Bath, Abril de 1878.
— Daniel, onde pensa que está indo? — a voz da Marquesa interrompeu a fuga pelo corredor em frente à sala de estar da Casa Moreland que por um triz não passava despercebida.
Daniel considerou seriamente seguir em frente e fingir que não tinha escutado, mas vinha evitando a família há quase três semanas e seu arsenal de desculpas estava se esgotando, aspirou e exalou longamente o ar e retornou calmamente somente para encontrar três pares de olhos o fitando em expectativa.
— Olá mãe, Alan, Judith, não tinha visto vocês aí — tentou exibir o sorriso mais sincero que podia naquele momento, mas a plateia feminina não ainda não estava satisfeita.
— Nós mal o vimos desde o seu retorno, sempre sai e retorna como um gatuno — Judith se permitiu censurá-lo.
— Judith está certa, não pense que me esqueci da desfeita que causou na minha pequena recepção semanas atrás! Desaponta-me Daniel, justo quando pensei que tinha tudo para ser um filho como Alan — se a Marquesa sabia que aquela era a forma mais eficiente de machucar o filho mais novo ela não demonstrava, pelo contrário, as constantes alfinetadas eram sempre sua arma de escolha.
— Mãe, Judith, por favor, Daniel acabou de retornar ao continente depois de seis anos fora, tenho certeza que ainda está tentando se situar com a vida na cidade e certamente essas cobranças não estão ajudando — Alan interferiu tentando apaziguar os ânimos, sempre o conciliador, mas Daniel percebeu que havia algo diferente no tom de voz e na pele pálida do irmão.
— Alan, o que está errado? Sente-se bem?
— Não se preocupe irmãozinho, só uma dor de cabeça — o sorriso era fraco, mas honesto.
— Ele tem tido dores de cabeça constantes, saberia disso se estivesse aqui — a Marquesa lançou uma última acusação como uma flecha.
— Sinto muito, mãe. Alan tem razão, tem sido difícil voltar quando tudo que conheci por anos foi a vida no mar, mas tentarei melhorar — as palavras queimavam como ácido em sua garganta. Perguntava-se se seria sempre o garotinho buscando a aprovação mesmo depois de todo aquele tempo?
— Somos sua família, não se afaste de nós, lembre-se de como era antigamente — Judith insistia em trazer à tona antigas lembranças que não cabiam naquele momento para logo sentar-se ao lado de Alan segurando sua mão como uma noiva zelosa.
Sentia um misto de angústia causada pelas palavras da mãe e culpa ao lembrar-se dos sentimentos passados pela prometida do irmão, não sabia o que mais todos esperavam dele, já tinham tirado o comando do seu navio das suas mãos e já o tinham obrigado a retornar e enfrentar a felicidade doméstica do futuro casal que sonhara que um dia seria a sua.
— Tenho de ir — soltou em tom fugaz, já se apressando para a saída, não conseguiria manter a postura firme por muito tempo.
— Esteja de volta para o jantar — a voz da Marquesa chegou ao saguão um segundo antes da porta principal bater em um sonoro estampido.
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Como perdoar um Marquês | LIVRO 2 | (PAUSADO)
Ficção HistóricaLivro 2 - Série Laços e Lutas Ele sempre foi a segunda opção da família... Anos após se alistar na Marinha em busca do próprio destino, o Capitão Daniel Moreland recebe um chamado de volta o obrigando a enfrentar tudo que deixou para trás. É em um e...