× t h r e e ×

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demi.

— Henry, já se passam três dias e isso está um inferno! — Gritei, no meio da sala.

Três dias vivendo um inferno com aquele ogro! Era desmerecendo todo meu trabalho, ou algo que eu fazia.

"Isso está mal lavado", "seu café está ruim", "você só come porcaria", "pare de cantarolar pela casa".

Sai em direção a varanda, batendo a porta. Eu iria agir como a criança que ele dizia que eu era.

Sentei lá fora, no chão mesmo, encostada na máquina de lavar roupa, chorando. Não. Eu não iria dar o gosto a ele de ver minhas lágrimas.

O único gosto que aquele homem devia sentir era o amargo da vingança. O único gosto que aquele ogro deveria sentir era das suas bolas sendo tão expremidas que entrariam no seu corpo.

Me arrependi de não ter pego meu celular na bancada enquanto saia de dentro daquele cubículo que era aquele apartamento. Agora não teria nada para destrair minha cabeça.

"Pare de cantarolar pela casa!"

Quem ele pensava que era? Quem?

Ele não gostava de mim? Tudo bem. Isso era recíproco. Ele implicar comigo a cada segundo durante 72h? Era demais. Eu estava tentando tornar aquilo mais suave, mas Henry não colaborava.

Não bastava eu ter a saúde emocional abalada, não bastava o mundo estar um caos, mortes e doenças. Não bastava não ter certeza de nada, nem do futuro. Henry tinha que me atormentar a cada segundo daquelas 72h horas.

Eu era meu próprio caos. Henry trazia mais tormenta ainda.

Pensei mais um pouco, até as lágrimas pararem de escorrer e eu ter a certeza que não estava mais chorando.

Quando confirmei, fiz a coisa que Henry mais odiaria.

Comecei a cantar.

🏙️

henry.

Demi bateu a porta, ouvi, mesmo com tudo fechado, seus soluços.

Demi estava chorando, por minha causa.

Eu tinha feito uma mulher chorar.

Quando ainda era uma criança vi uma tia chorar por causa de um cara, e me prometi que jamais faria uma mulher chorar. Bem ali do outro lado da parede, uma mulher chorava, por algo que eu tinha feito.

Repassei os últimos três dias na cabeça, minimamente. Demi tinha feito de tudo para ser uma convivência, pelo menos, agradável. Colaborava com as coisas no apartamento, não fazia muito barulho, só cantarolava pela casa, sua voz era muito bonita, linda, eu diria.

Olhando em retrospecto, eu tinha implicado com cada atitude dela. Cada coisinha. Desde o cantarolar, até com o que ela comia. O que eu tinha a ver com isso? Nada.

Percebi então, que sim, eu estava errado.

Eu estava estupidamente errado e tinha feito uma mulher chorar.

Comecei a me perguntar o porquê, e então a voz de Demi veio.

"Sim, princesas da Disney fazem serviços domésticos. E não me chame de princesa da Disney. Não é porque fiz sucesso quando estava lá que ainda sigo seus padrões e exigências."

Na minha mente, a sua voz e fala dizia que tinha algo ali.

Peguei meu celular e fiquei pesquisando.

Presos por AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora