capítulo II: Início da noite

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A sala vazia dava a ligeira impressão de abandono. Como aquelas casas assombradas que causam a sensação de medo e nervosismo. Mas aquele lugar não estava abandonado, mesmo que lá os monstros realmente existissem.

David ligará todas as luzes, fugindo da escuridão. Não queria aceitar aquilo como um sinal de medo, estava apenas se prevenindo, apenas isso. As vezes ouvia um baixo rosnado, o que servia apenas para acelerar seu coração e depois perceber que era impossível eles saírem. Estavam presos no lugar mais protegido da terra, como poderiam lhe fazer mal?
Olhou a hora no celular: 23:45.
A noite está apenas começando
Pensou ele se sentando na cadeira cinzenta do canto da sala. Olhou seu redor: a grande sala de paredes brancas quase não tinha nenhum móvel, apenas uma mesa de escritório e a cadeira cinza que David sentava. Na parede em frente a cadeira, estavam monitores de câmeras de segurança na qual o guarda deveria observar durante toda noite. David respirou fundo e disse para si mesmo:
- tudo bem, está tudo bem, só preciso verificar as câmeras regularmente até o amanhecer e tudo vai acabar- ele riu sem vontade tentando afastar o nervosismo - vai ser fácil, com certeza.
Ele arrastou a cadeira para mais perto dos monitores e começou a passear o olhar por cada câmera. Algumas mostravam os corredores, já outras mostravam as celas dos scp's de classe segura. "Segura" este era um termo que David nunca entendeu, afinal, existiam monstros seguros?
                          
                           * * *
David com um tempo ficou entediado. Agora com o cotovelo na mesa e a cabeça apoiada na mão, ele observava com os olhos baixos e sonolentos a imagem que a cada cinco minutos se retorcia com um chiado e logo voltava ao normal. Até em sua casa, com sua vida "chata" eles estaria mais entretido, ou melhor, dormindo, como estava prestes a fazer. Quando de repente um estrondo lhe acordou. Em susto, pulou da cadeira e girou rápido a cabeça. Não havia nada, pelo menos não lá. Voltou o olhar para os monitores, dessa vez mais atento e procurou qualquer diferença entre os locais. Os corredores estavam vazios. Se virou para o painel de controle, lá havia várias luzes em verde que indicavam que as portas automáticas estavam fechadas, estas portas eram das celas. Para seu alívio, todas as portas continuavam trancadas. David soltou um suspiro e jogou-se na cadeira. Apesar de os scp's continuarem em seus lugares, o som poderia ser outra coisa.
Anão, e se for um intruso? Se descobrirem a fundação por minha culpa? Vai ser o meu fim! A organização vai acabar comigo!
Pensou nervoso e em seguida agarrou a lanterna preta de cima da mesa e seguiu o som determinado a achar o problema.

Atravessou os corredores na escuridão que não era completa pois sua lanterna estava ligada. Andando sem direção não sabia mais de onde exatamente tinha vindo o som, apenas vagueava entre as salas, talvez, no fim com o propósito de acabar com seu tédio. Com um tempo já não pensava mais no barulho, mas com o que estava fazendo. Não o que fazia agora, bom, isso também. Mas pensava mais no passado, lá trás quando deveria escolher entre a faculdade de medicina ou engenharia. Eram decisões tão simples, mas o jovem David tinha que ser tão rebelde. Afinal, o que esperar de um adolescente mimado que teve a vida inteira sobre seus caprichos? Pais ricos, um quarto enorme e uma vontade insaciável. Acabará agora como um guarda de uma fundação secreta, o que não era tão ruim, mas bastante estressante. Fora da fundação sua vida era um buraco. Morava em um pequeno apartamento e só conseguia sustentar a si mesmo. Não tinha família, pois os pais largará quando insatisfeito com algo que não lembrava mais. Mas há cinco ou talvez quatro anos atrás, havia tido um caso com uma moça. Jovem, cabelos ondulados e loiros, um colírio para os olhos. Certo dia a mulher lhe dirá que estava grávida. David iria assumir com a felicidade de um ganhador da loteria, mas logo depois descobriu que a mulher tinha um amante e enraivecido conclui que o filho era dele e foi embora. Mas, pensando nisso agora enquanto andava por esses corredores vazios e sombrios, David sentiu uma súbita curiosidade: não chegou a ouvir a palavra da mulher, será que esse filho era mesmo dele?

Um barulho alto ecoou na sala fazendo David sair bruscamente de suas memórias. Sem tempo em pensar, correu pelo corredor dessa vez mais convicto da direção. As lâmpadas de repente começaram a estourar com um brilho cegante, mas David não parou, apenas pôs as mãos sobre a cabeça e continuou correndo, o coração acelerava e não pretendia se acalmar até encontrar a origem do... Parou subitamente ofegante. Seus olhos vislumbraram uma sombra humanóide no escuro.

Uma noite na fundação SCPOnde histórias criam vida. Descubra agora