Uma noite na fundação SCP

capítulo I: A fundação

O frio adentrava seus sapatos pretos fazendo-os parecer chinelos em seus pés, nada como o confortável sapato que comprará por uma fortuna a tempos atrás. Sujos nas laterais e com a sola desgastada.
Deveria ter escolhido outro para hoje Pensou arrependido. Olhava fixamente para o chão. Perdido em pensamentos que o entretiam do tédio deixado pelo corredor solitário.De repente uma breve sirene tocou nas grandes caixas de som do teto e em questão de segundos, inúmeras portas se abriram com uma multidão a sair. Antes vazio, o corredor agora transbordava de pessoas a andarem de pressa, ecoando seus pesados passos no piso de quartzo branco.

David se levantou do banco de madeira encostado a parede e se misturou à multidão. Não era ninguém além do desconhecido, porém normal, funcionário da fundação em meio às inúmeras pessoas que lhe passavam em direções opostas, quase em empurrões. Por um momento pensou: onde pode surgir tanta gente disposta a ter a responsabilidade de esconder uma fundação secreta? Concluiu então, que talvez o pagamento os atraísse de início, e no fim, a ameaça. Não via a SCP como cruel, mas sabia que não hesitaria em destruir qualquer testemunha que pudesse levar a verdade para além daquelas portas. Era uma questão de tempo.

Olhou para os lados enquanto verificava os botões de seu uniforme preto. Em algumas portas ainda podia ver médicos e cientistas em discussão.
eles tem uma boa razão Pensou a fundação é polêmica, mas necessária. É ela quem mantém a rotina normal dos cidadãos e garante o ceticismo na população. Sem ela, os monstros estariam a solta... E o mundo seria um caos. Assentiu com a cabeça, concordando com a própria reflexão e apertou um pouco mais o penúltimo botão da camisa.

Quando ao dobrar o corredor, ouviu alguém lhe chamar:
- Nível 3!
David olhou em direção e reconheceu Tommy encostado a parede, apoiando as mãos para trás. Sorria de canto, levantando seu bigode fino, o qual puxava com a ponta dos dedos como um hábito de autoconfiança. Usava como todos o uniforme de funcionário, porém acompanhava ao estilo diário, um cap preto da fundação, que escondia seu cabelo curto loiro.

David suspirou, revirando os olhos
Tudo que eu não queria hoje era encontrar esse enxerido! Pensou ele, arrependido de ter voltado. Andou e parou a sua frente, perguntando impaciente:
- o que foi Tommy?
Tommy olhava convencido para ele, parecia sempre notar sua expressão cansada e imaginava como ele fazia  zombaria disso em pensamentos. Tommy sempre o tratará como inferior, tudo por conta de seu nível superior na fundação. Era mais importante, segundo as diretrizes. Por isto o irritante apelido "nível 3" dado a ele. David sabia que Tommy tinha razões de de gabar. Era alguém importante em uma fundação secreta, provavelmente tinha uma vida perfeita fora dela também, mantinha uma boa aparência, apesar de não gostar de admitir que aquele bigode bem cuidado lhe dava um charme. O que lhe confortava, era saber que não era o único a não gostar de Tommy. Como egocêntrico e exibido, ele não era muito amigável. Isso de certa forma, lançava uma vantagem para David. Saber que sua vida não era perfeita já o fazia sentir menos desajeitado.
- parece - começou ele com um sorriso malicioso - que o turno da noite ficou pra você.
David cerrou as sombrancelhas, confuso:
- mas... Achei que tivesse ficado pra você, não?
- eu sei - Tommy respondeu, puxando o bigode com os dedos - mas, sabe, acho que vou estar ocupado esta noite, sabe como é, né? Ah, espera! Você não sabe.
David respirou fundo, tentado evitar a raiva que parecia lhe subir a cabeça.
- olha, Tommy, foi mal, mas não vai...
- ah, qual é, David?! - Tommy o interrompeu irritado - vai dizer que tá com medinho da fundação? É?
- não, óbvio que não, mas...
- então aceita logo isso, cara!
David abriu a boca para continuar, mas Tommy o interviu continuando:
- olha eu aposto que você não vai ter nada pra fazer na sua vidinha chata, e mais: acho que tô até te fazendo o favor de animar tua rotina entediante. então, boa sorte, tá?!
Tommy não esperou a resposta. Deu as costas e seguiu pelo corredor. Deixando David bufando de raiva.
Aquele miserável me usou de novo!
Pensava irritado. Finalmente suspirou, aliviando seu descontentamento e aceitou seu destino.
Hoje a noite será longa
pensou como um comentário vago. Porém,David não sabia ainda, o quanto certo estava.