Three

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28 de julho de 2016. 11h32min
Park Jimin

  Ao decorrer de minha vida, sempre me deparo com um alguém me dirigindo a tão famigerada pergunta: Sua vida deve ser tão complicada. 

  Quando na verdade não é. A sociedade impõe os deficientes visuais como pobres coitados, nos rebaixam por não possuímos a visão, e sempre que nos vêem nas ruas automaticamente nos olham com semblantes de pena. Eu sei que olham, eu posso sentir isso diariamente; além de possuir minha audição apurada para escutar os murmúrios direcionados a minha pessoa sempre que caminho pela cidade a fim de somente tomar um sol, ou procurar um momento tranquilo. 

  Todavia, ele é sempre arruinado quando alguém se aproxima. 

  Meu cotidiano não é conturbado. Não é porque sou cego que posso ser considerado superior ou inferior a pessoas que possuem visão. Tenho consentimento de que muitos discordam da minha opinião, porém na maioria das vezes, pessoas cegas podem até ser mais inteligentes do que os que possuem cem por cento de seus sentidos. Não aceito e nunca aceitarei que me chamem ou demonstrem qualquer incapacidade vinda de mim diante de um outro alguém considerado "melhor" ou "vantajoso". E como faço para provar isto? Simples, apenas vivendo. 

  Como odeio o termo cego ou deficiente visual. Criaram estes nomes para nos designar no meio social, mas ainda podemos ser chamados de pessoas, seres humanos; não deficientes. Podemos ser felizes mesmo não possuindo o dom de enxergar, e nos referindo com palavras que nos remetem a nossa diferença dos demais apenas nos fazem ficar mais deprimidos por saber que somos diferentes.  

  Levo um meio de vida normal a de qualquer ser humano. A única diferença é que possuo uma bengala que me alerta a chegada de um degrau ou buraco. Enfim, tenho uma acompanhante que me ajuda a andar sem medo. Eu trabalho e recebo meu tão merecido salário todo mês, no mesmo valor de todos os meus colegas de empresa. Trabalho para uma companhia de Telemarketing, e sinceramente, até que meu emprego não é a pior coisa do mundo, pois consegui ajudar pessoas com o melhoramento de suas televisões ou internet. E isso, de alguma maneira me faz feliz por saber que contribui para a mudança de humor em algum indivíduo espalhado pela cidade.   

  Tudo bem que o que eu realmente amo fazer não era aquilo. O meu sonho de empreendimento no momento não me é viável. Entretanto eu consigo suportar bem minhas condições. 

  - Poderia me relatar o problema mais uma vez, senhora? - Perguntei ajeitando o microfone do Headset que usava. O diálogo com aquela senhora, que parecia estar na casa dos sessenta anos, estava muito agradável. Sua voz era doce e possuía uma grande calma para me explicar o que de errado havia em sua casa. - Oh, sim. Sua televisão não está ligando? A senhora já verificou se a tomada está conectada ao cabo? Oh, já? Poderia fazer um pequeno favor apenas para comprovação? - Tateei minha mesa a procura de minha xícara de café, tomando um pouco do líquido ainda quente. - A senhora vai pegar o cabo da televisão e o pressione contra a tomada, e veja no que resulta. - Esperei alguns minutos enquanto mexia no computador, digitando algumas palavras com a ajuda do teclado adaptado para o Braille, até ouvir o som doce da senhora do outro lado da linha. - Ah, conseguiu? Que ótimo senhora, fico feliz em tê-la ajudado. Tenha um bom dia. 

  Apertei um botão de meu Headset encerrando a chamada, soltando uma pequena risada pelo momento passado enquanto retirava o objeto sobre a minha cabeça. Peguei novamente a xícara de café e bebendo todo o seu conteúdo de uma única vez, sentindo passos se aproximarem de minha pessoa. Pelo barulho que que os pequenos saltos repercutiam no chão,  deduzi que era a mulher que trabalhava no computador a minha esquerda. Uma moça muito boa que me ajudara de bom grado a manusear meus instrumentos de trabalho em meu primeiro dia de expediente. 

Love doesn't need to be seenOnde histórias criam vida. Descubra agora