~ Capítulo 17 ~

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Dois dias depois do concerto, Iann e eu estamos bem mais próximos. Naquele momento de afeto trocado atrás do palanque, uma espécie de cumplicidade paira entre nós. Quase conto tudo pra ele, quase...

Meus pensamentos estão cada dia mais desesperados. Já tive quatro encontros ontem e ainda tenho dois marcados para hoje, infelizmente nenhum candidato parece realmente interessado em mim. Sir Lawrence, o primeiro candidato de hoje, fez questão de deixar claro o seu desinteresse por mim e sim sua total necessidade do meu dinheiro. Quase o empurro do cavalo que estava, que aliás, era meu cavalo.

Zury termina de trançar meu cabelo, ela passa uma pequena camada de pó em meu rosto e se retira do quarto em silêncio. Olho para o meu reflexo no espelho, eu sou bonita, o suficiente para arranjar um bom partido. Mas em compensação, sou uma desonra como esposa, nenhum homem em sã consciência iria querer se casar com uma mulher que já pertenceu a outro. Enxugo as lágrimas que surdinamente surgiram e amaldiçoou Henry por ter me enganado e me seduzido em suas palavras bonitas, por ter me prometido coisas que não cumpriria.

- Senhorita!- Francis chama, me recomponho rapidamente.

- Sim, Francis?

- Já preparamos a sala de visitas.

- Claro, já estou indo, obrigada.- ouço os passos se afastando. Me olho mais uma vez, seco as lágrimas e sorrio, mascarando assim meus verdadeiros sentimentos.

Saio do quarto e começo a descer as escadas, mais um encontro me espera e esse pode ser que tenha algo de bom. Ordeno minha mente a agradecer a Iann depois por estar organizando isso para mim. Respiro fundo e abro a porta.

As luzes do sol cortam a pequena poltrona posta a entrada o que me distrai momentaneamente, forço a superficie uma cara de garota contente quando avisto Henry me encarando com um sorriso que faz meu peito doer. Pisco algumas vezes pensando se não estou apenas imaginando, mas ele continua ali parado, me encarando.

- Hã...desculpe-me, sr. Housen - começo, olhando disfarçadamente para a porta antes de lançar um olhar espantado para Henry - mas... estou esperando uma pessoa.

- Não, não está.- ele se aproxima, meu coração começa a pulsar e um medo quase palpável me envolve.

- Estou sim, não posso atende-lo, me desculpe. - giro nos tornozelos, sentindo-me daquele jeito que apenas ele me faz sentir.

- A pessoa que está esperando sou eu - ele diz, meus pés param na porta, me viro levemente. Ele me abre outro sorriso, mas dessa vez tenho vontade de ir até lá e arranca-lo de seu rosto presunçoso - Iann me contou que a senhorita estava marcando alguns encontros, então dei um jeito de me incluir na lista.

- Qual o seu problema? Você está noivo, Henry!

- Meu motivo é nobre - começa a se explicar. Só consigo sentir nojo, um gosto amargo preenchendo minha boca - O que achou da minha carta...

E sem dar resposta alguma saio da sala ignorando seus chamados. Encontro Francis no caminho até meu quarto e digo que Henry se enganou ao vir e peço para ele acompanha-lo até a porta. Ele o faz sem hesitar.

Antes mesmo que eu possa chegar até meu quarto as lágrimas já preencheram meus olhos. A dor terrível e avassaladora que sempre me acomete quando eu o encontro volta. Eu a detesto, mas apesar de tudo, ela acabou se tornando minha amiga.

Nesses momentos eu o odeio mais do que odeio a coisa mais odiosa que possa existir. O odeio por ainda me procurar, como se quisesse perfurar novamente a ferida. Como se não quisesse que eu me curasse.

Repito e repito o quanto o odeio. Uma mantra, para esconder que não consigo retirar o amor por ele de meu coração. O odeio tanto que durmo assim, e o assassinato dele aparece em meus sonhos.


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