epílogo: cicatrizes

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Três anos se passaram e David havia mudado totalmente de vida. Fugirá da fundação saindo do país com uma identidade falsa assim que teve alta do hospital. Levava agora uma vida tranquila como comerciante. Morava na sua recém comprada casa e visitava todas as tardes o parque. Pensava sozinho e ia embora. Apesar do sucesso de seu comércio, sua vida continuava vazia. Sem família, sem amigos.

Levantou o livro ao rosto, tirando finalmente os olhos das crianças que brincavam no gramado, correndo e gritando. Era o sexto livro de Stephen King que terminava: O bazar dos sonhos. Havia se tornado um fã do horror. Mesmo que aquilo lhe fizesse lembrar dos ocorridos na fundação.

Vestia um casaco de frio preto, mesmo que estivesse no verão. Um óculos escuro lhe protegia dos fortes raios solares que acertavam seu cabelo curto preto que demonstrava seus primeiros fios grisalhos. Mas não os pintava. Queria lembrar que já tinha trinta e oito anos. A calça cinza social, escondia sua grande cicatriz na perna direita que quase perderá.

Se preparava para voltar para casa e verificar a mercadoria, quando uma mulher sentou-se ao seu lado.
- Olá, David.- disse a estranha com um tom íntimo. David olhou de relance e reconheceu a mulher com surpresa.
- Sofia?- perguntou boquiaberto.
Bela como anos atrás, Sofia sorriu com a graça de seus dentes brancos e os olhos castanhos brilhantes e continuou dizendo:
- o tempo não lhe mudou em nada, não é?
David disfarçou a surpresa em seu rosto e respondeu com naturalidade:
- talvez não fisicamente, Sofia, mas de resto sou outra pessoa.
- para melhor?- ela perguntou arqueando as sombrancelhas. David a observava como a primeira vez em que a viu, encantado com sua beleza.
- sim.
- fico feliz por você.- ela responde sorridente. David então, parecendo lembrar das piores memórias, pergunta:
- e... E como estar seu marido?
O sorriso de Sofia some e ela responde:
- não ficamos juntos, David. A filha não era dele. Fizemos o exame de DNA.
Uma alegria repentina surgi no rosto de David. Se sentia como o dia em que descobriu que seria pai. Mas agora estava mais intenso.
- q-quer dizer que...- gagueja ele. Sofia já entendendo sua pergunta assenti com a cabeça. Ambos riem felizes.
- eu estive te procurando todo esse tempo pra lhe dizer isso.- Sofia diz, secando os olhos cheios de lágrimas. David passa a mão em seu rosto, aparando uma lágrima que escorria por sua bochecha e responde:
- me desculpe. Eu...
- espera...- Sofia diz se entusiasmando de repente.- Júlia! Vem aqui, querida.
Os olhos de David passeiam pelo parque inquietos. Quando ver uma menina sair em meio das crianças. A menina parecia ter nove ou oito anos; seus cabelos pretos e lisos, estavam amarrados à duas tranças de cada lado; o rosto fofo e angelical da garota estava sujo de terra, assim como seu vestido rosa florido. Júlia se aproxima da mãe, agitada e Sofia lhe responde:
- querida, esse é David - ela aponta com o dedo para ele e continua - ele é seu pai.
A garota antes agitada e extrovertida se intimida com um olhar surpreso. Sofia empurra levemente a menina de cabeça baixa para perto de David que tenta iniciar uma conversa:
- Oi, Júlia.
- Oi...- diz ela timidamente, ainda de cabeça baixa.
- você...- David olha para os lados. Tentava pensar em algo para se aproximar da filha, quando lembra que já havia visto ela minutos atrás pulando corda. - você é boa com a corda.
A garota levanta a cabeça um pouco mais a vontade e pergunta:
- você acha?
David assenti com a cabeça.
- e você? - a garota pergunta com um pulo.
- eu?- David pergunta apontando para si e pensa por um minuto.
- dizem, que sou ótimo para contar histórias de terror.

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⏰ Última atualização: Jun 01, 2020 ⏰

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