O silêncio mórbido era ameaçador. David não se atrevia a mexer um músculo, apesar de a dor na perna lhe atormentar. Olhava assustado para o escuro, mas principalmente para a mancha na parede por onde Tommy sumirá. Algo havia o puxado, tinha certeza. No momento pensou ter visto braços, mas agora não tinha certeza de nada. Só queria se encolher, se encolher entre as pernas dobradas, fechar os olhos e sumir.
Quero sair desse pesadelo! Preciso! Antes que...
Pensava com olhos cerrados, quando um ruido os abrirá, assustado.
O que foi isso?
Olhou para trás e viu que uma mancha se formava na parede que se encostava. Se jogou no chão, tentando se afastar e com o pé esquerdo intacto se arrastou para longe, ficando no centro do quarto.
Conheço isso de algum lugar... De onde? Quem é vo...
De repente algo lhe veio a memória: SCP - 106.
- o velho... Droga!
David gritou e logo se arrependeu. Agora sabia quem era. Era SCP - 106. Um monstro em forma de idoso, apodrecido. Conseguia se teletransportar por paredes e arrastava suas vítimas para uma espécie de dimensão bolso.
É pior que SCP - 096... É mais esperto, talvez?
Tentava lembrar das características da criatura.
- sou sua isca?!
Começou a gritar sozinho. Sabia que ele estava ali, sabia que o escutava; também sabia que ele não se importava.
- vai lá, aparece! Que foi?! Só se garante na sua toca?!
O silêncio continuava. David lutava contra seus batimentos cardíacos acelerados e continuava a gritar. Sabia que era burrice ignorar seu medo e provocar uma criatura de imenso poder comparado a ele. Mas tinha que fazer. Ele fora com certeza era menos ameaçador do que dentro. Precisava sair daquele jogo às cegas.Quando já desiludido com suas tentativas, quando já sentia sua garganta doer, David se calou. Mas foi surpreendido, quando uma mão atravessou a parede. Uma mão podre e escura. David encolheu as pernas quando viu que da mão surgia um braço, logo surgirá um corpo e finalmente o rosto. David sentiu o estômago revirar e uma náusea ao ver aquele rosto. Decomposto em uma carne vermelha, sem lábios que mostravam nitidamente sua fileira de dentes podres e seu olhos...Totalmente pretos em uma pequena bola.
- meu deus...
David sussurrou, tremendo. Empurrou o corpo para trás com as mãos enquanto o monstro engatinhava calmamente. Um rosnado, semelhante a uma risada saía, mesmo que ele não abrisse a boca. David tentava fugir sem desviar os olhos da criatura, quando tocou em algo no chão. Desviou o olhar e viu a lanterna de Tommy ainda ligada. Deu um sorriso de canto e agarrou a lanterna, a mirando em direção ao monstro. Ele reagiu com um rosnado, surpreendido. Afastou-se para trás, levando o braço ao olhos. A criatura desistiu e foge, desaparecendo dentro da parede. David aproveita e levanta rapidamente, ignorando a perna ferida, ele manca até a porta do quarto e a abri, atravessando-a ao cair no chão.Uma dor insuportável fazia-o morder os lábios, tentando não gritar. Olhou para a perna e notou que o sangue aumentava. Cerrou os olhos e balançou a cabeça.
Eu preciso suportar... Preciso sair daqui...
Sentia-se cansado. Deitou no chão por um momento, mas sabia que se demorasse, dormiria e morreria em poucas horas. O chão frio acalmava seu corpo agitado e parecia aliviar sua dor. Fechou os olhos, pensativo...
* * *
Anos antes...
- ei!
Sofia o chamou. Estavam sentados no sofá de seu apartamento, assistindo a um filme de ação. A grande bacia de pipoca entre as pernas, quase vazia.
- no que tanto pensa? - Sofia perguntou, curiosa.
David olhou pela pequena sala e voltou seu olhar para ela, respondendo:
- nada demais, talvez no futuro.
- e esse futuro - Sofia disse, deitando a cabeça em seu ombro e tocando com os dedos em sua mão - me envolve?
David abriu um sorriso e apertou sua mão, olhando em seus olhos e respondendo:
- sempre.
Os dois trocaram olhares apaixonados, quando o celular de Sofia tocou. Ela esticou-se para alcançar o celular em cima da pequena mesa de vidro em frente ao sofá.
- alô.- atendeu, com uma voz entediada.
Porém, sua expressão despreocupada de segundos atrás, mudou de repente, como se assustada. David notou e perguntou preocupado:
- o que foi, amor?
Ela se virou para ele e disfarçou um sorriso, dizendo:
- nada, não. É só o trabalho, já volto.
Ela se levantou do sofá e caminhou até a varanda do apartamento. David ignorou a tv e concentrou-se em tentar ouvi-la ao telefone. Porém, ela parecia conversar baixo e o único momento em que excedeu a voz foi quando gritou:
- eu já disse que esse filho não é seu!* * *
Abriu os olhos, assustado e levantou rápido do chão molhado.
Essa não... Será que dormir?
Olhou para o chão coberto de sangue e subitamente sentiu-se fraco. Havia dormido e perdido sangue.
- isso não pode continuar... Ou acabarei morrendo.
Disse como um desabafo solitário. Olhou seu redor: estava em um longo corredor de paredes brancas, com a porta a qual sairá a sua frente. Finalmente, pensou em algo e executou: rasgou um tira de sua calça preta e a amarrou à ferida para estancar o sangramento. Sentindo-se mais seguro para continuar, David se levantou lentamente, se apoiando na perna esquerda. Olhou para os lados, tentando reconhecer o lugar.
- corredor 3-B.
Disse, lembrando-se do mapa da fundação que havia memorizado várias vezes. Mancando, seguiu a direita.* * *
Saindo do corredor, entrou em uma sala e empolgou-se de repente:
- a sala principal! Estou perto da saí...
Um som de passos ecoou distante. David andou para trás e encostou-se na parede atrás da sala, espiando escondido.De um dos corredores, saí uma figura vestida de preto e uma máscara de pássaro ao rosto. David cerrou as sombrancelhas, tentando ver melhor e notou que a máscara era de fato parte do seu rosto. Engoliu em seco.
SCP -049!
Concluiu, surpreso. Certa vez, lerá que ele estava sob controle. A fundação lhe permitia cadáveres de animais para suas "pesquisas" e o mantinha satisfeito. Ele disse desde o início que tentava "curar" as pessoas da peste negra, porém, logo se notou que ele escolhia suas vítimas alegando estarem com a peste negra e as matava. Logo a vítima voltava a vida, como uma espécie de seguidor, um servo à criatura.David observou-o mais atentamente. Parecia atordoado, olhando para os lados, tropeçando estre os pés.
Ele nem imagina o que aconteceu.
Pensou, sentindo um leve sentimento de pena. Mas logo lembrou-se que ele não era indefeso. Carregava uma maleta de instrumentos médicos à mão e os usaria como defesa, caso precisasse.
Saia daqui! Preciso passar!
Pensou ele, impaciente. De repente, em um descuido, David pisou em algo que estalou no chão. Ele congelou instantaneamente, quando notou que a criatura havia escutado e que agora caminhava em sua direção.
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Uma noite na fundação SCP
HorrorDavid trabalha na fundação secreta SCP, local onde se guardar centenas de monstros e seres escondidos da humanidade. Como guarda dessa fundação, ele segue à risca todas as regras impostas pela organização. Porém um turno de trabalho pode se tornar u...