V- Cinco horas

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Passaram se quase três anos desde o dia em que acordei no hospital, no meu século, sem Diana, admito, foram os anos mais difíceis de minha vida, havia perdido tudo aquilo que me fazia feliz. Apesar de gostar de meu pai de verdade, de minha mãe e família, no passado eu tinha amigos, havia construído toda uma história em tão pouco tempo, e perder foi um banho de água fria.
Não posso negar que nesses três anos as coisas deixaram de ser tão insuportáveis, um ano após minha volta eu finalmente comecei a crescer, agora tinha 1,80 com apenas 17 anos, um tamanho normal, até um pouco acima da média. Nesse mesmo ano eu finalmente enfrentei Chuck e ele me deixou em paz, acho que ele não tinha coragem agora que era um pouco menor que eu. Algumas coisas persistiram, como a falta de amigos, era quase impossível achar alguém para preencher a vaga de garota perfeita e melhor amigo engraçado e dedicado, ou talvez eu fosse muito exigente. Agora eu trabalhava em uma oficina de carros para ajudar meu pai com as contas e estava prestes a me formar após anos de tortura, novamente, aquele cara que teve a ideia idiota, ainda levaria alguns socos se tivesse a chance.
Naquela manhã em específico não sentia nenhuma vontade de ir a escola, meu corpo doía um pouco graças ao trabalho do outro dia, e o frio não ajudava em nada para que quisesse tirar as cobertas e sair até um lugar ainda mais gelado, o lado de fora. Acabei me levantando após analisar todas as possibilidades de mentiras para faltar, diversos tipos de sintomas que poderia inventar, o único problema é que nenhum deles enganaria meu pai que já batia forte na porta e chamava meu nome diversas vezes. Retirei o pijama azul claro e fui direto para o banho afim de acordar direito com a água quente. Podia sentir o líquido queimar um pouco minha pele, mas não era nada demais naquele dia gelado, era como estar em uma fonte termal, relaxante o suficiente para me prender por tempo demais, até ser lembrado da escola pelos estrondos na porta, vindos do mais velho que já parecia perder um pouco a paciência. Parei no espelho por alguns minutos para fazer a barba, e por um momento achei que o homem fosse invadir o quarto, mas então ele apenas parou, provavelmente havia desistido e me deixado decidir, o que podia considerar algo bom, eu acho. Com a barba pronta terminei de me vestir para o colégio e segui para a cozinha, onde dei um abraço em meu pai e peguei uma maçã antes de sair para a escola com passos rápidos.
Pelas ruas de Londres eu ainda me lembrava do passado, da velha igreja que agora era um mercado, das carroças que agora haviam sido trocadas por carros e ônibus e do céu, já não tão azul ou bonito como era. Minha mão se encontrava em meu bolso, se segurando em um velho pedaço de pano, azul bebê com um borrão de tinta branco, minha única prova de que tudo havia sido real, que ela existira de alguma forma.
Na escola poucas coisas haviam mudado, exceto por Chuck ter me deixado em paz não havia mais nada de relevante, ainda era o mesmo aluno que ficava no meio da sala, a parte menos importantes, agora também tinha notas um pouco medíocres, dificilmente um A- quando conseguia prestar atenção na aula, um B quando passava todos os dias pensando em tudo que me acontecera, e em como poderia ter sido diferente se eu não voltasse para minha época.
Meu pai tentou me levar ao psicólogo quando as notas começaram a cair, mas acho que contar sobre a viagem que fiz a era Vitoriana não era uma boa ideia, então meu melhor argumento fora que sentia falta de minha mãe, e por isso não conseguia me concentrar, isso só piorou tudo, agora a cada três semanas eu era obrigado a passar o dia todo em um escritório ouvindo ela falar sobre pedras, e a noite comer uma refeição completamente natural com verduras e tofu, ela tinha esse estilo meio Hippie, na maioria das vezes engraçado, mas também um pouco vergonhoso.
Meu celular apitou em meu bolso assim me acordando de meus devaneios sobre o passado, olhei a mensagem de Ethan, meu pai, dizendo que dormiria fora essa noite. Provavelmente estaria na casa de alguma mulher, diferente de mim meu pai tinha jeito com as mulheres, mesmo que não conseguisse manter um bom relacionamento, na maioria das vezes elas quase fugiam quando ele começava a falar muito sobre carros ou sobre mim, e olha que minha vida nunca fora interessante, pelo menos não que ele soubesse.

Por trás do RelógioOnde histórias criam vida. Descubra agora