Olhar para o passado, sem confrontar seus medos, foi sua ruína, ele caiu de costas no chão depois de pular dois metros no ar. Bate suas contas, ele não seria capaz de fugir, sua mente clareou, era hora de permitir o abismo olhasse diretamente em sua alma, encarando-o de frente.
"Filho, eu gostaria de dizer que você está se tornando um homem incrível". Hound lembrou de seu aniversario de 13 anos de idade, ali deitado no chão olhando para o céu lotado de estrelas. "Ganheeei!", Hound disse ao seu pai naquele dia ao conseguir comer a comida até o fim primeiro.
- é, ganhou sim – nessa época ele era muito feliz com seu pai, eram apenas os dois, se mudavam constantemente, mas, seu pai era o seu melhor amigo – Filho, eu quero que você fique com algo – seu pai da uma risada um pouco sem graça – faz pouco tempo, que se eu tirasse você do meu colo, você chorava – Hound cruzou os braços, como quem diz, "não sei do que você está falando" – quero que você fique com a minha camisa.
Edward Baskerville, ele era um homem ruivo, de longos cabelos ondulados, sempre os prendia em um rabo de cavalo. Era muito brincalhão e nunca negava ajuda a ninguém, fazia o que achava certo independente da dificuldade, sempre que ia fazer algo importante, usava sua camisa de mangas compridas azul xadrez, sempre desabotoada, "todo herói precisa de uma capa", dizia isso ao seu filho. Hound nunca entendeu direito quem seu pai era, ele sempre foi brincalhão, muito bobo, mas em certos momentos, ele possuía uma aura em torno de si. Uma aura relaxante, como se ele fosse capaz de dizer "pode confiar em mim", sem usar nem uma única palavra. Para seu filho ele era mesmo um herói.
- Essa camisa, vai ficar grande em você agora – ele a tirou e ficou apenas com a blusa de baixo, colocou nos ombros do seu tão amado filho – mas você vai crescer – ele lembrava do dia que achou aquela criança abandonada num cesto na margem de um rio, muito longe dali – e você vai se tornar um homem incrível – lembrava do dia que viu pela primeira vez aquele bebê de cabelos vermelhos, que iria mudar sua vida e o ensinar sobre o amor – e essa camisa vai servir em você.
"Porque eu estou lembrando disso agora?", Hound ainda olhava para cima, se perdendo nas estrelas, deitado, sentiu seu corpo leve como se boiasse em água morna, seus sentidos estavam suaves. Seu coração já não mais era o único som que ele ouvia, ele era capaz de ouvir a palavras ditas no passado pelo seu pai, de forma clara. Ele segurou a manga de sua camisa, aquela mesma camisa xadrez, que hoje o servia perfeita. Mas Hound não se sentia digno dela, da memória de seu pai.
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ANIMA - O cão de guarda
FantasiaEm 1837, em Leeds na Inglaterra, a igreja secretamente ainda realiza a caça às bruxas. Num mundo onde magia e tecnologia influenciam no poder militar dos países, grandes planos estão sendo arquitetados. Hound, um homem de cabelos vermelhos e olhos c...