Capítulo 4

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— Vamos tomar café da manhã, Julia. Você já perdeu o jantar da noite passada e mal comeu as fatias de pizza que lhe trouxe — Aretha disse em tom autoritário. — E nem ouse me mandar ir na frente — cortou de imediato, quando abri a boca —, não vou te deixar sozinha outra vez. Deus sabe o susto que tomei quando vi você saindo de dentro daquele banheiro.

A simples menção ao episódio me fez tremer. Ao ficar presa dentro daquele lugar, perdi a noção de tudo e se alguém me perguntasse, jamais saberia dizer quanto tempo passei lá dentro. Outra coisa que provavelmente jamais saberia dizer era o nome do homem que se manteve falando comigo, tentando me acalmar. Em meio a toda confusão e desespero que senti ao me ver livre, nem pensei em tentar identificá-lo e agradecer como merecia. Eu só esperava que ele pudesse sentir a minha gratidão de alguma maneira.

— Por favor, mais cinco minutinhos? — implorei com a voz sonolenta. — Não consegui dormir bem — admiti.

Em silêncio, ela caminhou até minha cama, sentou próxima do travesseiro e passou a mexer em meus cabelos. Com aquele simples gesto, demonstrou que estava ali para mim, caso eu quisesse compartilhar algo.

Diferente do que pensei em um primeiro momento, quando a vi do lado de fora esperando por mim, Aretha não foi até aquela área do navio por ter recebido minhas mensagens. Não, na verdade ela apenas notou minha demora e decidiu me procurar no último lugar que estivemos juntas. Bendita hora em que ela parou ao ver a confusão de gente em frente ao banheiro.

— Você sabe, amiga, eu nunca fui medrosa e acho que se estivesse em qualquer outro lugar isso não teria me afetado tanto, mas aqui, em um navio? Senti que iria morrer...

Apesar de saber que estava falando sério e que mesmo meu exagero era algo que eu realmente acreditava, ela não conseguiu disfarçar a risada que minha confissão provocou.

— Não vamos mais pensar nisso! Ainda bem que uma alma boa te ouviu gritar e ajudou.

— Estava tão louca que nem me importei de perguntar o nome dele para poder agradecer...

— Podemos tentar ver com algum responsável da tripulação, talvez eles tenham alguma informação a respeito da ocorrência e saibam identificá-lo — ofereceu. Mesmo sem ter certeza se daria certo ou não, me animei.

— Claro que eu gostaria de ter dinheiro o suficiente para mandar um uísque trinta anos para ele, mas como sabemos que isso é algo pouco provável, eu me contentaria em apertar a sua mão e dizer um "obrigada".

Desviando a atenção da varanda com vista para a imensidão azul de céu e mar, seu olhar pousou em mim e antes que ela dissesse uma única palavra, eu já imaginei o que viria.

— Huum, já pensou se ele for jovem, bonitão e solteiro? — disse com ar sonhador, que me fez rir ao confirmar minha suposição.

— Primeiro, seria pedir muito. Segundo, é por isso que somos sócias nessa coisa de aplicativo de namoro, apesar de tudo, ainda não desistimos do amor — provoquei ao deixar a cama e ir até o pequeno banheiro.

***

Devido aos nossos anos de convivência dentro e fora da empresa, as pessoas que faziam parte de nosso círculo social já estavam acostumados com o fato de que éramos uma espécie de inversos proporcionais, opostos complementares ou qualquer coisa do tipo, isso porque, tudo que Aretha tinha de básica na hora de se vestir caia por terra com seus cabelos coloridos. Por outro lado, enquanto eu tinha os fios em um tom de loiro perolado, nada muito fora do comum, adorava tons vibrantes em minhas roupas, que naquela manhã, em especial, foi substituído por uma calça azul marinho e camisa branca com listras finas, também azuis.

Como enlouquecer um CEO - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora