Começo a virar-me com a intenção de puxar minha cadeira para mais perto da mesa quando mãos brancas como a neve a seguram para mim, levanto o olhar.
- Srta. Clarke - o jovem faz uma mesura com a cabeça, tento parecer indiferente quando ele se abaixa e beija minha mão enluvada. Seus cabelos negros como a noite chamam minha atenção quando caem em sua testa, e os olhos azuis claros e chamativos me encaram com um divertimento misterioso quando ele levanta.
- Senhor Dharma - me viro de costas e me sento sentindo um leve roçar em minhas costas nuas, cobertas apenas pela a fina renda.- obrigada! - sussurro.
- Ao seu dispor, Alteza - sussurra de volta, fazendo meu cérebro me enviar um pequeno aviso de cuidado.
Retiro a tampa de meu prato, o senhor Dharma se senta ao meu lado e troca breves cumprimentos com meu irmão, ele me encara por um tempo antes de tirar a tampa de seu prato e torcer um pouco o nariz. Eu não teria percebido se não tivesse ao seu lado, apenas o examino de rabo de olho e o vejo descansar os talheres na mesa.
- Algum problema, Sr. Dharma?
- Por favor, me chame de Cole!- sem perder a compostura repito a pergunta.
- Algum problema, Cole? - ele sorri, então volta os olhos para o prato, que contém uma sopa de carne bovina.
- Nenhum, senhorita - ele olha desgostoso para a carne mas me lança um sorriso antes de experimentar a sopa. Se eu não estivesse atenta a cada ação sua não teria percebido a careta quase imperceptível do jovem senhor Dharma.
- Sr. Dharma - chamo, ele me olha rapidamente, uma veia saltando em sua têmpora - o senhor não gostaria de uma salada? - pergunto.
- Por favor.
- Uma salada com molho vegetal, por favor - peço para uma das criadas que passam ao meu lado nesse exato momento.
- Obrigada Srta. Clarke, não queria parecer indelicado ao recusar a comida.
- O senhor não está sendo, não se preocupe - a salada chega e a criada leva discretamente o prato com a sopa - quando era mais nova sempre tinha dificuldades com comida.
- De qualquer modo, é muito atencioso de sua parte, obrigada - trocamos um rápido sorriso antes de nos voltarmos para nossos pratos.
Depois disso me ponho muda pelo resto do jantar. Meu corpo está exausto pelo desgaste emocional vivido, e meus pensamentos traiçoeiros não param de irem ao encontro de Henry. Quando já deu o tempo mínimo educado, me despeço e subo até o meu quarto, sentindo o olhar de todos em mim.
Visto minha roupa de dormir e me deito sem sentir realmente sono. Me levanto na esperança de escrever para minha amiga, Rose, mas desisto depois de duas linhas incompletas e torno a deitar. Normalmente, em noites como essas eu fico entusiasmada para receber os convidados. Mas, decorrente de todos os últimos acontecimentos, me sinto triste e numa espécie de torpor.
Dois meses atrás Henry era o centro do meu mundo. Tudo o que eu fazia era feito com ele nos meus pensamentos, e cada roupa usada tinha a intenção de lhe agradar. Até parei de usar peças azuis já que a cor lhe desagradava. Mas eu o amo, e deixaria até mesmo minha família por ele, por meu amor a ele. De todas as coisas que eu tinha a certeza de conhecer nele, nunca passou em minha mente a possibilidade de que um dia ele se casaria com uma garota que não fosse eu. Em suas promessas enamoradas ele me dizia que nos casaríamos e teríamos três filhos: Rebecca, Julie, Heitor. Estava tudo preparado, até ele noivar e deixar todos os três pequenos Holsens com seus cabelos castanhos e os meus olhos verdes. Eles seriam lindos! Se não tivessem sido interrompidos por Felícia e seu noivado.
Agora meus sonhos foram interrompidos, e para voltar a sonhar precisarei de um novo centro.
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O Escurecer
RomanceA história se passa no século XIX, dentro da cabeça de Izabella Clarke. A filha nobre do conde de Gifield. Ao ser trocada pelo o homem que achava que a amava, Izabella se vê obrigada a mudar o seu foco das coisas e começa a frequentar bailes e festa...