Como perdoar um Marquês | LIVRO 2 | (PAUSADO)

Capítulo 7

Bath, Abril de 1878.

A Casa Moreland amanheceu naquele dia zunindo como uma comeia em perfeita ordem, em todo canto se escutava o tintinar dos talheres de prata, o fustigar do espanador nas cortinas e passos de criados apressados atendendo a todos os caprichos e ordens da Marquesa, afinal, era o tão esperado jantar de noivado de Alan e Judith, o dia que finalmente iriam formalizar o acordo que fora firmado anos atrás, nada poderia dar errado ou alguém iria pagar muito caro, era o que ela gritava para quem quisesse ou não quisesse ouvir.

Contrariando tudo que pensava que iria sentir quando aquele temido dia finalmente chegasse, Daniel acordou leve como uma pluma e com um ligeiro sorriso nos lábios, tudo que conseguia pensar era em Isabella, ainda mal acreditava no que tinham feito dias atrás, sonhava todas as noites com o quente e delicado corpo delicado sob o seu e despertava na esperança de tê-la ao seu lado nos lençóis. Ela era perfeita, sublime para Daniel e, naquele momento, se dado uma escolha, não mudaria uma só página do passado, não se escusaria de nenhuma dor ou rejeição porque o caminho de pedras que trilhou o tinha levado até seu próprio tesouro e em breve também seriam eles trocando promessas para subirem ao altar.

Já estava planejando uma pequena escapada para se ausentar por algumas horas, temia que toda a movimentação e a voz estridente da mãe o pusessem louco antes da hora do jantar, quando ao passar pelo corredor ouviu vozes vindas dos aposentos do irmão. Alan estava sentado próximo à janela sendo barbeado pelas mãos firmes de seu valete enquanto conversavam tranquilamente sobre assuntos cotidianos, mal parecia um homem prestes a firmar um compromisso pelo resto da sua vida.

— Você pode entrar Daniel — Alan chamou quando o viu espreitando pela porta.

— Como está se sentindo? — tentou avaliar o humor do irmão.

— Aliviado... este dia já foi prolongado por tempo demais — Alan falou com uma voz que soava mais resignada que animada — E você?

— Estou bem, mas hoje é sobre você, não sobre mim — Daniel sabia que tinha de falar algo antes que se arrependesse — Alan, eu pensei que amasse Judith, se está fazendo isso apenas por causa do acordo, se não está feliz...

— Não se preocupe irmãozinho, já fiz minha paz com isso há muitos anos, tudo está acontecendo do jeito que tem que ser. Falando nisso e sua Senhorita Weston? É com ela que tem sonhado acordado e suspirado pelos corredores? Posso ver o brilho nos seus olhos de novo — Alan se aprumou na cadeira parecendo interessado ganhando um olhar de censura do criado.

— Você sabe que um cavalheiro nunca conta seus segredos, mas para atiçar sua curiosidade, acho que em breve não haverá mais Morelands solteiros na cidade... — Daniel se permitiu gracejar aproveitando a leveza do momento e o clima amigável que estavam conseguindo recuperar aos poucos — Tenho que ir sair por umas horas, mas não se preocupe, estarei de volta a tempo.

— Acha que pode finalmente me contar para onde tem escapado durante todas essas semanas? Pode ir Carlton, obrigado — Alan perguntou curioso e dispensando o valete que tinha acabado de dar os toques finais em sua barba.

De pronto Daniel hesitou em contar sobre seu lugar secreto, temia que Alan achasse que ainda estivesse se apegando a lembranças não tão agradáveis do passado, mas após alguns instantes percebeu que o que antes lhe causava desconforto foi pouco a pouco e sem esforço sendo substituído por imagens quentes, intensas e inesquecíveis em sua mente e eram estas que naquele momento queria proteger.

— Na antiga cabana de caça — disse simplesmente sem dar mais detalhes.

— Aquele velho lugar? Nem lembrava que existia mais, faz tempo desde a última vez... — a voz de Alan esmoreceu, provavelmente recordando do pai, o antigo Marquês — Quem sabe uma caçada juntos no fim de semana então?