Por trás do Relógio

VI- Seis horas

O som do prato ecoou e logo depois sumiu dando espaço a um silêncio como o vácuo do espaço, os olhos de ambos aparentavam choque ao me ver, como duas estátuas, daria perfeitamente para retratar aquele momento em uma pintura, que sairia errado já que depois de alguns segundos Edward se levantou e me abraçou com força, eu apenas retribuí, não o via a três anos, e sinceramente me pareceu uma eternidade ficar longe daquele lugar. Logo em seguida Luccas também veio até mim e me abraçou, eu interpretei que ele já havia me desculpado pelo "showzinho" no lago, naquela época eu era levemente problemático e não me controlava muito bem, coisa de criança, não que eu tivesse amadurecido muito em três anos.

- Você... - Meu pai fez uma pausa. - Você está de pé, eu achei que nunca mais iria falar com você.
- Como assim de pé? - Perguntei. -
- Você ficou em coma por três anos. - Luccas falou agora se separando do abraço. -

Como assim em coma? Eu apenas lembrava de ter caído no lago, achei que apenas cairia ali naquele tempo de novo após ter sumido por anos. E se na verdade nunca nem tivesse saído dali? Talvez fosse apenas uma coisa do coma e eu não tivesse ido para minha época novamente, era quase impossível, ainda tinha em meu bolso o guardanapo que peguei na lanchonete, aparentemente eu podia estar em dois lugares ao mesmo tempo, não ao mesmo tempo mas... Era confuso o suficiente para minha mente rodopiar várias e várias vezes pela casa. Estava tudo um pouco diferente do que me lembrava, a tinta branca começara a desbotar nas paredes da sala, os móveis pareciam mais velhos e gastos, como se um século os tivesse atingido em três anos. Aquilo não me distraiu por muito, principalmente com Edward me apertando e deixando lágrimas em meus ombros.

- Pai, calma, não precisa de tudo isso. - Comentei já meio sem graça enquanto dava alguns passos para trás. -

Ele me olhou e sorriu mais uma vez antes de se virar e pegar mais um prato de comida entregando-o em minha mão.

- Você deve estar com fome.
- Você nem imagina o quanto senti falta desta sopa. Falei.
- Na verdade imagino sim.

Não me leve a mal, sei que havia acabado de sair de uma lanchonete, mas aquela sopa era irrecusável, e tecnicamente eu só iria comer naquela lanchonete daqui a décadas, eu sei, viagem no tempo é complicada.
Coloquei a sopa no prato e me sentei no sofá da sala enquanto comia. Ambos me olhavam como se eu fosse uma criatura mágica ou algo assim, não podia culpa-los, acho que geralmente ninguém acordava de um coma naquela época, eu não sabia se aquilo interferia na história em si, mas talvez no futuro meu caso fosse famoso entre os estudantes te medicina.
Eles me contaram tudo que havia acontecido, como Luccas agora estava na universidade de medicina graças a meu pai, como o consultório ia bem, até eu tocar em um assunto que não me pareceu tão agradável.

- A Diana, como ela está? - Dava para ver o brilho em meus olhos ao falar seu nome. -

Eles se calaram e em seguida se entreolharam, atitude que me deixara nervoso, comecei a apertar um dedo no outro e sentir minhas mãos soando enquanto eles se olhavam, pareciam estudar se deviam me contar algo ou não. Por fim Luccas respirou fundo e me olhou como se o fardo de dizer tivesse recaído em nele.

- Você ficou fora muito tempo e ela ficou muito abalada então não conseguiu voltar aqui, disse que não podia te ver daquele jeito.
- Sim mas o que tem demais nisso? Achei que fosse algo mais grave e...
- Raphael. A alguns meses o pai dela a convenceu a noivar com o filho de um tal John Grate, parece que ele tem muitas terras e dinheiro.

Parecia difícil para ele dizer aquilo, mas para mim, o mundo inteiro havia desabado logo abaixo de meus pés, queria não sentir tristeza, queria não ficar com raiva de mim mesmo, mas apenas me segurei para não explodir ou chorar, me contentei com forçar um sorriso amarelo e concordar com a cabeça.