Capítulo 11

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Bristol, Maio de 1878.

Daniel não podia deixar de se impressionar como quase nada tinha mudado nos seis anos em que tinha permanecido longe de casa, daquelas paisagens, quase como uma pintura idílica congelada no tempo.

Com um toque gentil na cela do cavalo pintado que o tinha acompanhado no passeio daquela manhã, pararam no topo de uma planície de onde podia ver toda a extensão das terras do marquesado. Não pôde deixar de sentir um aperto no peito, sempre tinha amado aquele lugar, cada ala do Castelo, que se irrompia magnífico como um forte, suas torres construídas em pedras acincentadas contando a história de gerações que tinham vindo antes dele quase como um livro a céu aberto de seus antepassados, mas naquele momento que tinha o fardo do título e das propriedades nas mãos tudo que queria fazer é correr o mais longe dali que podia e o mais perto da pessoa pela qual seu coração clamava.

Há pouco tinha conhecido o último dos arrendatários ao sul do Castelo, todos pareciam ter um carinho especial por Alan, a quem tinham como um homem bom e justo, Daniel fez questão de se comprometer pessoalmente com cada um dando sua palavra que nenhuma mudança ia recair sobre eles com a morte do irmão, iria carregar o legado da família em suas costas mesmo que nunca fossem para ser seu e se lembrava daquilo todas as vezes que olhava nos olhos vazios da mãe.

Contudo isso levou tempo, o que tinha pensado inicialmente que seria uma viagem rápida de cinco dias, entre visitas e papéis de advogados, administradores, contadores, banqueiros, quase três se passaram em uma piscar de olhos e quanto mais tempo passava, mais sua inquietação crescia.

Á medida que Daniel se aproximava das escadarias do Castelo podia ver a figura delgada e sóbria de Judith à sua espera, nas últimas semanas aquela tinha sido uma imagem recorrente, ela o tinha esperando retornar para casa com um sorriso sincero e com ofertas de bebidas para se refrescar, Daniel não sabia exatamente como informar para a prima que aquela atitude o deixava desconfortável e tampouco como pedir que parasse, afinal, pensava que a pobre tinha acabado de perder o prometido e em seu sofrimento aquela tinha sido a forma que teria encontrado de compensar a dor, cuidando de Daniel e da Marquesa da melhor forma que podia.

— Daniel, estava ficando preocupada, as nuvens estão ficando carregadas, pode chover a qualquer hora — Judith ralhou assim que saltou do cavalo e entregou ao cavalariço a postos.

— Confie em mim Judith, já enfrentei tempestades que sequer pode imaginar, não me aborrece em nada os chuviscos da Inglaterra — Daniel não podia deixar de se sentir nostálgico ao lembrar vezes em que ele e seus homens quase naufragaram à bordo, tudo parecia tão distante, quase outra vida.

— De qualquer forma não quer pegar um resfriado, não é mesmo? Gostaria de um chá? Trocar dessas vestes enlameadas? Quer que chame uma criada para preparar um banho? — ela insistiu.

— Judith! — Daniel estava prestes a pedir que ela o deixasse em paz, por vezes esteve prestes a mencionar se não estaria na hora de que retornasse para as terras que o pai deixara de herança já que não haveria mais casamento, mas quando ela o olhava inocente como antigamente, quase desiludida, perdia a coragem — Um chá seria bom, obrigado. Chegou alguma carta para mim?

— Sim, tomei a liberdade de colocá-las na biblioteca. Levarei o chá em minutos, eu mesma vou preparar.

Quando ela enfim o deixou, sentiu-se culpado ao sentir alívio imediato o tomar, mas quando mais o cercavam, mais se sentia sufocado, como se estivesse se afogando na tempestade que Judith temia que estivesse se aproximando de Bristol, precisa de instantes a sós com seus próprios pensamentos que não envolvessem o destino da vida de outros sob sua responsabilidade, necessitava achar uma forma desatar os nós que de repente tinham emaranhado os laços que regiam sua própria vida.

Como perdoar um Marquês | LIVRO 2 |  (PAUSADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora