FREQUENTAR ESCOLAS PARA QUÊ?

56 11 9
                                    

Cada vez mais cético quanto à qualidade das instituições de ensino, recebi uma tarefa complicada: ser o orador da turma na minha colação de grau da graduação.

Dos cinquenta e dois alunos que ingressaram no curso, cinco se formaram; a explicação para esses números vem sendo apresentada ao longo deste livro. Eu sabia que a colação de grau não era o momento para lavar a roupa suja, mas apelar ao clichê e ao piegas, recorrentes nesse tipo de evento, seria um desserviço.

Enquanto eu tentava escrever o que recitar, lembrei-me de duas situações vivenciadas nos dois primeiros anos de graduação.

Na aula inaugural, o docente pediu para os alunos se apresentarem; devíamos dizer o nosso nome, de onde viemos e por que optamos por aquela carreira. Havia infinitas possibilidades para justificar a escolha, mas as respostas que prevaleceram foram:

– Pois é a profissão do futuro.

– Porque a atividade está em alta.

– Pois vai dar muito dinheiro.

No ano seguinte, alguns discentes seriam nomeados para representar o curso em uma feira de profissões; havia dois critérios de seleção: não ter reprovações e possuir as melhores notas. Eu não atendia aos pré-requisitos para o encargo, mas dois alunos escolhidos eram meus colegas e compartilharam comigo a experiência que tiveram: ambos sentiram extrema dificuldade de explicar aos visitantes da feira qual era a função de nossa profissão.

As duas situações descritas se encaixaram como uma luva em minha mente:

"É de se esperar que alguém que entra no curso sem um propósito não seja capaz de entender o que a carreira representa a si mesmo ou a qualquer outra pessoa", constatei.

O discente sem propósito estudava, porque queria tirar boas notas; queria tirar boas notas, pois desejava ser aprovado nas disciplinas; desejava ser aprovado nas disciplinas, porque almejava a formatura; almejava a formatura, pois não via a hora de pôr as mãos no tão sonhado diploma.

"Mas seria muito triste se todos os obstáculos vencidos nas escolas e universidades fossem convertidos em um mero diploma", matutei; e, assim, concebi meu texto...


Boa noite a todos!

A colação de grau é uma cerimônia que, ao pé da letra, ocorre para uma turma de formandos, em que eles recebem, oficialmente, o título pelo qual estudaram. O discurso, por sua vez, costuma contar com as experiências vividas pela turma; são relatados aulas marcantes, viagens inesquecíveis, provas impossíveis, momentos engraçados, fracassos e vitórias... compartilhados por todos os alunos? Que estiveram juntos do começo ao fim?

Infelizmente, não; não é bem assim no curso de (nome do curso omitido) da (nome da faculdade omitido).

Há, neste palco, cinco discentes usando becas, mas poucos se lembram que, neste curso, desta universidade, entraram cinquenta e dois alunos por meio do vestibular; discentes tão diferentes quanto os motivos que fazem com que alguns deles, apesar de tantos tropeços, ainda permaneçam com tamanha garra na graduação. Cada um dos cinquenta e dois alunos ingressou na universidade com:

· Um objetivo diferente;

· Uma personalidade diferente;

· Um ritmo de aprendizagem diferente;

· Uma formação básica diferente;

· Uma condição financeira diferente;

· Problemas pessoais diferentes...

Por esses motivos, se eu dedicasse este discurso a uma única turma e exclusivamente aos alunos que vão se formar, eu seria um tremendo insensível. Portanto, esta colação de grau da (nome do curso omitido) da (nome da faculdade omitido) não será, e espero que nunca seja, somente para discentes concluintes; que o evento seja para alunos renitentes, que só vão sair desta universidade quando o objetivo que fez com que eles entrassem for completamente cumprido.

Memórias póstumas de um aluno qualquerOnde histórias criam vida. Descubra agora