12: cruz em um colar

120 12 33
                                    


- Tina! saca isso aqui!!

o brasileiro diz em algum lugar no andar de cima; logo paro de tomar meu cereal com leite e olhar com cara de bunda pra escada; estou faminto e morto de sono

-..O que foi, zil?..

eu digo; meio gritando e ao mesmo tempo a voz riscada; pelo próprio sono em si. acho que ainda não acordei; e está muito frio pra lavar o meu rosto.

eu fico olhando pro nada; não recebo resposta. Logo franzi as sobrancelhas ; gritando novamente

- QUIÉ???...

...


ele deu uma de mãe agora, foi?

eu bufo; saindo da mesa e deixando o pote com cereal em cima da mesa; bocejando e andando escada acima; irritado por não ter dado sequer 2 colheradas no café da manhã.

logo estaria no andar de cima; olhando para o corredor. eu vou até o banheiro; em passos largos; não havia ninguém.

logo suspiro; intrigado.

- VEM LOGO TINA, SEU LERDA

consigo ouvir Brasil......acima de mim?..

eu olho para cima; mesmo que obviamente ele não estaria no teto feito homem aranha, e começo a rir do próprio pensamento heróico. Logo me lembro, algo meio difícil de se esquecer quando mora em uma casa a 17 anos:

temos um sótão.

- TINA, CADÊ TU??? JÁ TÁ CRESCENDO TEIA DE ARANHA EM MIM PELA DEMORA

não entendo o que ele queria dizer com aquilo, o sono realmente me deixava mais lerdo. Logo eu acabo rindo alto; simplesmente pela própria piada interna ter tanto haver com a dele; ou ao menos isso faz sentido na minha cabeça. Logo paro de rir; já pensando que deixar o brasileiro sozinho poderia causar um incêndio monstruoso; indo pra lá mais por preocupação do que por curiosidade. ele chega nas escadas do sótão; se agaichando para abrir a pequena porta ali; me sentindo como willy Wonka de Tim Burton. eu espirro pela poeira assim que entro no local levemente escuro; encarando o brasileiro que estaria de pé ; com um sorriso imenso no rosto

- acabei de achar algumas coisas fodas!

ele diz; ajeitando o cabelo no boné inseparável dele. Logo acabo dando um sorriso inconsciente pela cena doce; logo se levantando e limpando as roupas pela poeira

-se me falasse que teria tanta poeira ; eu ficava lá embaixo tomando meu café da manhã

rebato; meio de mal humor.

- por isso que não falei. viu? sou um gênio.

olho finalmente para o brasileiro; que sorria orgulhoso da genialidade provavelmente inexistente dele; enquanto rio baixo; meio puto por ter aceitado a idéia de ir pra lá, já preocupado com algum bicho no café da manhã.

- jajs- tá bom...o que quer me mostrar?..

- achei algumas fotos e esse colar aqui

era um colar negro; uma cruz na ponta metálica e uma ponta meio pontuda demais; coberta por ferrugem.

-....isso parece antigo

- 1600....1700 no máximo.

- a quantidade de dinheiro por isso??? acho que não passa de 50 reais..-

- oh não ; me casei com um cara frio e calculista demais..

o brasileiro diz; logo me toco que ele estava falando do ano de fabricação ; não dá quantidade de dinheiro que aquele colar poderia ser vendido. trocamos olhares e rimos alto; odeio as piadas dele, mas rio por pena.....mesmo que AS VEZES são boazinhas.

- por que iria vender isso?

- pra ganhar pesos, capo.

- aprecio o elogio- eu acho.

o brasileiro para de rir depois de um tempo, perguntando aquela frase um quanto infantil ; como uma criança que não quer vender o boneco estragado por afeto.

- iríamos ganhar dinheiro se fizéssemos isso.

- não precisamos de dinheiro..

- sempre precisamos-

- pra?...

- não sei, talvez ¿¿cOmIdA??

eu digo. não sou tão frio assim; só estava em um leve-péssimo humor e estava com fome.

- poxa Tina; dinheiro não é felicidade.

- mhm, tá bom.. então vai fazer as tuas macumbas pra criar dinheiro extra?

eu digo. o brasileiro para de sorri; olhando pra mim meio sério demais: teria se ofendido um pouco; Umbanda não é uma religião com apelidos tão legais assim; porém naquela hora eu nem havia reparado que era por conta daquilo; usar a palavra virou algo totalmente normal pra mim.

- aí Tina, você tá ficando chato..

- eu SOU chato.

- só de manhã.

- talvez.

- é. acho que vou vender esse colar aqui...Não tem muito preço

ele diz; franzindo as sobrancelhas ; meio chateado. não entendi nem entendo porque daquela tristeza toda; principalmente porque um dia antes daquilo eu não conseguia de jeito nenhum terminar meu livro; e isso me irrita imensamente.

me arrependo de não ter sido mais gentil com ele; porém naquele dia eu estava realmente mal. eu olho para a janela do local; não fazendo contato visual com ele; porém percebo que ele me observava

então me viro; e ele estava me observando.

---fim capítulo 12~•°-

Um garoto chamado Vera CruzOnde histórias criam vida. Descubra agora