capítulo VI: A saída

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A criatura se aproximou cautelosamente. Andando em passos lentos e silenciosos. Enquanto, atrás da parede, David prendia a respiração. Um ruído se quer e seria descoberto. A criatura por enquanto não tinha certeza.

David começou a ouvir a respiração da criatura a poucos centímetros dele. Silenciosamente, sentia o medo se manifestar. O monstro virou a cabeça para o lado oposto do corredor observando atentamente e se preparava para virar para o outro lado, quando um rosnado se ouviu. Assim como David, SCP-049 olhou rápido para a direção do som e no fim do corredor de luzes piscantes, estava SCP-096. Ele levou as mãos ao rosto quando viu que SCP-049 lhe observava e em seguida correu em sua direção. SCP-049 abriu rapidamente a maleta e retirou uma grande tesoura pontuda. SCP-096 deu um pulo para agarrar SCP-049 e o homem pássaro aproveitou para acerta-lo com a tesoura, fazendo-o lamentar em gritos ensurdecedores. David vendo que estavam numa briga, saiu cuidadosamente de trás da parede e atravessou a sala.

Abriu um enorme sorriso quando viu a porta com o título "saída" pintado em vermelho.
Está tão perto... Estou livre, estou livre!
Pensava entusiasmado. Já não sentia a dor na perna, corria como nunca. Tudo sumia, tudo era invisível, perdido em um negro que não existia mais. A saída era sua última esperança, o fim de seu pesadelo. Sentia seu coração acelerar em ansiedade, lágrimas de alegria escorrerem por seu rosto. Estava a poucos metros, estava quase...
Algo lhe fez parar de repente. Paralisado, olhou para a camisa: estava ensanguentada, com uma garra a atravessar seu corpo. O rosnado ecoou em seus ouvidos. O monstro retirou suas garras de seu corpo e se afastou.

As forças acabaram. David caiu no chão sentindo sua vida se esvair. O sangue escorria abundantemente de seu estômago, lhe causando náuseas.
- não... Não...
Sussurrava em desespero. SCP-096 não continuou. Soltou um grito de horror e correu adentro os corredores. David ficou estirado no chão, tremendo. Sentia seus olhos pesarem, mas chorava contra aquela vontade. Tudo estava tão próximo... Do fim. Sua vida lhe passava como um filme. Suas melhores lembranças...
Sofia contava sobre sua gravidez. Que alegria! David se ajoelhava, pondo as mãos em sua barriga e a beijando. O sorriso claro de Sofia era seu prazer.
- será sua pequena Júlia.
Sofia dizia com os olhos brilhantes.

- Júlia...
David sussurrava quase sem voz. Sorria ao lembrar do nome da criança.
Tudo podia ser tão diferente...
Pensava arrependido da vida que levou. Queria conhecê-la, saber se tinha seu sorriso, sentir seu abraço com as pequenas mãos em seu cabelo. Não teria a chance...
Não... Eu não posso morrer aqui...
Ele tentou se levantar, pondo as mãos em sua barriga. Caminhou alguns metros e caiu de novo.
- Júlia!
Gritou como um grito de força. Se levantou novamente. A tira amarrada à perna caiu encharcada, mas ele não parou. Caminhou ignorando toda a dor, abriu a porta e atravessou, mantendo-se em pé.

A rua mal iluminada pelos postes lhe cegava, seu corpo começava a lhe abandonar, seu mundo se apagava. David cambaleou e caiu no asfalto frio. Não queria fechar os olhos, não queria dormir... Não queria dormir. Mas seus olhos não lhe obedeceram.
                           
                             * * *
- Tommy?
David perguntou. Estava em um lugar totalmente branco. Não haviam portas, não haviam paredes... Não haviam monstros. Tommy estava parado a alguns metros lhe observando com serenidade. Continuava com a velha farda preta apertada ao corpo.
- o que pensa que está fazendo aqui?
Perguntou Tommy. David olhou para si: estava com suas roupas casuais, uma camisa verde escura e uma calça jeans azul. Também notou que não sentia mais dor.
- o que é isso? Alguma espécie de purgatório?
Tommy deu uma risada baixa e o respondeu:
- você acha que morreu? E se conformou tão rápido com isso?
David deu de ombros e respondeu:
- não era você quem dizia que minha vida era chata? Então, acho que não vai fazer falta.
Tommy o observou por um minuto em silêncio. Tinha um ar de sabedoria e tranquilidade em sua voz, quando finalmente o respondeu:
- não. Você ainda não pode descansar, David. Há coisas ainda pendentes, não acha?
David o encarou confuso.
- então? E agora?
Tommy sorriu e terminou dizendo:
- agora? Eu quem te pergunto: e agora, David?
David cerrou as sombrancelhas, confuso. Pensou em perguntar mais algo, porém, uma forte luz o cegou. Estava outra vez fechando os olhos...

                             * * *

Ouviu um "bip". Era do painel? Estava na fundação outra vez? Não. O som se repetia. Abriu os olhos lentamente e se viu em um quarto de hospital. Aparelhos respiratórios incomodavam seu rosto. A primeira coisa que pensou em verificar foi sua perna: estava lá. Totalmente engessada, mas estava.
- que bom que acordou.
Uma voz respondeu. David olhou para a porta e viu um senhor de idade de jaleco. David molhou os lábios secos e perguntou:
- como... Como cheguei aqui?
O médico fechou a porta atrás dele e respondeu:
- foi encontrado por um alguns jovens que passavam por ali, quase morto. Teve sorte, a rua estava totalmente vazia, mas nada que alguns amigos bêbados perdidos não achem.
O médico sorriu e o observou. Anotou algo na ficha que carregava e respondeu:
- vejo que estar melhor. Mais algumas semanas e estará de alta.
- obrigado- David agradeceu aliviado.
O médico saiu do quarto e David ficou pensativo de repente. Lembrava-se perfeitamente de seu sonho com Tommy e agora refletia algumas de suas palavras.
"Há coisas ainda pendentes..."
Aquela frase não saía de sua cabeça.

Uma noite na fundação SCPOnde histórias criam vida. Descubra agora