capítulo III: sistema falhado

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Apesar do medo que percorria seu corpo, David levantou a lanterna com a mão trêmula, iluminando a sombra escondida na escuridão. Quando o brilho cruzou o estranho, revelou-se um funcionário da fundação e apesar das mãos levadas ao rosto que o protegiam contra a luz forte em seu rosto, David reconheceu a figura.
- Tommy?- perguntou ele descrente.
Tommy tirou as mãos do rosto e encarou David por um instante antes de cair em uma gargalhada. Confuso, David perguntou:
- O que está fazendo aqui?!
Tommy parou a risada e respondeu:
- só queria garantir que sua noite fosse emocionante, gostou das lâmpadas estourando?
David notou que ele estava ao lado de um painel de controles.
O miserável devia estar manipulando os controles para me assustar
Aquele pensamento lhe trouxe uma raiva crescente e logo sua expressão de medo havia sumido para sombrancelhas cerradas e dentes rangendo, tudo que ele desejava agora era acabar com aquele palhaço. Tommy pareceu perceber sua mudança de humor e adiantou-se:
- ei, espera aí cara, é só brincadeira.
David não escutou e se aproximou, agarrando Tommy pela gola da camisa e jogando contra o painel, enquanto ele se desesperava:
- Ei! David! Eu não fiz por mal, é só...
- cala boca! - David gritou - você armou tudo isso pra me humilhar, não é?! Sou uma diversão pra você, funcionário vipzinho?!
Tommy tentou soltar-se das mãos de David dizendo:
- cara, cuidado com isso aqui, são os controles de segurança, você não pode...
- eu disse pra calar a boca! - David voltou a gritar. Quando de repente um "bip" começou a tocar. David olhou para os controles onde Tommy estava encostado e percebeu uma luz piscando com o som. Jogou Tommy para o lado e observou do se tratava. Acima do botão havia o título: "sala SCP - 096". David arregalou os olhos em susto.
- Olha o que você fez, seu inútil! - Tommy gritou.
David olhou para Tommy sem disfarçar o medo em seus olhos e perguntou aflito:
- o que vamos fazer?
Tommy não respondeu. Empurrou David para direita e tentou apertar os controles.
- está quebrado! - disse ele se virando para David.
Logo outros dois botões começaram a apitar. David olhou para ambos e leu os títulos: "cela SCP - 049","cela SCP-106".
- temos que sair daqui. - disse ele se afastando do painel.
- tá maluco?! - explodiu Tommy - se eles descobrirem que foi a gente que soltou os scp's vão nos matar!!
- É, por isso que quero tá bem longe quando isso acontecer.
Tommy se virou para David e respondeu com um olhar frio:
- você acha que se meteu aonde, hein David? Sinceramente, onde você acha que tá? A ficha ainda não caiu? Você está na fundação SCP, o lugar onde ninguém saiu vivo pra contar.
David o encarou calado, pensando o que ele já tinha visto para saber daquilo. Ele se virou novamente para os controles, pôs as mãos sobre os botões e respondeu de costas:
- você tem razão... Se a fundação não nos matar... eles vão.
Tommy falou "eles"  olhando para o painel  e David pôde sentir um arrepio atravessar seu corpo.
- vamos então. - David concluiu apontando para o corredor. Tommy levou um minuto para tirar os olhos dos botões que piscavam e assentir para David.

Os dois andaram cuidadosamente pelos corredores vazios, atentos a qualquer barulho. As luzes piscavam, o silêncio era desconfortante apesar de ser um bom sinal. David ouvia Tommy a sussurrar algo mas não entendia o quê, e nem se atrevia a perguntar. Tudo que queria evitar agora era sua voz a ecoar nos corredores e atrair as criaturas para si.
- perdoa-me senhor..
Tommy sussurrou um pouco mais alto, mas logo voltou a ficar baixo.
Ele está rezando?
David se perguntou. A ideia lhe parecia estranha. Sempre virá Tommy como um valentão exibido e ver seu lado frágil era como ver o lado oculto da lua.

De repente passos mais pesados foram ouvidos no outro corredor. David parou bruscamente seguido de Tommy, tentando ouvir melhor. Os passos ficaram mais altos, como se mais perto. Logo uma sombra se projetou na outra parede. Uma sombra grande e esguia andando tortamente. David podia ouvir a respiração ofegante de Tommy mais alta e pediu em um sussurro:
- Tommy, faça silêncio.
Tommy respondeu quase não controlando a própria voz:
- a gente vai morrer, né? Não é isso?
David não respondeu. Olhou em direção da sombra que se aproximava cada vez mais e se virou para Tommy respondendo confiante:
- escuta, ele vai nos achar, então eu vou contar até três e a gente corre.
Tommy demonstrou todo o seu medo em uma expressão de susto enquanto dizia:
- o quê? Enlouqueceu? Ele vai conseguir nos pegar!
Sua voz elevou-se e a criatura soltou um rosnado do outro lado. David olhou para ele com uma expressão de descontentamento mas mesmo assim começou:
- tarde demais, vamos lá: um...
Os passos de chumbo começaram a acelerar.
- dois...
Sons de garras se arrastaram pelas paredes.
- TRÊS!

Uma noite na fundação SCPOnde histórias criam vida. Descubra agora