Mundos

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Mundos giram dentro da casa que sou. Sou o paraíso destes mundos, sou o inferno destes mundos. Sou um mundo bonito e escuro dentro desta casa.

Se me procurares, é possível que não me encontre. Eu estarei tão perto, que me perderei com cada partícula de mim, enquanto tu focado na distância não consegue me ver, na roupa azul, na meia listrada, ou na maçaneta da sua porta.

Se me achares, não me reconhecerá, porque sendo uma casa habitada apenas por mim, nos momentos em que me sinto real, não reconhece tu os cômodos, entre estes condados instalados no interior de mim mesma.

Se gritares, tua voz se perderá no vácuo cântico em um mundo de exatas, caracterizado pelo poder de cada escolha.
Eu ficarei por algum tempo aqui, tempo que estranhamente não é determinado por mim, e nem tentes descobrir por quem é feito cuja determinação, pois para mim também é um mistério permanente, e pouco formidável. Assim, peço que corra, corra em círculos, pois é ai que eu estou.
Se achares que posso te impedir de encontrar novos caminhos, logo, tratarei de ser o novo caminho. Não tenha medo de ter medo para atravessar meus espinhos, se estiveres descalço.

Eu não fugirei, enquanto quiseres que eu fique, mas, não ficarei se quiseres que eu vá.
Por favor, me olhe. Olhe, pela janela da alma, seu olho de cor indeterminada poderá me ver. Sim, posso ser este cemitério de borboletas mortas, mas se me olhares bem, verá casulos se rompendo, então, uma lagarta subirá na palma de tua mão, peço que não a derrube, pois sou eu em construção.
Quando borboleta te abracarei, e direi; aqui estou. Aqui está a resposta do enigma da tua investigação, a charada de tuas pistas entre os teus dedos longos...

Se ainda não me conseguir me ver, acorde às três da madrugada, e sinta-me. Estarei te contemplando, enquanto você assiste ao Chaves. Te resguardando daquilo que não consegues ver também. Quando sua pele arrepiar, você saberá que estou ali, ao lado da sua cama, falando ao seu ouvido, palavras que jamais ouvirá se não tirares a mão da orelha.

Quando sentir o fogo queimando sua pele, eu serei a água, e tu nem sentirá o choque térmico, porque sou mais potente. E verás que tu também é. No frio eu serei o calor, e minhas asas cobrirão você.

Beijo os teus átomos. Sinto seu ar. Tenho para mim, que as serpentes que te cercam vão voltar, e tentar carregar-te, sabendo disso não te atormentes, tampouco se jogue da ponte.
Eu serei o alvo da serpente, e por você darei meu sangue, e por você darei minha alma. Sou a própria alma do teu corpo, e te darei minhas artérias, veias e músculos. Sua carne é minha carne, te protegerei afinco.

Acenda as luzes. Pegue um lápis, faça um rabisco na página 70 do livro empoeirado, que está na escrivaninha. Sinta coragem brotar em você, dessarte, beba o vinho que te sustenta, sinta o cheiro do sangue vivo e fervente que rodeia teu corpo, lambe suas feridas, faça um curativo ame a si.
Eu ainda estou aqui, sempre estive aqui. Se não encontrares remédio, serei antibiótico, mas veja além do que se vê, perceba além do que se é mostrado, e ai eu estarei parada, em algum lugar e momento. Esperando por você...

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