Five

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Marceline on:

Os dedos de Bonnie acompanhavam os meus de maneira desajeitada nas teclas do piano, e eu me concentrava em não perder a melodia sentindo seu cheiro. Bonnie tinha o cheiro espetacular. Uma mistura leve de baunilha e pêssegos.

"Desde quando toca?" Ouvi sua voz baixinha.

"Desde os meus cinco anos." Respondi, tendo novamente aquele silêncio confortável.

A última nota se fez presente e eu arrumei minha coluna, sentindo um desconforto leve por ter ficado com a postura desleixada quando estava tendo as mãos da loira nas minhas.

"E sua família?" Perguntou, me fazendo ter vagas lembranças da mulher de cabelos longos e negros, pele clara e rosto angelical.

"Eu convivi com meu pai durante pouco tempo da minha vida... Dois anos apenas, quando ainda era um bebê. Mas sei que o relacionamento entre ele e minha mãe era abusivo... com meus três anos ele nos abandonou." Falei, me sentando do lado da garota, que me ouviu atenta. "Nós não éramos uma família milionária, estávamos longe disso. Com o término deles, minha mãe tratou de arrumar um emprego, já que meu pai era extremamente machista, e não permitia que a mesma trabalhasse. Quando minha mãe não estava em casa, eu ficava na casa de uma amiga que ela confiava muito, e lá que comecei a me interessar por música. Com cinco anos ganhei uma flauta de presente da minha mãe no meu aniversário." Eu sorri com nostalgia estampada nos olhos. "Minha mãe tinha um emprego bom, e com isso conseguir cursar moda. Quando eu tinha dez anos ela tinha uma lojinha pequena perto de casa. E com meus dezessete anos ela já tinha sua própria empresa, e seu nome nas capas de revistas. Tenho tanto orgulho da mulher que ela se tornou..." digo suspirando, eu estava com saudade de Madeleine.

"Ela realmente é uma mulher maravilhosa." Falou Bonnie sorrindo. "Então você trabalha com moda?" Perguntou e eu confirmei com a cabeça.

"Minha mãe me fez herdar tudo que ela conquistou, sou filha única." Falei passando a mão pelos cabelos, puxando para trás para tirar os fios do meu rosto.

"Você não parece muito confortável..." Bonnibel falou, eu ri um pouco. Ela estava certa.

"E não estou. Nunca concordei com a ideia de herdar o que era dela, tanto que eu não sabia que ela tinha passado tudo para o meu nome." Falei, Madeleine era teimosa 'pra um caralho. "Ela morreu quando eu tinha vinte e um anos, foi difícil pra mim seguir em frente, e dói até hoje. Mas sei que ela está em paz, e bem." Falei e senti a menor segurar minha mão direita e fazer um carinho leve com o polegar.

"Eu sinto muito..." falou em um sussurro, com a voz chorosa.

"Não sinta." Falei, olhando brevemente para Bonnie. "Ela estava doente, sofrendo muito. Investimos muito com remédios, tratamentos caros, nada funcionou. Hoje sei que ela está bem, e isso me conforta. Tenho ótimas lembranças com ela." Falei, sendo minha vez de segurar as mãos dela.

Ela deu um sorrisinho, ainda um pouco triste. Fitei seus olhos claros e ela me olhou um pouco envergonhada, mordendo levemente o lábio inferior, suas mãos estavam suando nas minhas.

Ela se aproximou levemente, e eu fiz o mesmo, suas mãos apertando as minhas levemente, demonstrando nervosismo.

Não contive um sorriso e soltei suas mãos, para me apoiar no banco e segurar seu queixo levemente com a outra mão, suas mãos apoiadas na minha coxa.

Selei nossos lábios com delicadeza, talvez até com medo. Ela era tão frágil, parecia que iria quebrar a qualquer momento.

Nossos lábios se movimentaram com calma, e pela primeira vez eu senti a maciez dos lábios naturalmente vermelhinhos.

Me afastei dela devagar, olhando em seus olhos, pedindo desculpas com os meus.

Mas não recebi resposta, apenas um puxão no colarinho e lábios violentos nos meus.

Com minha mão ainda em seu rosto, deixei meus dedos deslizarem até o pescoço da menor. E um suspiro escapou dos meus lábios. Minha mão encaixando impecavelmente no seu pescoço.

Fiz pressão ali e a menor se afastou rápido, os olhos arregalados me olhando com medo.

Merda Marceline!

Eu soltei seu pescoço com rapidez.

"Desculpa!" Disse um pouco desesperada.

Ela ainda me encarava, os olhos agora curiosos, e talvez cautelosos.

Eu me levantei sem esperar por ela e saí da sala de música com passos apressados, seguindo para o meu quarto, fechando a porta com um pouco de força.

Não era para eu ter beijado Bonnibel, caralho!

E se ela achar que trouxe ela para cá com essas intenções?! Ela vai me achar escrota. Não foi por isso.

Na verdade eu nem sei o motivo, eu apenas fiz, tive a necessidade de fazer.

Me sentei na cama e apoiei os cotovelos nos joelhos, prendendo meus fios de cabelo em um aperto com meus dedos.

Bonnibel on:

Vi Marceline praticamente correr para fora da sala de música, me deixando sozinha com meus próprios pensamentos.

O aperto... tinha motivo? Eu fiz algo mau? Ou ela simplesmente teve vontade de me estrangular enquanto me beijava?

Eu fiquei assustada, e ela percebeu, se desculpando, mas não foi ruim. Foi diferente...

Mas ainda sim tive lembranças traumáticas de quando eu era mais nova.

As mãos da minha mãe adotiva circulando meu pescoço, me fazendo perder o ar, me deixando tonta e com a visão escura.

Fechei os olhos com força, afastando os pensamentos ruins.

Mas... Ainda não entendi Marceline.

Por que ela ficou tão aflita?!

Me levantei do banco e saí da sala, indo em busca da morena.

Ela não estava em cômodo nenhum, só restava o enorme corredor cheio de quartos.

Olhei para as portas como se eu pudesse simplesmente adivinhar qual era seu quarto.
Fui batendo e abrindo porta por porta, e finalmente achei a maior, ainda desarrumada, agora longe de ter a expressão calma e séria de sempre.

"Marcy." Chamei indo até a maior.

"Desculpa, desculpa, eu não deveria ter te beijado. Não era essa minha intenção te trazendo para cá. Nem eu sei quais foram as minhas intenções. Eu apenas fiz. Desculpa." Falou ela, tudo de maneira rápida.

"Marcy, calma!" Pedi, chegando perto da morena.

Segurei seu rosto e ela me olhou, permanecendo imóvel, seu maxilar tenso nas palmas das minhas mãos.

Puxei seu rosto para baixo, ficando na ponta do pé, para dar um selinho demorado na mesma.

"Eu gostei..." falei calma, olhando em seus olhos, tocando meus pés inteiros no chão novamente, ainda segurando seu rosto.

Ela continuou me olhando, sem dizer nada, os lábios entreabertos. Marceline era tão fofa quando ficava confusa.

7 RINGSOnde histórias criam vida. Descubra agora